“Me senti abraçada”, diz Chanel após saída precoce do Drag Race Brasil
Em entrevista à CAPRICHO, a drag de Niterói que virou meme, musa do MAC e narradora da temporada reflete sobre sua trajetória no reality

segunda temporada de Drag Race Brasil mal começou e o público já teve que dar adeus a uma grande favorita. Com apenas 22 anos, Chanel entrou no programa como a queen mais jovem da competição, mas também uma das mais carismáticas e viralizadas. No reality, ela brilhou com um look inspirado no Museu de Arte Contemporânea de Niterói e chegou a ficar entre as melhores no episódio de estreia, mas acabou eliminada no desafio de costura.
“Foi um dos piores dias da minha vida”, contou em entrevista à CAPRICHO. “No meu cérebro não passava a mais remota possibilidade que eu pudesse ser a primeira eliminada. Eu tinha certeza que eu seria finalista […] Eu estava muito nervosa de reviver isso, com muito medo desse momento estragar a minha participação. Não foi o que aconteceu. Eu me senti muito feliz, muito abraçada.”
Com visual apurado, senso de humor afiado e domínio de palco, Chanel rapidamente se tornou a narradora da temporada. “Se a segunda temporada está rolando e não tem a Chanel para narrar, ela ainda está acontecendo?”, brincou.
Apesar da eliminação precoce, Chanel segue como uma das queens mais comentadas nas redes sociais, o que, para ela, é reflexo de um trabalho consistente e uma estratégia bem pensada. “Uma parte muito maior do que a gente esperava é orgânica, mas também tem muito trabalho envolvido nas redes sociais. A gente está trabalhando desde antes da temporada sair para conseguir construir uma imagem que superasse os spoilers.”
É muito difícil convencer as pessoas a prestarem atenção no que eu estou fazendo, porque tem uma parte gigantesca do fandom que consome esses spoilers. Sendo a primeira eliminada é muito difícil, porque boa parte não quer torcer.
Chanel para a CAPRICHO
De sua drag multifacetada até os bastidores de sua rotina como professora de inglês e apresentadora do Cine Drag e da Pink Flamingo, no Rio de Janeiro, Chanel compartilha nesta entrevista os altos e baixos da competição, sua torcida para as queens que ficaram, e o que podemos esperar dela daqui pra frente, incluindo projetos que prometem expandir ainda mais seu nome no cenário drag.
Leia a entrevista de Chanel na íntegra:
CAPRICHO: Como foi para você assistir o episódio da sua eliminação?
Chanel: Eu estava muito nervosa sobre como seria assistir porque genuinamente foi um dos piores dias da minha vida. Não tinha roteiro para aquele momento. No meu cérebro não passava a mais remota possibilidade que eu pudesse ser a eliminada. Eu tinha certeza que seria finalista. Eu tenho muita convicção no meu trabalho. Não é uma questão de ser metida, eu tenho consciência do quanto eu me esforço e o nível de trabalho que eu entrego.
Eu tinha acabado de ficar entre as melhores no primeiro episódio. No desafio de costura e eu pensei “ok, a gente passa logo por essa dificuldade e constrói a narrativa de herói dela”. De todos os atributos que eu precisava mostrar no programa, costurar era a única coisa que eu não sabia fazer. No momento foi muito doloroso e frustrante. Ainda mais pela dor de não poder mostrar tudo o que a gente prepara. É uma temporada inteira de coisas que a gente leva para gravar. Entender que aquilo não vai ser mostrado na televisão foi o último momento mais difícil da minha vida.
Naquele dia, eu cheguei em casa e dormi de lente e maquiagem. Acordei quase cega no dia seguinte, foi uma desgraça. Eu estava muito nervosa de reviver isso, com muito medo desse momento estragar a minha participação. Não foi o que aconteceu. Eu me senti muito feliz, muito abraçada. Foram dois episódios em que eu consegui transmitir muito bem quem eu sou. Isso era uma preocupação que eu tinha sabendo do meu pouco tempo de tela. É muito importante conseguir transmitir uma marca. Eu queria que as pessoas entendessem quem eu sou e sinto que o público, de forma geral, entendeu muito bem.
Eu tive a sorte de estar aqui em Recife, na Casa Bacurau. De todos os convites que vieram para o segundo episódio, foi onde eu escolhi estar. Para mim era importante estar com a Ruby Nox nesse momento. Aliás, a Ruby foi quem me ajudou a fechar o vestido no programa. Esse vestido só tem um zíper porque a Ruby pegou o tempo que ela tinha e colocou. Eu não conseguia fazer mais nada, estava nervosíssima.
