O que é ser emocionada e por que essa não é uma característica ruim

Luana Carvalho, do podcast 'O bom mesmo é ser emocionada', fala sobre amor e intensidade em entrevista à CAPRICHO

Por Juliana Morales Atualizado em 29 out 2024, 15h19 - Publicado em 21 set 2024, 13h00
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ma mulher que fala de amor é suspeita, já diria bell hooks em seu livro ‘Tudo sobre amor’*. Segundo a autora, teórica feminista e ativista antirracista estadunidense, “tudo que uma mulher esclarecida tem a dizer sobre o amor representa uma ameaça direta e um desafios às visões que nos foram oferecidas pelos homens”.

Dessa forma, a criadora de conteúdo e podcaster Luana Carvalho não poderia deixar de intimidar muitos quando se diz uma ‘mulher assumidamente emocionada’ e quando vive, fala e escreve o amor à sua maneira. E isso é ótimo. “Sempre me perguntei em que mundo estamos vivendo em que demonstrar nossos sentimentos é visto com choque e como a algo errado”, reflete a host do podcast ‘O bom mesmo é ser emocionada’ durante entrevista à CAPRICHO.

Para ela, o amor é uma força poderosa que movimenta as pessoas – descrição que ela aprendeu na casa em que cresceu, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, ao lado da mãe e da avó. “Eu vim de uma família muito afetuosa, que demonstrava o amor de forma intensa, e eu aprendi a ser assim”, conta.

Hoje, aos 25 anos, Luana vive no Rio de Janeiro, onde se mudou durante a pandemia de covid-19. Foi nesse período, inclusive, que seu trabalho como criadora de conteúdo começou a ganhar mais visibilidade. Na época, seus vídeos eram muito focados em debater sobre gordofobia e racismo (temas essenciais que ainda discute muito), mas ela percebeu que precisava ampliar os horizontes.

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“Eu senti que eu não estava imprimindo de verdade quem eu era, para além dessas coisas. De fato, o preconceito me atravessa, mas eu sou muito mais do que isso”, diz. Foi nessa virada de chave que nasceu o projeto que resultou no podcast ‘O bom mesmo é ser emocionada’, espaço intimista e acolhedor para falar sobre sentimentos, emoções e tudo que lhe atravessa.

“O fato de eu ser uma pessoa extremamente carinhosa e afetuosa vai contra o estereótipo de uma mulher como eu”, diz referindo-se ao racismo e à gordofobia. “Mas eu precisava fazer alguma coisa com tudo isso e mostrar o quanto eu sou emocionada”, completa Luana, explicando que quando diz emocionada, ela não está se referindo apenas às relações amorosas, mas na vida em geral: “Eu me emociono e vejo beleza nas coisas mais simples às mais grandiosas”.

Sem amor, eu não sobreviveria. O amor pela vida, por mim mesma, pelo meu corpo, pela minha história.

Mas, afinal, o que é ser emocionada?

‘Ser emocionada’ virou até uma espécie de meme na internet e carrega um tom pejorativo. Para muitos, é sinônimo de alguém desequilibrado, iludido ou que se apaixona muito. Para Luana, não. Na sua visão, uma pessoa emocionada é aquela que tem coragem de sentir o que sente e de falar sobre isso, de uma forma natural, sem que isso vire uma obrigação de retribuição.

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É quem sabe colocar o coração na frente sem criar uma série de obstáculos, e encarar sentimentos bons e ruins também. “Dizer que gosta ou ama alguém não te torna uma pessoa inferior ou que atravessa limites. Sentir é humano”, diz.

Eu gosto de ser chamada de emocionada, sim. Porque, para mim, isso significada nada mais do que ter coragem de sentir o que sente de bom e de ruim.

Luana conta que tomou mais consciência sobre sua intensidade na adolescência – período que vocês, leitores da CH, sabem bem como é. Os primeiros amores, decepções amorosas, hormônios à flor da pele, emoções descontroladas.

“Nessa época, percebi que rolavam joguinhos de desinteresse, como fingir que não gostava da pessoa, esnobar, assim ela ia gostar de você”, relembra .” Acho que eu me descobri emocionada quando me dei conta de que nada daquilo fazia sentido para mim”, completa. 

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Mas e os riscos de ser emocionada?

O medo de muitas pessoas ao demonstrar seu sentimento e sua intensidade para o outro é, no fim, acabar se machucando. E, sim, desencontros e decepções são inevitáveis. Como escreveu Brené Brown, no livro ‘A coragem de ser imperfeito’*:

“O amor é incerto e oferece um risco incrível. Amar alguém nos deixa emocionalmente expostos. Sim, é assustador e, sim, nós podemos ser magoados, mas você consegue imaginar a sua vida sem amar ou ser amado?”.

Luana abraça essa vulnerabilidade, com todos os riscos, com ajuda do autoconhecimento, que a fez entender que ser intensa não é um problema, assim como não ser. “Sou uma mulher intensa, mas não posso oferecer minha intensidade para todo mundo. Tem pessoas que não gostam e não sabem lidar com ela, por isso, tenho que encontrar lugares e relacionamentos em que eu possa ser exatamente como sou”, explica o que para ela é o segredo para ser emocionada de uma forma saudável.

Foi a partir dessa visão realista e acolhedora que ela escreveu o livro ‘O amor não mora na urgência do outro’*, dedicado a todas “mulheres intensas, gigantes, que ocupam espaço demais e não sabem ser pouco”. “Muitas vezes, quando amamos alguém romanticamente, acreditamos que precisamos suprir tudo que a outra pessoa precisa, mas não é assim”, explica o título do seu primeiro livro que já está em pré-venda e será lançado em 23 de setembro.

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E continua: “Amor é olhar para uma pessoa e saber que ela não é aquilo que você idealizou, então basta descobrir quem ela realmente é, sem tentar preencher todos seus vazios e faltas, e amá-la. Afinal, o amor também é uma escolha”. 

Então que a gente escolha ser emocionada e enxergar mais a vida usando a lente do amor. 

*As compras feitas através destes links podem render algum tipo de remuneração para a Editora Abril.

 

 

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