Por que é preciso ficar atenta ao consumo de chás que prometem “milagres”

As cápsulas que prometiam efeitos milagrosos atingiram o fígado de Edmara Abreu

Por Sofia Duarte Atualizado em 8 fev 2022, 13h43 - Publicado em 8 fev 2022, 12h43

A enfermeira Edmara Silva de Abreu, de 42 anos, morreu na última quinta-feira (3) depois de passar por complicações de um transplante de fígado feito no Hospital das Clínicas, na cidade de São Paulo, segundo reportagem do G1. Ela foi diagnosticada com uma hepatite, que teria sido causada pelo consumo de ervas para emagrecimento.

Para alertar sobre os perigos que o consumo deste tipo de produto traz para meninas e mulheres, CAPRICHO conversou com a nutricionista Fernanda Imamura, que acredita em uma nutrição gentil e humanizada, para entender o impacto desses produtos que prometem fazer “milagres” e que são divulgados de forma irrestrita nas redes sociais.

“Não é porque um produto é natural que ele não pode ser perigoso. Esse conceito que as pessoas têm de que tudo que é natural é inofensivo é errado, e muitos desses produtos podem ser mais perigosos do que os remédios vendidos pela indústria farmacêutica”, afirma Imamura. Muitos destes itens não passam por regulamentação técnica.

Entre os pertences de Edmara, foram encontrados fracos com cápsulas emagrecedoras que tinham, em sua composição, substâncias como chá verde, carqueja e mata verde. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) declarou que produtos com a marca “50 Ervas Emagrecedor” estão proibidos no Brasil desde 2020, uma vez que não possuem registro e são feitos por empresa que não tem autorização para fabricar medicamentos.

Liliana Ducatti, gastroenterologista do Hospital das Clínicas, publicou um vídeo no Instagram fazendo um alerta sobre o caso de Edmara. “Esses casos são pessoas que não têm problema de saúde e desenvolvem uma falência aguda e gravíssima do fígado e que precisam transplantar urgente, porque, se não, evoluem a óbito.”

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“Na grande maioria das vezes, a causa é medicamentosa. Alguns medicamentos nós sabemos, como anabolizantes, outras medicações, Roacutan por exemplo, mas geralmente são medicamentos que têm uso com acompanhamento médico, exame de sangue para ver como está a saúde do fígado”, explicou. “Neste caso [da Edmara], não havia nenhuma medicação conhecida, mas logo depois os familiares trouxeram uma medicação que a paciente estava fazendo uso. Quando olhamos o rótulo, identificamos diversas ervas conhecidas por fazerem mal ao fígado.”

“Então, nós recomendamos não fazer uso dessas medicações – chá que desincha, chá ‘natural’, ervas… Isso tudo é charlatanismo e são descritos como hepatotóxicos, podendo levar à necessidade de um transplante de fígado”, finalizou.

Assista ao vídeo:

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A nutricionista concorda, e complementa a visão da médica. “Esse conceito que as pessoas têm de que tudo que é natural é inofensivo, não é correto. Muitos desses produtos podem ser mais perigosos do que os remédios vendidos pela indústria farmacêutica. Às vezes, eles não têm nenhum tipo de controle, não passam por testes e nem são aprovados pela Anvisa“, afirma.

E você já deve ter visto vários chás detox aparecendo nas redes sociais, né? Gostar de tomar chás não é um problema, mas Fernanda Imamura ressalta que o consumidor deve estar ciente de que nenhuma chá tem a função de emagrecer. “O emagrecimento é um processo complexo e multifatorial e que depende de várias outras mudanças de médio a longo prazo tanto na alimentação quanto na atividade física.”

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Segundo ela, o chá pode ser consumido dentro de uma alimentação saudável, mas algumas combinações vendidas pela indústria merecem atenção especial. “Eles são combinações de várias ervas e, ainda que eles não tenham uma concentração tão grande como as cápsulas, podem ter propriedades tanto diuréticas quanto laxativas, o que promove a falsa ideia de estar fazendo algum detox no corpo ou até emagrecendo, quando, na verdade, ele só está fazendo com que a pessoa elimine água ou até provoque uma diarreia, o que não é nada saudável”, explica.

Propagandas de chás com fórmulas “milagrosas” feitas por influenciadores, segundo a especialista, promovem um desserviço. “Além de serem produtos enganosos que não cumprem o que prometem, ainda podem estimular as pessoas a consumirem produtos que podem causar prejuízos para a saúde. É ainda mais importante que a gente consiga debater e alertar as pessoas sobre os riscos que esses produtos oferecem.”

Dependendo da quantidade e da frequência consumida, esse tipo de chá pode levar até uma desidratação ou, em alguns casos, até problemas no sistema digestivo, como no caso de Edmara. A especialista faz um alerta para que “nenhum desses chás sejam consumidos como se fossem água”. Ou seja, o ideal é que o chás sejam consumidos sempre dentro de um contexto saudável, sem exageros e sem expectativas de milagres. Combinado?

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