Como é estagiar no Projeto Tamar e ajudar a salvar tartarugas

Conversamos com duas estudantes que fizeram estágio na organização que já devolveu mais de 35 milhões de tartarugas para o mar

Por Thais Varela Atualizado em 8 Maio 2018, 08h06 - Publicado em 6 Maio 2018, 11h19

Fundado em 1980, o Projeto Tamar ajuda a proteger as cinco espécies de tartarugas marinhas presentes no Brasil – todas ameaçadas de extinção. Trabalho de campo, educação ambiental para turistas e conscientização das comunidades locais fazem parte das atividades da instituição, que é um dos maiores projetos de proteção ambiental do mundo!

Projeto Tamar/Divulgação

Presente em 26 localidades do Brasil, o Projeto Tamar acolhe vários estudantes ao longo do ano para estágios voluntários. Durante o período da experiência, os alunos podem vivenciar o dia a dia dos profissionais e ver de perto como funcionam as atividades de conservação das tartarugas. Incrível, né? Para saber mais sobre esse trabalho tão legal e importante para o meio ambiente, a CAPRICHO conversou com duas estagiárias do Tamar.

O trabalho de cada uma das unidades nem sempre é igual. Por isso, antes de pensar em se inscrever para um estágio na instituição, a dica é que o estudante pesquise no site oficial do projeto quais as atividades principais de cada local. A paulista Vitória Scrich, de 23 anos, cursa Biologia na Universidade de São Paulo e se candidatou para o estágio no Tamar de Ubatuba, no litoral do estado. Lá, ela trabalhou durante um mês e realizou um sonho que tinha desde o começo da graduação. “Eu sempre ouvi falar muito sobre o Projeto durante a faculdade e sonhava em participar”, disse.

Por frequentar a universidade em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, Vitória optou por trancar um semestre do curso para se dedicar somente aos estágios: “Preferi deixar os estágios para o final da graduação e fiz a inscrição para o Tamar em novembro de 2017. Em dezembro, recebi a resposta de que fui aprovada e comecei a me preparar para ir para Ubatuba. O Projeto disponibiliza alojamento para os estagiários e também dá uma lista com itens de uso pessoal e para o trabalho que vamos precisar. Tudo muito organizado”.

Vitória durante trabalho de campo em Ubatuba. Arquivo Pessoal/Reprodução
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Nem sempre é fácil mudar para outra cidade para poder participar de um projeto profissional e é necessário ter uma conversa séria com os pais para explicar como funciona o programa e como será a experiência. “Meus pais sabiam que eu queria muito conhecer essa área de biologia marinha e até, quem sabe, me especializar nela. Conversei com os dois e eles ficaram contentes por mim. Combinamos inclusive deles irem me visitar e eles adoraram me ver trabalhando quando estiveram por lá”, contou a estudante.

A questão financeira também é muito importante, já que o estágio é voluntário e oferece apenas a acomodação para os alunos. Para Mariana Melo Moreira Lima, de 21 anos, que estagiou em duas unidades diferentes do Tamar, foi preciso conversar com a família para entender se eles teriam condições de ajudá-la por um período maior: “Meus pais me apoiaram bastante e a questão da distância não foi um empecilho, porque nós já moramos longe há alguns anos. Conversei com eles sobre dinheiro e eles disseram que tinham condições de me bancar durante esse período”. Para ajudar a economizar durante o estágio, Vitória contou que ela e os outros estagiários faziam as refeições no alojamento e dividiam as compras de mercado: “Éramos em 7 estagiários e morávamos todos juntos. Nós optamos por cozinhar o almoço e o jantar, assim a gente economizava e ainda ficávamos mais próximos e mais amigos”.

