Hábitos alimentares no BBB22 e a normalização de dietas restritivas

Especialistas analisam comportamentos possivelmente problemáticos dos participantes e a repercussão deles dentro e fora da casa mais vigiada do Brasil

Por Bruna Nunes Atualizado em 7 fev 2022, 13h26 - Publicado em 6 fev 2022, 10h01

Contar exageradamente as calorias, banir alimentos que você gosta do cardápio, compensar uma refeição exagerada com exercícios excessivos, fazer jejum. Quantas dessas ações estão enraizadas em nossa estrutura social? Principalmente na cultura do “corpo ideal”, que normaliza atitudes como essas, afinal, elas são necessárias para atingir e manter esse ideal corporal, certo? Mas quer descobrir um segredo? Isso não é saudável. Tanto não é que ações como essas fazem parte da rotina da participante do BBB22, Bárbara Heck, e a situação acendeu um sinal de alerta em especialistas e no público. É importanter deixar evidente que esta matéria não é um ataque à sister ou um diagnóstico à distância, mas uma conversa necessária sobre a romantização das dietas restritas.

A participante do Big Brother Brasil, Bárbara Heck, está sentada no gramado, chupando a fruta limão. Ela é branca, dos olhos azuis e cabelos loiros.
TV Globo/BBB22/Reprodução

Pelo visto, alimentação disfuncional virou pauta nesta 22ª edição do Big Brother Brasil. De um lado da casa, temos Arthur Aguiar, que teve a alimentação considerada exagerada em alguns momentos e não agradou muito sua esposa, Mayra Cardi, também conhecida nas redes sociais como “coach de emagrecimento”. Ela ficou chocada com o marido comendo pão. Em um vídeo, que diz ser brincadeira, ela reclama: “Você acaba de destruir todo o trabalho que fiz no seu corpinho”, e chega a compartilhar uma conversa com uma amiga, comparando a ação do ator a uma traição de suas traições. Em uma espécie de alívio cômico, a história acabou virando meme: “O Arthur, na verdade, fugiu para conseguir comer”. Apesar da brincadeira, o comentário de Mayra continua sendo problemático.

Vamos lembrar que não é a primeira vez que um discurso dela traz preocupação por um motivo: o quanto essas restrições podem ser a porta de entrada para possíveis distúrbios/transtornos alimentares? Quantos gatilhos essas brincadeiras podem gerar? Tirando aquelas pessoas que possuem algum tipo de intolerância, alguém deveria se culpar por comer algo, ainda mais de vez em quando?

Enquanto Arthur tem “episódios de comilança”, do outro lado da casa mais vigiada do Brasil (importante salientar isto), temos Bárbara. Ela, que é magra e se encaixa no que insistem em chamar por aí de padrão estético, “corpo ideal” ou “corpo de modelo”, tem diversos episódios preocupantes, como: pular refeições, suprir a fome ou aliviar a culpa por ter comido algo mais calórico chupando limão, exagerar um pouquinho e dizer que “não passaria pela porta”, ficar em jejum e não sair da academia depois das festas.

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Sua dieta cotidiana e alguns comportamentos em relação a sua alimentação e seu corpo corpo despertaram a preocupação da galera da internet e de seus colegas de confinamento, que tentaram conversar com a participante. Alguns internautas e profissionais da saúde até cogitam um possível transtorno alimentar, principalmente depois de Heck ter ficado tão irritada com os colegas quando estes questionaram sua alimentação, chegando a ter uma crise de choro. 

A psicóloga Vanessa Gebrim ressalta que não devemos diagnosticar ninguém, mesmo que seja bom se atentar aos sinais. “Não conseguimos afirmar que ela tem um transtorno só pelo que vemos no BBB. No caso de um possível distúrbio, a pessoa nem precisa emagrecer, mas sempre está fazendo dietas muito rigorosas, porque está com autoimagem distorcida. É importante ficar de olho se a pessoa está obcecada com sua relação com a comida e com a aparência. Isso pode ser um sinal de descontrole”, explica.