CH: Antes mesmo da temporada começar, você já era uma das favoritas. Com a estreia, isso só cresceu e você conquistou ainda mais fãs no Brasil e fora. Como está lidando com tanto carinho?
Chanel: Tem sido recompensante. Eu e a minha equipe estamos muito felizes porque uma parte muito maior do que a gente esperava é orgânico, mas também tem muito trabalho envolvido com assessoria e time de redes sociais. Óbvio que eu queria que as pessoas sentissem a minha saída e que pedissem uma volta. A gente está trabalhando desde antes da temporada sair para conseguir construir uma imagem que superasse os spoilers. E conseguimos.
É muito difícil convencer as pessoas a prestarem atenção no que eu estou fazendo, porque tem uma parte gigantesca do fandom que consome esses spoilers. Sendo a primeira eliminada é muito difícil, porque boa parte não quer torcer. Eles ignoram qualquer pessoa que saia da metade para trás da temporada e focam no top quatro para poder chegar no final e falar: “Eu estava torcendo desde o começo”.
A resposta foi muito maior do que a gente estava prevendo. A reação do público depois do segundo episódio foi demais. Eu fui parar nos tópicos mais comentados no Twitter. Tem gente que ficou bem no episódio e não teve isso. É muito surreal, está até um pouco descabido, mas que bom que está descabido. Não estava pronta para a reação toda. Os gringos tem que chorar e sofrer mesmo. Quero que eles mandem mensagem na DM da WOW Presents Plus pedindo o meu retorno.
CH: Os seus fãs e os fãs do programa querem muito que você tenha uma segunda chance. Pensando até na sua frase de despedida, se você for chamada para uma edição “vs the world”, com quais queens internacionais você gostaria de competir com?
Chanel: Agora eu sou uma mulher muito internacional, né? Eu tenho algumas amigas internacionais. Eu gostaria muito de ter a The Girlfriend Experience em uma temporada comigo. Se ela estivesse comigo, eu já me sentiria, sem dúvidas, em casa. Gostaria também de ter a Victoria Shakespears. Ela é uma querida, uma diva. Eu adoro a Cara Melle, do UK. Seria difícil competir com ela, mas eu adoraria.
CH: E eu sei que o inglês tá na ponta da língua, né? Qual é a sua relação com outras línguas?
Chanel: Ser professora de inglês veio do nada. Eu não sou formada em letras. Eu faço faculdade de produção cultural, ainda estou cursando na UFF. Meu primeiro emprego foi em uma agência de modelos aos 16 anos. Eu fui construindo minha experiência lá, como recepcionista e produtora. Trabalhar em agência é muito cansativo, acaba com a saúde mental. Eu pedi demissão para continuar viva. Comecei a pensar no que eu poderia fazer, porque não dava para viver de mesada de papai e mamãe. Quando se é rico até dá, mas eu sou pobre.
Eu falo inglês muito bem, eu me formei em inglês com 14 anos no cursinho. Desde então eu vinha praticando, muito devido a Drag Race também. A primeira vez que eu me toquei que eu sabia falar e entender inglês, foi assistindo ao All Stars 2. Eu esqueci de colocar legenda e só percebi no final do episódio, mas tinha entendido tudo. Assistir Drag Race realmente é ótimo para praticar. Se uma pessoa entende o que a Kandy Muse está falando, entende qualquer pessoa em qualquer língua está falando. Então eu comecei a trabalhar numa escola de rede e recebi treinamento para ser professora da escola.
CH: Olhando para o episódio em que você foi eliminada. O que você faria diferente?
Chanel: Faria tudo diferente. Uma coisa que as pessoas não entendem é que o que me pegou no desafio não foi nem a dificuldade de costurar. Isso a gente se vira para fazer qualquer coisa. O negócio é que tudo acontece muito rápido. Você não tem tempo de raciocinar direito. Tem que pegar o material e começar a fazer porque são pouquíssimas horas para terminar o look inteiro.
Depois que acabou toda a gravação, eu cheguei em casa e pensei em tudo que eu poderia ter feito. E não foi um desafio de costura, né? Chamam assim, mas eu acho uma grande pegadinha. Na prática, se você tem que fazer coisas com papel, é um desafio de cola quente. Não precisava passar um ponto numa máquina para fazer a roupa. Tanto que a roupa da Ruby não é costurada. Eu acho que faltou essa malícia. Faltou essa experiência em saber como cada material ia reagir. Eu escolhi o papel higiênico por ser mais fácil de trabalhar em cima de alguma coisa.
