Com mudanças climáticas, Brasil precisa aprender como prevenir desastres

Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da USP explica que plano de preservação ambiental poderia ter mitigado impactos no RS

Por NAIARA ALBUQUERQUE Atualizado em 29 out 2024, 15h50 - Publicado em 11 Maio 2024, 06h01
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falta de um plano efetivo de preservação ambiental que levasse em conta as mudanças climática poderia, sim, ter mitigado os impactos da pior tragédia ambiental no Rio Grande do Sul, afirmou à CAPRICHO o professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente da USP, Pedro Cortês.

Segundo o último boletim divulgado nesta sexta-feira (9) pela Defesa Civil, 437 dos 497 municípios do Rio Grande do Sul ainda estão sofrendo com os efeitos das cheias dos últimos dias. Cerca de 1,48 milhão de pessoas foram afetadas. Até o momento, 116 pessoas morreram e 143 desaparecidos e 756 feridos. E, infelizmente, esse número tende a crescer. As chuvas têm atingido o Estado gaúcho desde o dia 29 de abril, e, apesar do trabalho de voluntários e entidades na região, a água têm custado a descer – e, inclusive, têm chego a cidades vizinhas.

Para Cortês, é preciso que os governos municipais, estaduais e federais se estreturem para evitar novos desastres como o que vimos nesta semana no Rio Grande do Sul. Para ele, a principal ação, neste momento, deveria recair sobre a criação de um sistema mais efetivo de mensagens via SMS da Defesa Civil, com informações básicas sobre locais de abrigo e áreas que são suscetíveis a enchentes, por exemplo.

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Voluntários separam roupas para doações no Rio Grande do Sul
Voluntários separam roupas para doações no Rio Grande do Sul Carlos Macedo/Bloomberg/Getty Images

Além disso, é necessário que os governantes passem a levar em conta as previsões climáticas (que contém um componente a longo prazo) juntamente com as previsões meteorológicas (curto prazo). “A imprensa tem apresentado as previsões meterológicas. Agora, é fundamental que os gestores levem isso em consideração na hora de preparar suas cidades”, apontou o especialista para a CH. “Além disso, não há uma estrutura de pronto atendimento nas cidades e houve, na verdade, uma redução de verbas para a defesa civil”, acrescentou.

Na América Latina, Cortês destaca o trabalho feito pelo Chile, que investiu em um sistema de notificações robusto para avisar a população de situações extremas em suas cidades litorâneas.

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Mudanças climáticas e ação humana

Cientistas da comunidade acadêmica já apontaram, há alguns anos, a relação direta entre aumento do desmatamento e piora da crise climática. Um relatório do (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) IPCC destacou, entre tantas coisas, que proteger florestas ajuda no combate às mudanças climáticas.

Segundo Cortês, se no passado os relatórios do IPCC chocavam por parecerem muito alarmantes, a comunidade científica cada vez mais têm os taxado de conservadores. Afinal, a velocidade com que estamos vendo eventos extremos têm se acentuado, né?

O estudo “rápido de atribuição”, realizado por pesquisadores do ClimaMeter divulgado nesta sexta-feira (10) pelo g1, atestou que as chuvas que atingiram a região Sul do país recentemente ficaram 15% mais intensas devido às mudanças climáticas em curso. Essas mudanças climáticas aconteceram, principalmente, pela ação humana, com a intensificação de gases de efeito estufa.

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“Os achados do ClimaMeter destacam que as inundações no Rio Grande do Sul foram intensificadas pela queima de combustíveis fósseis, não pelo El Niño”, afirmou Davide Faranda, pesquisador do Instituto Pierre-Simon Laplace de Ciências do Clima, que assina juntamente com outros cientistas o estudo.

Não obstante, a falta de preparo de políticos para lidar com as mudanças climáticas têm sido muito levantada nos últimos dias. Em 2024, dos 34 parlamentares gaúchos, apenas uma destinou emendas específicas para prevenção de desastres no Estado.

Ou seja, deu pra ver que precisamos levar em conta a emergência climática, né? E isso vale tanto para o debate público quanto para cobrar os governantes por um plano mais efetivo de prevenção.

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