Cecilia Madonna Young abre seu diário a jovens que buscam acolhimento

A filha de Fernanda Young, de 23 anos, propõe conversa sobre a dor de ser jovem em seu primeiro livro 'Tudo o que posso te contar'

Por Juliana Morales Atualizado em 29 out 2024, 16h04 - Publicado em 16 mar 2024, 10h00
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olheando seu diário, Cecilia Madonna Young, 23 anos, viu a chance de ter “algo que pudesse conversar com a dor que é ser jovem“. E assim o fez ao publicar seu livro de estreia: ‘Tudo o que posso te contar’. Nele, a jovem resgata seus escritos dos últimos anos e compartilha com os leitores desde sua obsessão por filmes, músicas e artistas, como Taylor Swift, até seus pensamentos mais sombrios sobre depressão, ansiedade e anorexia nervosa. 

“Primeiro, eu senti vergonha alheia de mim mesmo ao reler meus diários. Depois fiquei com medo de que as pessoas achassem que eu era metida ou que me sentia a dona da verdade por pensar em publicá-los”, confessa em entrevista à CAPRICHO. Mas a parte mais difícil de tudo isso, segundo ela, foi a decisão de incluir no livro a parte que fala da sua mãe – a atriz, escritora, roteirista e apresentadora Fernanda Young – e como foi devastadora sua morte repentina em agosto de 2019.

A ideia de tornar seus registros públicos surgiu do Pedro, um amigo da faculdade para quem ela faz questão de dar os créditos na entrevista com a CH. E o projeto foi começando a fazer sentido aos poucos para Cecilia, que é formada em Jornalismo. “Eu apresentei uma coletânea dos meus diários em uma aula e o professor começou a chorar. Aí percebi que podia emocionar as pessoas”, conta. Os textos viraram o trabalho de conclusão de curso, o famoso TCC, e depois ainda se transformou no livro publicado pela editora Record.

O medo da garota em relação às partes que falavam do luto pela morte de sua mãe tinha a ver com a reação dos fãs de Fernanda Young. A mãe escreveu livros, apresentou programas e foi roteirista de série. Um de seus trabalhos mais famosos foi ‘Os normais’, série assinada em parceria com o marido Alexandre Machado, o pai de Cecilia. “Eu tenho medo de que alguns fãs passem dos limites e achem que eles podem comentar coisas que eles não podem, na verdade”, explica a jovem, que muitas vezes deixa até de postar uma homenagem para a mãe nas redes sociais para “evitar ler coisas horrorosas”.

Quando se tem pais conhecidos as comparações são inevitáveis e as pessoas sempre tentam achar traços e aspectos semelhantes. Cecilia ri ao contar que sempre fala que herdou a pior parte dos pais. “Eu peguei todas as doenças mentais deles para mim”, diz. “Mas meu pai sempre briga comigo e fala para eu parar de falar isso, porque eu também peguei a cabeça deles e que essa é a melhor parte”, pondera.

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Na entrevista com a CH e nas mais de 300 páginas de seu livro, Cecilia fala sobre o quanto crescer é difícil. Em um dos trechos retirados do diário, ela escreve que “crescer dói”. E a dor de tornar-se jovem, para ela, é ter que viver coisas que você nunca viveu e, muitas vezes, sozinha. “Não dá mais para sair chorando quando algo acontece e esperar que os pais resolvam para você”, diz.

Ser jovem é perguntar ‘é isso que é a vida adulta então?’

cecilia madonna young

Durante boa parte da adolescência, Cecilia precisou lidar com muitas dessas dores. Seus pensamentos agitados por conta da ansiedade, o peito apertado da depressão e uma relação péssima com o espelho, que resultou em distúrbios alimentares e ódio ao seu próprio corpo. Antes dos 20 anos, ainda precisou suportar a pior dor: a de perder “quem dava sentido a tudo”. Tudo isso ela conta no livro, sem tabu, com uma dose ácida, sarcástica e, sempre que possível, com bom humor. E mostra o quanto é complicado “lidar com problemas adultos sem ter vivido a juventude”.

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Para Cecilia, a juventude é ambígua. Como que a fase em que mais estamos em contato com pessoas é um período tão solitário também? “Eu não sei se é porque sou uma pessoa que me compara com tudo e todas a todo momento, mas sempre que estava perto de muita gente, eu me distanciava e pensava: ‘nossa, eu mereço estar aqui?’ ‘eu me identifico com essas pessoas?’ ‘e elas se identificam comigo?'”, explica. Ela continua: “acho que é um momento que você está tentando se encontrar, mas também que está entrando em contato com muita gente”.

No próprio livro, Cecilia nega qualquer título a ela como a “voz da geração”, mas diz que abrir seu diário, algo tão íntimo, é também uma forma de servir acolhimento. “Acho coerente e necessário que jovens perdidos que estão perdidos entrando na vida adulta busquem esse vínculo. Não falo do contato humano na delicadeza da solidão. Sobre saber que suas “estranhezas” não são tão absurdas ou anormais”, escreveu logo na introdução.

A todos os jovens que leem a CAPRICHO, ela deixa uma mensagem: “Contem comigo, vocês não estão sozinhos. E mesmo que a gente não tenha uma conversa, tem um monte de filmes, músicas e séries que posso indicar. Mesmo que pareça, todo mundo está junto”.

 

 

 

 

 

 

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