#CadeOsYanomami: entenda o caso dos indígenas desaparecidos em Roraima

Nesta sexta-feira (6), foi divulgado que os indígenas foram encontrados e que alguns estavam acompanhados de garimpeiros

Por Isabella Otto Atualizado em 6 Maio 2022, 11h26 - Publicado em 6 Maio 2022, 11h25

Na manhã desta sexta-feira (6), Júnior Hekurari, presidente do Condisi (Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana), relatou que os indígenas yanomami que estavam desaparecidos desde a última semana de abril foram encontrados.

De acordo com o líder, eles estavam longe da região de Aracaçá, onde moravam, e alguns estavam acompanhados de garimpeiros. A notícia foi dada pela Folha de S. Paulo e confirmada pelo G1. Por ora, nenhuma outra informação foi divulgada.

Ilustração perguntando onde está os yanomami
Twitter/Reprodução

Na última quinta-feira (5), a hashtag #CadeOsYanomami tomou conta das redes sociais. Potencializada por celebridades, políticos e ativistas pelos direitos dos povos indígenas, ela denuncia o sumiço da comunidade Aracaçá, na área de Waikás, em Roraima, após ação de garimpeiros ilegais na região.

Organizações de povos indígenas trabalham com a hipótese de que a comunidade inteira foi vítima de um incêndio criminoso na região. O caso se tornou público após denúncia de que uma menina Yanomami, de 12 anos, foi estuprada até a morte por garimpeiros que exploram ilegalmente a região. Durante investigação, comunidade não foi encontrada e há rastros de fogo.

Celebridades como a cantora Ludmilla usaram a movimentação para questionar a atenção das autoridades para o caso – assim como a da grande imprensa. “Isso é um absurdo! Uma comunidade indígena inteira sumiu. Por que a Mídia não está falando sobre isso?”, escreveu no Twitter.

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Uma das lideranças indígenas mais importantes do país, Daniel Munduruku, também usou suas redes sociais para denunciar o caso e pedir por justiça.

Mas o que aconteceu?

Em abril, Júnior Hekurari publicou um vídeo denunciando crimes de sequestro, estupro e feminicídio praticados por garimpeiros ilegais na comunidade Aracaçá. Após a denúncia, equipes especializadas chegaram à região, mas a comunidade já não ocupava mais o mesmo lugar.

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De acordo com a denúncia do líder indígena, uma criança de 12 anos foi sequestrada na aldeia quando a maioria dos homens da comunidade estava fora, caçando. A vítima foi estuprada até a morte e seu corpo só foi encontrado alguns dias depois por moradores.

Hekurari ainda conta que os garimpeiros levaram também uma mulher adulta e uma criança de 4 anos. Ambas foram jogadas no Rio Uraricoera. A mulher conseguiu fugir, mas a menor de idade veio a óbito. O corpo ficou desaparecido no rio por alguns dias até ser encontrado.

“É muito triste que esteja acontecendo isso com o meu povo”, desabafou o líder Yanomami no vídeo. Assista:

O que dizem as autoridades sobre o ‘sumiço’ dos indígenas?

Equipes integradas e especializadas da Polícia Federal, do Ministério Público Federal (MPF), da Funai (Fundação Nacional do Índio) e Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) viajaram até a região de Waikás para investigar as denúncias. A Força Aérea Brasileira também participou da operação, segundo informações do Governo Federal.

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As versões das equipes, no entanto, são divergentes. Em nota oficial, o MPF afirmou que “não foram encontrados indícios materiais da prática dos crimes de homicídio e estupro ou de óbito por afogamento” mas que continuavam “em diligência em busca de esclarecimentos”.

Já o Condisi diz o contrário. Júnior Hekurari, que acompanhou as buscas, informou que, na realidade, quando chegaram à aldeia, ela não mais existia. Além do povo ter sumido, havia marcas de que um incêndio ocorrera. A denúncia suscitou uma onda de comoção na internet com a campanha “Cadê os Yanomami”.

“Alguns lideres Indígenas se reuniram e analisaram as imagens da comunidade queimada e relataram que, conforme costume e tradições, após a morte de um ente querido a comunidade em que ele residia é queimada e todos vão para outro local“, informou o Condisi para a CNN.

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A organização ainda afirma que algumas testemunhas relataram ter sido coagidas por garimpeiros e que ouro foi oferecido em troca do silêncio. Por isso, a entidade não descarta hipótese de um incêndio criminoso. Para Hekurari, os moradores estão vagando pela floresta até encontrarem um local mais seguro para se estabelecerem novamente.

Foto aérea de uma região desmatada da Amazõnia
Região de garimpo ilegal registrado em Papiu, Roraima Ricardo Funari/Brazil Photos/LightRocket/Getty Images

O que é o garimpo ilegal?

Durante as buscas das equipes na área de Waikás, em Roraima, foram encontrados um entreposto e um posto de gasolina clandestinos, que foram incendiados na tentativa de dispersar os garimpeiros ilegais da região – só que essa história toda não é de hoje.

De acordo com a Hutukara Associação Yanomami, o garimpo ilegal ocorre em terras Yanomami desde os anos 80; esta prática é uma das principais causas do desmatamento.

Só em 2020, ele destruiu 73% de áreas protegidas, segundo estudo realizado pelo Greenpeace. Hoje, estima-se que mais de 20 mil garimpeiros ilegais atuem em terras Yanomami, que corresponde à maior reserva indígena do Brasil.

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O que está sendo feito?

Nesta quarta-feira (4), uma equipe de parlamentares do Senado e da Câmara dos Deputados viajará para Boa Vista (RO), para apurar as denúncias. “Essa é uma resposta do Parlamento. A todos os instantes nós vemos, nos noticiários, cada vez mais se tornar grave a violência nas terras indígenas. Existe um apelo da sociedade brasileira para que responda as denúncias recentes de #CadeOsYanomami?”, disse a deputada Joênia Wapichana (Rede-RR).

A Polícia Federal também divulgou que vai instalar uma base no local cujo principal intuito é fiscalizar e frear as atividades de garimpo ilegal. A Comissão de Direitos Humanos do Senado aprovou um pedido do senador Humberto Costa (PT-PE) para que haja a realização de diligências externas para apurar as denúncias sobre o garimpo ilegal em reservas indígenas.

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É interessante destacar que nem todo garimpo é ilegal. Entretanto, o praticado em Roraima, por exemplo, ocorre 100% na ilegalidade, pois é realizado dentro de terras indígenas. A falta de fiscalização e os projetos de lei que defendem a legalização da atividade em áreas protegidas estimulam não só as invasões e o desmatamento, como todos os crimes e as violências já citados anteriormente.

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