As bonecas de Chernobyl: a história por trás de algo que não é só ruína

Elas estão lá por um motivo. Na verdade, por mais de um...

Por Isabella Otto Atualizado em 6 jul 2019, 10h03 - Publicado em 6 jul 2019, 10h03

Você já teve medo de alguma boneca? Achou que ela sairia andando enquanto você dormia? Não sentiu boas vibrações vindas dela? Saiba que isso é mais comum do que você imagina. Existe todo um mau agouro relacionado a bonecas. No México, por exemplo, tem até uma ilha cheia de colecionáveis bastante assustadoras. Mas há também quem diga que as bonecas, na verdade, são responsáveis por afastar espíritos ruins e funcionam como uma espécie de escudo. Independentemente da sua crença, as bonecas abandonadas de Chernobyl estão entre os itens que mais causam arrepios nos que se aventuram em conhecer os destroços do maior acidente nuclear da história.

Boneca que pode ser encontrada em um jardim de infância. Anton Petrus/Getty Images

No dia 26 de abril de 1986, o 4º reator da Usina Nuclear de Chernobyl, localizada na cidade de Pripyat, na Ucrânia, estourou durante um teste de segurança. O núcleo foi afetado e 31 pessoas morreram por causa da explosão, incluindo bombeiros que tentavam apagar o fogo. Milhares de pessoas foram afetadas pela radiação, que contaminou alimentos, o solo, a água e as próprias pessoas, que desenvolveram câncer devido à exposição ao césio-137 e ao iodo-131. Fala-se num total de 200 mil vítimas, muitas delas menores de idade e bebês.

 

Conhecidas como “as crianças de Chernobyl”, as que não morreram perderam todos os pelos do corpo, desenvolveram câncer e leucemia, sentiram (e, as que sobreviveram, ainda sentem) dores terríveis no corpo e tiveram algum tipo de retardo de crescimento e mental. De 1990 a 2011, Cuba recebeu mais de 16 mil pacientes que vieram da Ucrânia, Rússia e Bielorrússia para se tratarem da radiação. 84% desse total era formado por crianças. Hoje, muitas delas tentam a vida em outros lugares, como Portugal, longe da radiação que ainda é emanada pelo local onde a usina explodiu.

Pripyat era um lugar com muitas crianças e, consequentemente, muitas creches e jardins de infância. É por isso que há dezenas de bonecas espalhadas pela cidade, muitas localizadas em lugares estratégicos, como camas de hospitais.

Continua após a publicidade

Boneca que pode ser vista dentro de uma escola na cidade fantasma de Pripyat. Sergiy Romanyuk/Getty Images

Segundo a lenda, muitas dessas bonecas foram deixadas pelas próprias crianças de Chernobyl, que precisaram fugir às pressas de onde estavam, deixando suas fiéis companheiras para trás. Não dá para deixar de perceber que algumas, entretanto, estão posicionadas de maneiras até bastante poéticas. Suponha-se que essas tenham sido ajeitadas pelos próprios agentes de turismo da região e que alguns visitantes tenham deixado outras, em homenagem às vítimas da tragédia.

As bonecas de Chernobyl são significativas porque lembram algumas das principais vítimas do maior desastre nuclear da história da humanidade. Não é simplesmente algo assustador, que deixa o clima do local ainda mais pesado. É claro que tem o lado turístico das colecionáveis sem olhos, queimadas e com membros faltando, mas é mais representativo que isso. Como diz Angèle Mosser, integrante da associação francesa Les Enfants de Tchernobyl, “além dos problemas de saúde, precisamos lidar também com o preconceito que essas crianças sofrem“. Hoje, no mundo, como em Cuba e em Portugal, crianças ainda são tratadas, e acredita-se que cerca de 9 milhões de pessoas ainda morem em áreas contaminadas.

Continua após a publicidade

 

Confira abaixo mais imagens das bonecas de Pripyat:

Uma boneca guardando o sapatinho de sua antiga dona. Offlines/Getty Images
Uma boneca coberta de fuligem e com a parte inferior do corpo faltando. Tommitt/Getty Images
Boneca abandonada em um escola abandonada. Michał Dziekański/Getty Images
Continua após a publicidade

Bonecas colocadas em homenagem às vítimas de um jardim de infância. GLEB GARANICH/REUTERS/Reprodução
Boneca no meio de uma sala cheia de máscaras de gás. Offlines/Getty Images
Publicidade