Você pode querer ser influencer – mas com os pés no chão e sem romantizar

Existe uma ideia, que atrai muitos jovens, de que trabalhar com internet é sinônimo de dinheiro e sucesso, só que não é bem assim

Por Juliana Morales Atualizado em 13 ago 2025, 17h12 - Publicado em 10 ago 2025, 17h00
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ma pesquisa recente da consultoria Youpix apontou que três de cada quatro integrantes da Geração Z pensam em se tornar influenciadores. A ideia de ter uma rotina flexível, divertida e glamourosa, com a possibilidade de monetizar conteúdos que muitos já fazem por diversão, brilha os olhos da galera. 

Junto a isso, cresce um movimento de jovens que rejeitam o plano de fazer uma faculdade, por acreditarem que o diploma não tem mais tanto valor e o retorno financeiro das carreiras tradicionais é muito pequeno perto do que se pode ganhar na internet. Mas será mesmo que a influência é a saída para todos? Será que a profissão de influenciador é tão perfeita como pode parecer?

Em um vídeo recente no TikTok, onde acumula mais de 820 mil seguidores, a curitibana Lu Foresti, de 22 anos, questionou por que muitas garotas, com estrutura familiar e financeira, estão largando escola ou faculdade para virar influenciadoras digitais. 

Por mais que ela tenha conquistado seu espaço no digital, e hoje sua renda seja oriunda da produção de conteúdo, ela faz questão de defender a importância de ter terminado a faculdade de Direito, e como o conhecimento adquirido na graduação lhe ajuda a gerir melhor sua profissão na internet, além de lembrar do poder transformador da educação – que fica esquecido em muitos discursos de jovens na internet.

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“Infelizmente, vejo que muitas influenciadoras mais novas tratando o estudo como uma obrigação chata, e reclamando de que elas poderiam estar em mais uma viagem para Disney, ao invés de ir para escola”, diz em entrevista à CAPRICHO. “É óbvio que elas o trabalho na internet proporciona experiências maravilhosas para elas, mas não são todas as jovens que desejam ser influenciadoras também que vão ter essa mesma oportunidade“, completa. 

Conquistar um espaço na internet não é tão fácil como parece, e a concorrência está cada vez maior com a expansão dos influenciadores. Algumas pessoas viralizam de “forma acidental”, com um conteúdo específico que fura a bolha, mas isso é uma exceção, não regra. A maioria dos casos, para conseguir cavar um lugar de influência, é necessário um investimento, que nem todos jovens conseguem arcar.

E, depois que consegue um número legal de seguidores que atrai a marcas e gera publicidades, é preciso de mais investimento e de montar uma estrutura para o trabalho. “São tantas etapas, tantos detalhes. Na época que comecei, achei que era só botar o celularzinho na frente da câmera, gravar um vídeo e falar: “esse shampoo é bom”. Mas não é assim, são tantas etapas e muita gente pensando por trás no processo”, conta. “Uma das coisas que mais me chocaram em relação ao nosso trabalho é que você realmente vira uma empresa, um produto.”

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Além de todas questões burocráticas e mercadológicas, Lu também ressalta a responsabilidade em falar para milhares de pessoas e, de fato, influenciá-las. “Eu vejo o influenciador como uma das profissões mais importantes atualmente, porque a vida é baseada em redes sociais hoje. Se antes os jovens tinham como exemplo personagens de livro e TV, agora eles se inspiram nos personagens da vida real, que são os influenciadores”, defende, e exalta a importância de entender esse papel de líder para tantas pessoas.

Ser influenciador não é sinônimo de riqueza, como pensam

Quando saiu do BBB 23, a psicóloga Sarah Aline tinha um desafio: como aproveitar o público que conquistou no reality show e que agora estava em suas redes sociais? Eles adoravam vê-la 24 horas no Big Brother, mas ela não estava disposta “a fazer uma vida de influenciadora na internet em que mostrasse tudo seu dia a dia, não gostava dessa invasão”.

Aos poucos, ela foi entendendo melhor como poderia fazer conteúdos de qualidade no seu nicho profissional e ajudar a conscientizar a população sobre o que é saúde emocional. Ao mesmo tempo, teve que se organizar financeiramente, criando um caixa de trabalho consolidado para sustentar sua empresa, como influenciadora. Diferente do CLT, que ela estava mais acostumada, ela não tinha mais um salário fixo e precisava se organizar para não depender das publicidades que fechava no próprio mês, já que nem sempre são garantidas. 

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Ao adentrar o meio da internet, ela contou à CAPRICHO que ficou muito surpresa que grande parte dos influenciadores “não tem a grana que eles performam na internet”. “Sim, o fluxo de publicidade pode ser maior, em comparação ao principalmente salário mínimo e ao salário da demografia brasileira, mas essas pessoas performam muito mais riqueza do que de fato o que elas têm”, afirma.

Sarah reconhece, sim, que é um trabalho cheio de privilégios, já que ela esteve dos dois lados. “Eu já tive a minha vida de CLT, 8 horas de trabalho, e ainda complementava as minhas rendas com atendimento, ou seja, eu trabalhava até 10 horas da noite todos os dias, acordava cedo, pegava metrô. É óbvio que a rotina, principalmente de bem-estar e exercício que eu tenho hoje, eu não teria se eu fosse antes”, diz.

No entanto, romantizar a vida de influenciador como sinônimo de riqueza, fama e diversão é se enganar, segundo a psicóloga. O estudo da consultoria Youpix, citado no começo deste texto, mostrou que, em número, a realidade pode ser bem diferente, apontando que 68% dos criadores de conteúdo não conseguem se manter da renda que extraem das redes, seja com publicidade ou vendas, e 31% não ultrapassam os 5 mil reais por mês.

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“Se você levar a sério a produção de conteúdo de qualidade, é uma profissão legítima. Então, por que não tentar? Por que não se esforçar? Por que não botar a cara tapa e fazer conteúdo para internet? Eu acho que tudo que é muito bem construído, muito bem sonhado pode ser muito bem desfrutado”, defende Sarah, mas com um adendo. “Mas os pés têm que estar sem no chão e não se vislumbrar pelas possibilidades de ganho. Lembre-se que o dinheiro, ele precisa ser rentabilizado, ele precisa ser assentado para você ter uma boa carreira profissional”, finaliza.

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