LGBTfobia não é culpa do signo: DAY fala sobre novo EP e aceitação de Deus

"Quando eu entendi que, se Ele deixasse de me amar, deixaria de ser Deus, pude finalmente ser livre para me aceitar"

Por Isabella Otto Atualizado em 9 jul 2020, 18h54 - Publicado em 8 jul 2020, 14h10

Aos 25 anos, DAY acaba de lançar seu trabalho mais recente, o EP A Culpa é do Meu Signo, que estreou no dia 19 de junho, no mês do orgulho LGBTQI+. Coautora de sucessos, como a música Complicado, hit de Vitão e Anitta, e com milhões de visualizações no Youtube, é fácil pensar que ela está satisfeita. Desde que participou da 6ª edição do The Voice Brasil, em 2017, sua carreira despontou a nível nacional e os trabalhos não pararam de chegar. Contudo, em seu lançamento, a cantora fala justamente sobre o medo de envelhecer e as frustrações que vêm com a idade. “Compor esse trabalho foi muito difícil, mas foi uma sessão de descarrego. Falei sobre eu estar envelhecendo e não estar onde eu achava que deveria, e também sobre a questão Deus X sexualidade. Eu precisava muito botar pra fora“, disse em entrevista para a CAPRICHO.

DAY DAY/Divulgação

O nome do EP é irônico e culpa a astrologia por alguns desses questionamentos, mas definitivamente não dá para culpar os signos por tudo. Geminiana, DAY está em constante transformação e muda bastante de ideia, mas algumas coisas não são achismos. Preconceitos, por exemplo, não podem ser justificados usando “na minha opinião” ou o mapa astral. Foi na época do reality transmitido pela Rede Globo que ela começou a receber ataques LGBTfóbicos. A compositora, nascida em Goiânia, acredita que isso aconteceu porque ela saiu da sua bolha e passou a ter uma projeção nacional. “Se eu sair do ambiente onde vivo, e me sinto abraçada e amada, vou ver que ainda existem pessoas preconceituosas, homofóbicas, escrotas e ignorantes, a melhor palavra que existe para definir essa gente. Se isso rolasse hoje de novo [os ataques que recebeu durante a participação no The Voice], porque rolaria, minha resposta seria diferente. Eu diria: ‘Essas pessoas que lutem para me engolir, porque eu vou existir, eu vou estar nesses lugares’“, falou.

 

Foi aos 19 anos que DAY finalmente conseguiu se aceitar lésbica sem carregar a culpa de que estava cometendo um pecado e que iria para o inferno por não ser heterossexual. “Meu processo de aceitação foi muito complicado, porque é difícil se desprender desses ensinamentos que passam pra gente. Quanto mais eu fui aprendendo e conhecendo o amor de Deus, mais eu fui vendo que essas afirmações não faziam sentido e iam contra quem eu realmente acreditava que Deus fosse. Quando entendi que, se Ele deixasse de me amar, Ele deixaria de ser Deus, pude finalmente ser livre para me aceitar“, disse a cantora, que, desde que fez as pazes com sua sexualidade, nunca deixou de fazer nada por vergonha de ser lésbica, como pode parecer que está subentendido nas faixas Paradoxal e Metamorfose. “Eu trato minha sexualidade com muita naturalidade hoje, tenho muito orgulho de ser quem eu sou. Essas coisas que eu deixei de fazer não têm nada a ver com minha orientação sexual, têm a ver com minha carreira e com o que canto ou deixo de cantar”, explicou.

Além da LGBTfobia, as mulheres lésbicas precisam lidar com a hipersexualização de seus corpos. DAY lamenta que essa questão seja bastante real e problemática. Na maioria das vezes que sai na rua com sua namorada, a também cantora Carol Biazin, escuta comentários de “caras que não sabem se respeitar e respeitar os outros”. Ela confessa que não ainda não descobriu a melhor maneira de lidar com isso e que gostaria que essas pessoas se engasgassem com a própria ignorância.

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Nesta quarta-feira, às 20h, a cantora faz sua primeira live em seu canal oficial do Youtube. DAY cantará seus maiores sucessos da carreira e hits do EP autobiográfico, como Jurei Que Não Ia Falar de Amor, uma de suas músicas favoritas do novo álbum. Todo o dinheiro arrecadado será doado para instituições que apoiam a causa LGBTQIA+.

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