‘Afrobetização’ de Wanessa Camargo causa polêmica nas redes sociais

Muitos internautas afirmam que processo de letramento racial pode virar "desculpa para brancos serem racistas". Entenda a discussão

Por Mavi Faria Atualizado em 29 out 2024, 15h56 - Publicado em 17 abr 2024, 20h52
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ouco antes da final do BBB24, Wanessa Camargo surpreendeu a web ao lançar a música “Caça Like” em resposta ao hate que sofreu ao sair do programa, e também ao afirmar ter iniciado um “processo de afrobetização”. A professora de história e especialista em diversidade e sustentabilidade Carol Sodré, com quem Wanessa está aprendendo sobre “afrobetização”, explicou o termo e seu trabalho com a cantora – e assunto polemizou nas redes.

Em um vídeo postado no Instagram ontem, que foi excluído por ela na tarde desta quarta-feira (17), Carol explicava que a equipe de Wanessa havia entrado em contato com ela para ajudá-la no letramento racial, processo esse que a professora já havia se envolvido em consultorias particulares. Ela conta que, junto com uma equipe de profissionais, percebeu a importância e a responsabilidade desse processo com a Wanessa de “co-construção e projeção dessa pauta tão importante e tão invisibilizada”. “A história que a História não conta, o avesso do mesmo lugar. Quantos de nós tiveram acesso? Quantos de nós tiveram esse acesso negado historicamente? Está na hora de mudarmos isso”, explica.

A consultoria de letramento racial pelo qual a cantora está passando com a ajuda das profissionais a introduz a afrobetização, ou seja, o ensino sob a ótica racial, como explica Carol, que pretende incluir cada vez mais pessoas, tanto que ela já está ofertando um curso gratuito sobre história decolonial.

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“Enquanto profissional, entendo o desafio que é trazer a pauta decolonial para jogo de forma responsável, didática e aprofundada ao mesmo tempo. É uma equação difícil de solucionar, e que eu não tenho a menor pretensão de resolver sozinha. E é a partir dessa premissa que nasce a Afroconsult (que vocês ainda vão ouvir muito de mim). Uma consultoria composta por profissionais de extrema confiança, com muitos anos de mercado e profundidade acadêmica. Nosso principal objetivo é a Afrobetização, conceito que articula passado, presente e possíveis construções de futuro para expandir e democratizar a pauta étnico-racial de forma estratégica para empresas e pessoas”, afirma na publicação.

A ideia pode até parece simples – uma consultoria de letramento racial – mas, na realidade, abrange conceitos, vivências e problemas ainda vivos no sistema social brasileiro. Nas redes sociais, os internautas não receberam com bons olhos a ideia de Carol e o processo pelo qual ela está se submetendo com Wanessa, já que muito afirmam estar ‘dando desculpa para pessoas brancas serem racistas’. No vídeo do Instagram, o perfil @JulieneDábila afirmou que Carol está “dando munição pra branco arrumar mais desculpa. Agora eles tem justificativa ainda maior pro coitadismo: aliados pretos que estão se esforçando pra caramba pra convencer ela do que ela já sabia que era errado mas resolveu fazer em rede nacional”.

Diversos outros usuários concordaram com o comentário de Juliene e outros levantaram o questionamento: É necessário contratar alguém para aprender a respeitar as pessoas? O respeito gira em torno do bom senso”, além de “o que há de decolonial no “”letramento racial”” de uma famosa rica e branca? pergunta sinceríssima”.

No X (antigo Twitter), o perfil @carlosmatheusim levanta outro ponto comentado nas redes, de que o processo de letramento da Wanessa soa como desesperador para limpar a imagem, e não para realmente ensiná-la alguma coisa. Confira outros comentários de usuários sobre o tema:

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Por enquanto, Wanessa ainda não se pronunciou sobre a repercussão. Já Carol publicou uma nota no Instagram onde afirma acreditar “no diálogo e no processo de ensino e aprendizagem para a pauta, sempre”.  “Não é possível cobrar desconstrução de uma sociedade sem apresentar os caminhos possíveis. Sabemos que informações ligadas a uma História Decolonial não são de fácil acesso e interpretação a depender de como é conduzido, por isso me movimento nas redes e fora dela para cumprir esse propósito de democratizar a História, pensando na centralidade desse campo para o combate ao racismo e outras formas de desigualdade. Seja em projetos com figuras públicas e midiáticas, seja dialogando com o cenário corporativo ou em salas de aulas físicas”, explica.

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