O que fazer se perceber que a sua amiga tem tendências suicidas?

A taxa de suicídio entre os jovens nunca esteve tão alta. Afinal, o que está acontecendo? Será que não estamos prestando atenção neles?

Por Isabella Otto 10 set 2021, 13h03

Alguém poderia ter ajudado Hannah Baker, de 13 Reasons Why, a entender que o suicídio não era uma saída? Talvez o erro principal da série de sucesso tenha sido esse: começar um debate sobre o assunto pelo ponto final. “A depressão precisa ser discutida, o sentimento de inferioridade, o bullying nas escolas, mas o suicídio não pode ser uma variável de escolha, uma opção”, analisa Camila Cury, psicóloga e Diretora Geral da Escola da Inteligência. É essencial a gente promover discussões sobre o tema e sobre como ele deve ou não ser abordado, uma vez que o suicídio é a quarta maior causa de morte entre jovens brasileiros de 15 a 29 anos, de acordo com um estudo realizado pelo Ministério da Saúde em 2017.

Garota sentada no chão, com as pernas encolhidas, o rosto entre elas, num pedido de ajuda
iStock/Artfully79/Reprodução

É preciso ficar atenta, porque alguém perto de você pode estar vivendo a mesma realidade de Hannah – e talvez ninguém esteja percebendo. Pode ser que ela não esteja dando pistas, mas também pode ser que esses sinais não sejam percebidos por falta de conhecimento e atenção. O que você deve fazer caso perceba que a sua amiga apresenta tendências suicidas? A Camila Cury nos ajuda nessa delicada missão.

O primeiro passo é entender que nem toda pessoa que tem depressão pensa em tirar a própria vida, mas que a depressão ainda é uma das principais causas de suicídio. Perceba, então, se a pessoa está dando sinais preocupantes de isolamento. “É importante que os sintomas possam ser identificados. Se você tem uma amiga que está se excluindo, que você chama para sair e ela nunca vai, que está sempre triste, que precisa o tempo todo da aprovação dos outros, que posta uma foto e já quer saber quantas curtidas teve, que se sente inferiorizada a todo momento, que está sem motivação e sem vontade de conversar, é bom ficar esperta. Não significa que essa pessoa vai necessariamente cometer suicídio, mas esses sinais são um alerta de que ela pode estar entrando em depressão”, explica a psicóloga.

Imagem mostrando uma placa de trânsito com os destinos: suicídio e vida
iStock/domoskanonos/Reprodução
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Existem pessoas que apresentam alertas mais claros e outras que desenvolvem a chamada depressão aguda, que aparece de uma hora para outra e de forma expressiva. “Às vezes, uma pessoa que você não esperava que tinha tendências suicidas, no dia seguinte em que posta uma foto muito feliz no Instagram, se mata em casa. O cérebro, assim como todo o organismo, tem funções e disfunções. Se você quer estar preparada para ajudar uma pessoa, é importante que não ignore a dor dela“, afirma Camila.

A rejeição é muito traumática para qualquer um, mas em especial para adolescentes, já que eles ainda não têm muitas referências de dor, por exemplo. Na fase das descobertas, tudo é mais intenso, inclusive o sentimento de abandono, de indiferença. Depois de identificar os possíveis sintomas, é necessário não desprezar a dor do outro e entender o ponto de vista dele. “Uma amiga tem que primeiro mostrar que aquele determinado problema pode acontecer com todo mundo. Sempre ajudar a amiga a olhar a vida de forma diferente. Você tem que trazer para ela outra perspectiva do mesmo problema. Você não pode ser apenas aquela que passa a mão na cabeça ou que coloca lenha na fogueira. Você tem que estar entre esses dois extremos”, explica a especialista, que ainda completa dizendo que os sentimentos de felicidade e tristeza têm muito menos a ver com os acontecimentos da vida e muito mais a ver com a perspectiva de quem passa pelas situações.

Imagem com a frase: "Prevenção ao suicídio"
iStock/CatLane/Reprodução
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Agora que você já ajudou a amiga a enxergar a situação de outro jeito, é preciso convencê-la de que não tem nada de errado com ela e aconselhá-la a buscar ajuda de um especialista. “Você tem que convencer a pessoa de que ter depressão não significa que ela seja menos inteligente, preparada ou mais fraca. É preciso desconstruir a doença, dialogar e fazer a amiga entender que buscar ajuda é importante para que ela não ignore esse sentimento até que ele a sufoque, fazendo com que ela encontre na morte uma maneira de aliviar a dor”, conta a psicóloga Camila Cury, que finaliza a entrevista com um esclarecimento extremamente necessário: “Ninguém quer tirar a vida. As pessoas querem tirar a dor“.

É muito comum que os adolescentes sintam-se mais confortáveis ao desabafar com os amigos do que com os pais ou com pessoas mais velhas. É por isso que você tem um papel muito importante no combate ao suicídio de duas maneiras: ajudando quem precisa ser ajudado e não contribuindo para que essa taxa cresça cada dia mais. Aprenda a fortalecer o seu eu interior e seja o autor da própria história, aconselha Cury – mas conte com o apoio de coautores que possam te ajudar no meio do caminho. E, é claro, diga não a toda e qualquer forma de bullying!

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