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Nutricionistas se demonstraram preocupados não só com a saúde da Bárbara, mas também com a exposição dessas dietas tão restritivas em rede nacional. Não à toa, o BBB é chamado de “casa mais vigiada do Brasil”. O programa conta com milhões de telespectadores! “A partir do momento em que a produção do programa vê uma participante com possível transtorno e não intervém, ela passa a validar esse tipo de comportamento e essa informação é entendida pelos telespectadores, que começam a achar que está tudo bem ficar horas e horas sem comer”, garante a nutricionista Priscila de Andrade (@toquedenutricão), que teve seus tweets comentando sobre o assunto viralizados.

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Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 4,7% dos brasileiros sofrem com transtornos alimentares. Quando o assunto é a população jovem/adolescente, o número chega a 10%. Isso só em casos diagnosticados, viu? A psicóloga Vanessa explica que, durante essa fase, o individuo está se encontrando e a vulnerabilidade emocional é um gatilho para o descontrole alimentar. A influência da mídia nisso tudo é um alerta! “Não dá pra colocar a culpa no desenvolvimento de TAs na mídia, mas a indústria da dieta certamente lucra com isso, pois quem não quer comprar o ‘chá diurético perca X kg’ que viu na propaganda do canal no YouTube?”, questiona a nutricionista Priscila, que também pontua que esse não é um problema novo.

A especialista lembra relembra que em redes sociais mais antigas, como Orkut e Tumblr, já existiam comunidades que romantizavam distúrbios em prol do emagrecimento, como uma maneira de atingir o corpo estampado pelas famosas. Comunidades como “Uma maçã por dia e emagreça com alegria” não eram raras. 

A equipe de Bárbara Heck lançou uma nota se pronunciando sobre a alimentação da participante. “A gente conhece ela aqui fora e este comportamento está normal. É triste ver tanto discurso de ódio, julgamento e diagnósticos sem responsabilidade. Ainda que ela tivesse algo, não acreditamos que esta é a melhor forma de demonstrar preocupaçã. Nosso posicionamento é: Bárbara está sendo pressionada porque tem gostos e hábitos diferentes. Ela fez uma prova de resistência, nunca passou mal e nem sequer demonstra indícios de qualquer comportamento deste tipo. É muito ativa no jogo e nas provas, sendo inclusive reconhecida por sua inteligência emocional”.

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Uma publicação compartilhada por Bárbara Heck (@ba.heck)

Realmente, é preciso ter atenção na hora de abordar tal assunto, pois há diversos gatilhos que podem ser ativados. É preciso tomar cuidado para não ser invasivo na hora de intervir, mas também é preciso ter cuidado para não normalizar certos comportamentos. Precisamos entender o fato de que essas dietas são perigosas. Nas palavras da Priscila: “Dietas restritivas não são saudáveis, pois o próprio nome já diz que restringem nutrientes e energia que precisamos diariamente. Toda dieta restritiva é um gatilho. Elas estressam nosso corpo e, quando são associadas a outros fatores (como predisposição genética, alteração na percepção da sua da imagem corporal, baixa autoestima, entre outros), propiciam o aparecimento da doença e, muitas vezes, nem a vítima percebe que caiu nisso”.

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A preocupação se estende aos hábitos alimentares de Arthur Aguiar e aos posicionamentos de Mayra Cardi. Assim como Bárbara, ela está sendo assistida por milhares de pessoas, que, às vezes, se baseiam somente em situações e falas que viram na TV ou internet para validarem seus comportamentos e não perceberem os riscos. Ambas possuem equipes médicas. A maioria da população, não.

Se você se identificou com algum desses comportamentos e percebeu que sua saúde pode estar em risco, não hesite em buscar ajuda. Se você percebeu esses comportamentos em alguém, não hesite em tentar abrir um diálogo que seja acolhedor e buscar profissionais qualificados, como psicólogos, psiquiatras e nutricionistas.

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Uma publicação compartilhada por Luiza Mattar – Couve 🥬 (@oquehouvecomacouve)

 

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