6 extras do faixa a faixa de No Escuro, Quem é Você?, de Carol Biazin
Cantora e compositora estrela a capa da edição de outubro da CAPRICHO
strelando nossa capa de outubro, Carol Biazin passeia entre a calma e o caos. Aos 28 anos, a compositora canta sobre fins e recomeços com uma leveza complexa, como aconteceu no disco No Escuro, Quem É Você?, que foi dividido em duas partes.
Em entrevista exclusiva para edição do mês, Biazin abriu o coração para um faixa a faixa do álbum, só que nem todas as respostas apareceram no texto original. Por isso, trouxemos 6 músicas que fizeram parte da nossa conversa com a artista como um presentinho extra. As reflexões sobre outras canções, como AMAReSÓ, BAGUNÇA e Amor Traumatizado, estão disponíveis no Go Read.
- 1967
A galera me pergunta até hoje se é um o número de uma casa de verdade. Não é. Eu inventei esse número. Todo o resto é verdade. Ela está próxima de (Não) Quero Me Apaixonar, só que um pouco avançada. Já entregue, com a outra pessoa ainda meio que lutando contra aquilo e eu já 100% aceitei a derrota pro amor. É quase que tentando convencer a pessoa de que não tem mais para onde ir. Essa música fala sobre desistir de não tentar mais, desistir de ficar tentando evitar porque não vai funcionar.
‘A casa cheia’ significa que talvez a gente já tenha tudo aquilo que sonhamos, mas nunca é o suficiente.
Carol Biazin
- Você
Eu canto para o meu sonho. Eu fiz essa música pensando: “Cara, por que a gente não faz uma música chamada Você? Só que o Você vai ser como se fosse cantando para música.” Transformei a música, o meu sonho, em uma pessoa, para pensar no que eu falaria para o meu sonho se ele fosse uma música. “A casa cheia” significa que talvez a gente já tenha tudo aquilo que sonhamos, mas nunca é o suficiente. É quase como se a gente nunca chegasse naquele lugar.
E Você é isso, essa obsessão por aquele lugar. Por essa sensação de conseguir algo. E a gente vive por esse looping. Essa música é essa frustração, esse desabafo. Mas, no fim das contas, é só a gente sendo um pouco ingrato com algumas coisas e não conseguindo perceber de onde a gente veio e onde estamos.
Essa música teve uma sensação de que tirei do meu peito que eu precisava falar, mas depois que eu escutei, eu nem me vi mais com esse mesmo pensamento. Eu falei: “Eu acho que eu estou sendo um pouco injusta com a música, com o que ela é, com o que ela trouxe para mim.” Olha onde eu estou, né? E pensei nisso durante o show, enquanto falava sobre essa música, que não me sinto mais assim. Mas foi importante tirar do coração. E eu acho que todo mundo, em algum momento, já se sentiu trapaceado.
- Low Profile
Lembro que escrevi essa frase: “Ela é toda linda, mas eu odeio tirar foto” e pensei que daria uma música legal. Só que fiquei meio insegura até que soltei um dia numa sessão. Foi muito divertido de escrever porque, ao mesmo tempo que eu fiz pensando nessa pessoa, eu também me via como uma menina low profile, só que eu sou uma low profile ao meio, porque não tenho como ser 100% low profile. Eu tenho que estar num palco, né?
Escrevi me vendo um pouco. E achei legal que a música formou um pouco da estética da turnê, que fala sobre regata branca e calça jeans. Essa música fala um pouco sobre essas essas pessoas que são tímidas, mas que pegam a minha atenção. Fiz para essa pessoa e é uma das minhas favoritas da primeira parte. Ela é dançante e tem um poder diferente, principalmente no show.
- Aurora
Ela era conectada a SOU DO MUNDO. Era uma música só. Só que percebemos que era um interlúdio. O Marcelo, que foi o criador dos sopros, mandou o solo. Pensei no nome Aurora porque o álbum fala muito sobre recomeços, principalmente em coisas mais simples, sobre um novo dia, um novo horizonte. E a Aurora é exatamente isso, o nascer de um novo dia. A primeira parte é bem noturna e a segunda parte já vem com o sol, com um queimado de sol.
- Tr*nsANte
Eu quis muito fazer essa brincadeira com o álbum todo. Brinquei um pouco mais com isso na segunda parte. Para mim, é muito visual, né? Lembro que escutava as músicas e dizia: “SOU DO MUNDO tem que ser gritando! Tem que ser algo externalizando para o mundo.”
Aí Tr*nsANte veio nesse lugar de estética. Pensei que ela já ia chamar a atenção pelo nome e em colocar um asterisco também, para ficar como se fosse censurada. Todo mundo vai saber o que estou falando, mas ela vai ter essa censura porque é a música mais direta sobre sexo do álbum. Ela tem esse lugar especial e uma doçura. Ela fala muito sobre desvendar o outro na intimidade. Para além da relação sexual, indo também para a alma. Conhecendo a alma daquela pessoa.
- Conversei com Deus
Essa música é muito emocionante, ela realmente veio de um momento muito espiritual para mim. Eu estava passando por uma sequência de coisas que não conseguia entender muito bem. Sabe quando você começa a questionar sua existência? Eu acho que nunca tinha entrado nesse lugar. E, antes dessa música existir, vivi uma experiência em que passei muito mal antes de uma apresentação e não consegui subir no palco. Tive que ir para o hospital e fiquei muito mal.
Eu tive que cancelar e voltei completamente frustrada. Eu não consegui estar presente, meu corpo não reagiu. Entendi a falta de controle que temos sobre as coisas. Acho que isso me deu um desespero e, de certa forma, aquela sensação de me perguntar para que estamos fazendo tudo isso? Qual é o significado disso aqui? Lembro que me bateu uma crise de ansiedade, de verdade.
No dia seguinte, eu tinha um compromisso que não lembro nem o que era porque eu fiquei muito desnorteada. O lugar ficava há 8 minutos da minha casa e pedi um Uber. Só que esse motorista, que eu nunca tinha visto na minha vida, virou para mim e começou a falar coisas que eu acho até difíceis de explicar. Era um cara meio mais velho, que não me conhecia. E eu arrepiava muito enquanto ele falava comigo. Foram 8 minutos de uma sensação de divindade mesmo. Eu escrevi a música Conversei com Deus por causa disso, porque eu tive essa sensação, essa coisa se manter fiel a quem você é.
Veio muito de momentos que minha mãe também me aconselhou, acho que tem muito das palavras dela ali para mim, que eu coloquei na letra também. A letra: “É possível ser grande sem ser pequena” veio desse papo que eu tive por 8 minutos com esse cara e nem faz ideia do quanto ele mudou minha vida, mas eu espero que sim. O nome dele é Paulo, inclusive. Um beijo para o Paulo.





