DIA DOS PROFESSORES PELA LENTE DA GERAÇÃO Z: ENTRE GRATIDÃO E COBRANÇA

A Geração Z quer menos “lição de casa” e mais propósito: o professor ideal é aquele que ensina a pensar, não apenas a decorar.

Por Ricardo Russo Atualizado em 15 out 2025, 17h01 - Publicado em 15 out 2025, 16h12

O educador se eterniza em cada ser que educa.
“Paulo Freire”

Professor real ou algoritmo?

Para boa parte dos jovens da Geração Z — aqueles nascidos entre o fim dos anos 1990 e o início dos 2010 —, o Dia dos Professores é uma data ambígua. Eles reconhecem a importância de quem ensina, mas também questionam os métodos, o modelo de ensino e o quanto a escola acompanha seu ritmo digital.

“A gente respeita, mas quer sentir que o professor está aprendendo junto com a gente”, resume Isabela, 17 anos, estudante do ensino médio em São Paulo.

A Geração Z quer menos “lição de casa” e mais propósito: o professor ideal é aquele que ensina a pensar, não apenas a decorar.

“Tudo o que hoje preciso realmente saber, sobre como viver, o que fazer e como ser, eu aprendi no jardim de infância … A sabedoria não se encontrava no topo de um curso de pós-graduação, mas no montinho de areia da escola de todo dia.”

Pedro Bial

Entre homenagem e crítica

A geração que cresceu conectada valoriza professores que conseguem inspirar e dialogar, não apenas repassar conteúdo. Eles associam o bom docente à figura de um mentor — alguém que estimula pensamento crítico, reconhece seus próprios limites e entende que aprender é uma via de mão dupla.

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Paulo Freire

A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele.

De acordo com a Revista Educação, estudantes dessa faixa etária tendem a questionar regras sem propósito claro e exigem sentido prático no que aprendem. Querem saber o porquê das tarefas e como o conhecimento se aplica à vida real — o que torna a relação com professores mais exigente e, ao mesmo tempo, mais autêntica.

Tecnologia: ponte ou barreira?

A Geração Z vive a era da hiper conectividade e não separa o digital do cotidiano. Tablets, inteligência artificial e plataformas de aprendizado são ferramentas naturais — e muitos se frustram quando percebem que o ambiente escolar ainda resiste à inovação.

Quem ensina aprende ao ensinar, e quem aprende ensina ao aprender.

Paulo Freire - parafraseando “Whoever teaches learns in the act of teaching, and whoever learns teaches in the act of learning.”
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Segundo levantamento da EY Brasil, 42% dos jovens acreditam que seus professores desencorajam o uso de IA generativa nas tarefas escolares, apesar de considerarem essas ferramentas importantes para aprender melhor.

Para os Z, a tecnologia não substitui o professor — mas redefine seu papel. Ela liberta o docente do papel de transmissor e o transforma em curador e guia de conhecimento.

A nova autoridade

Não existe docência sem discência.

Paulo Freire
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Em tempos em que qualquer dúvida pode ser respondida pelo ChatGPT, o respeito ao professor não vem mais do cargo, e sim da credibilidade construída no diálogo. Um professor que ouve, que demonstra vulnerabilidade e que se coloca como parceiro de aprendizado costuma ganhar mais respeito do que aquele que impõe autoridade.

Para os jovens, autenticidade é a nova forma de liderança. Eles querem ser inspirados, não apenas avaliados.

“A gente percebe quando o professor gosta do que faz. Isso muda tudo”, comenta Pedro, 19 anos, estudante universitário.

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O 15 de outubro reinventado

Quando perguntados sobre o significado do Dia dos Professores, muitos jovens ainda o veem como um gesto de reconhecimento — mas também como uma lembrança de que o ensino precisa evoluir. Eles defendem que a data deveria abrir espaço para o diálogo entre alunos e docentes, sobre o que está funcionando e o que pode mudar.

Mais do que flores e homenagens, os Z pedem escuta ativa e inovação — porque, para eles, o futuro da educação se constrói em parceria.

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