CAPRICHO: Após a sua eliminação, para quem fica sua torcida após sua eliminação?
Chanel: Minha torcida no momento está dividida. Torço muito pela Ruby Nox porque ela é muito boa. Quando eu voltei de viagem, a primeira coisa que minha equipe me perguntou foi: “Quem ganha?”. E eu falei sem pensar duas vezes. A Ruby conhece tudo que ela se propõe a fazer. Ela me inspira bastante, mas eu também torço muito para a Bhelchi. Estou muito feliz que as pessoas estão conhecendo ela e que ela está ganhando o coração do público. A Bhelchi é realmente muito boa, excelente em tudo que se propõe a fazer também. São duas pessoas que aqueceriam muito o meu coração de ver ganhando.
CH: Qual o seu momento favorito no programa?
Chanel: Eu amo os meus confessionals. Eu sou a narradora da temporada. Como é que pode eu conseguir narrar a temporada inteira em dois episódios? Pois é. Agora não vai ter mais quem fale. É aquele ditado: se uma árvore cai na floresta e não tem ninguém para ouvir, ela ainda tá fazendo barulho? Para mim a segunda temporada virou isso. Se a segunda temporada está rolando e não tem a Chanel para narrar, ela ainda está acontecendo?
Mas o ponto alto ainda é a passarela do primeiro episódio, com o look do MAC, Museu de Arte Contemporânea de Niterói. Esse look é um sonho que eu tinha há muitos anos. Ele está desenhado acho que desde 2020. Eu quase chorei vendo ele na tela pela primeira vez. Teve post em collab com o museu com 18.000 curtidas. É um dos posts mais curtidos de todas as RuGirls do primeiro episódio. Ser elogiada por aquele look não tem preço. Foi o grande ponto da minha vida. Me senti muito abençoada.
CH: Sobre suas performances que viralizaram. Elas chamam atenção pela originalidade. De onde vem essa força criativa?
Chanel: A Chanel é a drag das mil possibilidades. A parte mais divertida para mim é isso. A minha drag é zero separada de quem eu sou enquanto pessoa. Ela é muito eu, só que mais desbocada. Eu gosto muito de conseguir explorar um outro lado e construir outros personagens dentro da performance da Chanel. É uma boneca russa que a gente vai tirando camadas. Eu aproveito da Chanel, porque eu não consegui fazer teatro. Eu queria muito ser atriz, estar nos palcos, TV, cinema. Não foi o lado para qual a minha vida foi. Nunca fiz teatro, então eu jogo essa frustração nas performances.
CH: O trabalho de uma drag queen não se resume somente a Drag Race. Em quais projetos podemos te ver daqui pra frente?
Chanel: Temos alguns projetos, mas o mais babadeiro ainda não passo contar. O público pode me esperar do Cine Drag. Na verdade, ele vai dar uma pausa para reestruturar e conseguir captar recursos e patrocínios. É muito caro fazer drag.. A gente está com o projeto principal para o ano que vem, mas teremos ainda coisas fora da temporada principal esse ano. A gente ainda vai fazer alguns especiais.
Eu sou residente da Pink Flamingo, então estou sempre por lá. Temos as entrevistas da Pink Flamingo nas redes sociais. Se tudo der certo, elas serão levadas para outros lugares. Quem tem dois neurônios, consegue presumir onde eu vou estar, mas não vamos fazer essa promessa ainda. Vem aí um babado bem forte. Fora isso, estou sempre nos palcos e nas redes sociais. Agora a minha cabeça está focada em conseguir terminar todos os ensaios fotográficos dos looks da temporada.
CH: O que você diria para a Chanel de 15 anos que se montou pela primeira vez para um concurso de talento da escola?
Chanel: Eu diria para ela ficar tranquila. Fica tranquila, confia. Vai tomando um bloqueadorzinho de hormônio só para melhorar. Não querendo dizer nada, mas tome essa pílula aqui, vai tomando. Diria que ela está certa. Se tem alguém que acreditava em tudo que eu podia fazer, era a Chanel de 15 anos. No caminho muita coisa acontece e a gente começa a duvidar. Mas você está 100% certa de todas as convicções que você tinha, você vai ser muito grande. Tem muita coisa vindo aí ainda, vão lembrar do seu nome. Siga fazendo um bom trabalho. E siga confiando, porque vai valer a pena. Às vezes parece que não vai, mas vai sim.
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