Continua após publicidade

Delírio de Coringa e Arlequina é um transtorno psicótico real

O Folie à deux é uma condição em que uma pessoa com psicose consegue influenciar pessoas ao seu redor a adotarem a crença delirante

Por Mavi Faria Atualizado em 29 out 2024, 15h16 - Publicado em 5 out 2024, 13h00
C

oringa 2 estreou nos cinemas nesta quinta-feira (3) e, nos últimos dias, o longa tem sido duramente criticado pelos números musicais excessivos e a qualidade da obra como um todo. A nova produção apresenta a continuidade da história do primeiro filme com o acréscimo da personagem de Arlequina, interpretada por Lady Gaga.

Na nova trama, ela e Coringa, interpretado por Joaquin Phoenix, se conhecem em uma prisão psiquiátrica e vivem uma história de amor e loucura. Essa informação não só já mostra o que o musical tem a entregar, mas também é o que justifica o título do filme, no original, “Joker: Folie à Deux”, que no português foi traduzido para “Coringa: Delírio a Dois”.

Contudo, o delírio no caso não é só metafórico ou restrito ao filme, ‘folie à deux’ é o nome de um transtorno psicológico que designa, como no caso da ficção, quando duas ou mais pessoas, em geral próximas, compartilham a “loucura” e os delírios.

Continua após a publicidade

A folie à deux, segundo o médico psiquiatra e pesquisador no Centro de Pesquisa e Análises Heráclito (CPAH), Flávio H. Nascimento, não é um transtorno por si só, como a depressão, mas sim “uma forma de psicose compartilhada, onde uma pessoa com uma forte influência transmite suas crenças delirantes para outra“.

O delírio a duas ou a mais pessoas é viabilizado quando quem sofre a psicose e os outros ao redor possuem uma relação de dependência, influência e proximidade intensa. E, quando as pessoas acamadas ao redor “adotam a crença delirante sem questionar”, ela pode causar isolamento social e paranoia.

O médico psiquiatra explica que folie à deux é um transtorno recente que ainda não foi completamente compreendido, embora já se saiba que ele e seus delírios, paranoias e comportamentos incomuns derivados possam ser justificados por “predisposição genética, idade avançada, inteligência baixa, comprometimento sensorial, doença cerebrovascular e abuso de álcool”.

O especialista também explica que o transtorno não acontece com todas as pessoas que convivem intimamente com alguém em psicose, mas, “em relações familiares ou amorosas que convivem em isolamento ou sob intensa pressão emocional” – principalmente quando uma dessas pessoas, mais influenciadora, sofre com delírios, e as outras tendem a ser mais influenciáveis.

O contato físico e a proximidade entre quem teve o delírio inicial e aqueles que acreditaram nele é um dos principais fatores para a permanência do transtorno nessas pessoas e, por isso, o afastamento é a primeira conduta em um tratamento. “Ao isolar a pessoa induzida da influência do indutor, os delírios costumam desaparecer, mas cada caso deve ser tratado de forma adaptada”, explica o psiquiatra Flávio.

No filme, os delírios de Coringa são passados a Arlequina, que convive uma relação de dependência e de delírio a dois entre eles. Apesar da representação do transtorno, o médico psiquiatra lembra que em produções cinematográficas da ficção, o transtorno costuma ser exagerado e mais dramático, logo, é preciso buscar também outras fontes de informações.

E você, já conhecia o folie à deux?

Publicidade