Tartaruga na praia de Ubatuba. Arquivo Pessoal/Divulgação

Mariana cursa Ciências Ambientais na Universidade Federal do Ceará e fez dois estágios no Projeto Tamar, um na unidade da Praia do Forte, na Bahia, e outro em Sergipe. Ao todo, a estudante ficou quatro meses trabalhando com a conservação das tartarugas e aprendendo diferentes atividades: “O Tamar da Praia do Forte possui um centro de visitantes bastante popular e eu trabalhava lá durante alguns dias. Eu e outros estagiários ajudávamos no cuidado com os animais, no manejo do ‘Submarino Amarelo’ [que é uma das atrações] e orientávamos os turistas. Quando eu estava na Bahia, era o início do período reprodutivo das tartarugas, então nós não fazíamos tantas atividades de campo, mas, conforme a temporada de desova foi avançando, a gente começou a participar também dessas ações”.

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A unidade do Tamar na Praia do Forte fica na rota de desova das tartarugas e os voluntários e funcionários do Projeto auxiliam na proteção dos ninhos para que os filhotes nasçam em segurança. “Nós participávamos das ‘tartarugadas’, que é quando a equipe ia para as praias durante a noite para acompanhar as tartarugas desovando. Depois, a gente voltava entre 5 ou 6 da manhã para marcar os ninhos, fazer o monitoramento dos ovos e ir acompanhando até o nascimento das tartaruguinhas”, disse Mariana.

Mariana realizando a biometria de uma tartaruga durante ‘tartarugada’ em Ponta dos Mangues, Sergipe. Arquivo Pessoal/Reprodução

Lá em Ubatuba, Vitória também participava do monitoramento do centro de visitantes da unidade e explicava para os turistas sobre como funciona o Tamar e a conservação dos animais marinhos: “Minha principal atividade era atender os visitantes e tirar as dúvidas. Uma vez na semana eu ia para a área de reabilitação, que é onde as tartarugas que chegam de resgates são tratadas. Lá, tínhamos contato direto com os animais e aprendíamos a dar banho, tirar sangue e ver o que eles precisavam. O trabalho de campo ocorria quando os pescadores acionavam o Tamar para avisar que uma tartaruga tinha ficado presa nas redes de pesca. Então, nós íamos até o local e fazíamos o resgate”.

Durante o seu segundo estágio no Tamar, Mariana tinha como responsabilidade além das atividades técnicas, um trabalho de conscientização com a comunidade local: “Em Sergipe, as bases do Tamar ficam em comunidades menores e o Projeto tem um trabalho muito legal com a população de ensinar sobre a importância da conservação das tartarugas, o que os pescadores devem fazer caso algum animal caia nas redes de pesca e de educação ambiental como um todo”.

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Mariana alimentando tartarugas no Centro de Visitantes da Praia do Forte, Bahia. Arquivo Pessoal/Reprodução

Quando os estudantes chegam ao Tamar para iniciar o período de trabalho, eles passam por três dias de treinamento intensivo para entender tudo sobre o projeto, as atividades que eles farão por lá e saber mais sobre as tartarugas. A vivência prática da profissão e a oportunidade de conviver com pessoas diferentes traz muitos aprendizados importantes para o currículo e para o amadurecimento pessoal.

“Meu conselho é para que se as pessoas tiverem a oportunidade de participar de um estágio voluntário, que não deixem de fazer. No início, eu fiquei com medo de ir e passar quatro meses fora, mas foi uma experiência muito enriquecedora. Eu aprendi a lidar melhor com as pessoas, sai da minha zona de conforto e vivi várias coisas diferentes. Por isso, não tenham medo de arriscar”, finalizou Mariana.

Para Vitória, além de todo o benefício profissional e pessoal, o período no Tamar trouxe também esperança: “Muitas pessoas se emocionavam durante a nossa explicação sobre as tartarugas. É gratificante ver que elas se importam, porque isso é essencial para que a conservação dos animais seja efetiva. As tartarugas que cuidamos no Tamar estão ameaçadas de extinção e se hoje elas estão se recuperando, grande parte é pelo trabalho de conscientização“.

Veja mais informações sobre o Projeto Tamar e como se inscrever para o estágio voluntário no site oficial tamar.org.br.

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