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Maquiagem de “cara de choro” que viralizou no TikTok romantiza a tristeza?

Se, por um lado, a ideia dessa trend é mostrar pessoas reais, por outro, pode ser que elas não sejam tão reais assim...

Por Sofia Duarte Atualizado em 29 out 2024, 18h54 - Publicado em 7 mar 2023, 15h47

Se você acompanha as trends de beleza do TikTok, já deve ter visto tutoriais que ensinam a maquiagem com efeito de “cara de choro” ou até o visual que imita olhos sonolentos e cansados, que viralizaram no aplicativo. Mas por que isso acontece e quais são os impactos de febres como essas na saúde mental das pessoas? Por um lado, parece que a ideia é combater a perfeição propagada nas redes sociais e nos aproximar da realidade; no entanto, por outro, cria-se um alerta sobre a romantização da tristeza ou mesmo de que até para chorar precisamos nos sentir bonitos.

O vídeo da criadora de conteúdo Zoe Kim Kenealy que ensina como atingir a tal “cara de choro” usando maquiagem já ultrapassou 4 milhões de visualizações. Nele, ela mostra que aplicar glitter líquido e blush rosado em pontos estratégicos do rosto podem criar o efeito de choro.

@zoekimkenealy

#greenscreen crying makeup look tutorial 😅 Can I go as a crying person for Halloween or is that not a thing #cryingmakeup #tearmakeup #cryingeyes #makeupforhalloween

♬ Show Me How (Album V) – Men I Trust

Embora a estética da “garota triste” não seja nova, agora ela ganha muito mais visibilidade por conta da rapidez da internet – a hashtag #cryinggirl já extrapolou o número de 127 milhões de views. Por que, afinal, esse estilo de maquiagem fez e ainda está fazendo tanto sucesso? A psiquiatra Dra. Danielle Admoni nos ajuda a entender. “Existe uma questão de realidade de que as pessoas também podem ser bonitas quando choram e de que elas nem sempre estão perfeitas e glamourosas como vemos nas redes sociais”, analisa. Parece que a ideia original é realmente acolher, provocar uma sensação de pertencimento e mostrar que está tudo bem se sentir vulnerável às vezes.

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Apesar disso, precisamos considerar também uma outra visão que problematiza esse tipo de trend. Um dos argumentos é o de que, na verdade, ao chorar, é bem provável que o resultado não seja o look “impecável” ensinado no TikTok, mas um rosto muito mais borrado. Levando isso em consideração, fica parecendo que até o choro não é genuíno por estar maquiado. Agora a pressão estética é tanta que até chorando temos que aparentar uma certa “beleza”?

@atarahmayhew

I always look like this tbh 😢 #cryinggirl #makeup ib: @elise @zoekimkenealy

♬ Reckless – Madison Beer

Quanto ao impacto em quem consome esse tipo de conteúdo, a Dra. Danielle Admoni explica que tudo depende de como a pessoa está se sentindo por dentro. “Depende de como está a saúde mental de quem está vendo isso. Se são pessoas mais fragilizadas, que estão deprimidas, elas vão ter uma visão, enquanto pessoas mais resilientes terão outra. […] O jeito que aquilo vai te afetar depende muito de como você está e de como você é. Se você é uma pessoa mais estruturada, com uma personalidade mais forte, aquilo não vai te abalar tanto. Caso você esteja mais fragilizado com a sua aparência ou deprimido, aquilo vai te pegar mais. Isso pode, sim, afetar a saúde mental, mas sempre dependendo de como a pessoa que está recebendo aquilo está, muito mais do que o conteúdo em si.”

Ao ver um certo “choro perfeito”, alguém que esteja lidando com questões de saúde mental pode, ainda, acabar enfrentando problemas de autoimagem. Outro ponto que tem sido levantado por críticos dessa maquiagem é que ela pode contribuir para o estereótipo de que mulheres exageram e choram por qualquer coisa, descredibilizando os nossos sentimentos.

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Ah, e ainda é necessário reforçar que esse visual criado com produtos de beleza é bem diferente do movimento que tem acontecido nos últimos tempos em que famosas abrem suas vulnerabilidades e trazem discussões importantes sobre saúde mental. Durante o período intenso de pandemia de Covid-19, Bella Hadid publicou fotos chorando no Instagram para falar sobre momentos difíceis que passou e como a internet os mascara. “As redes sociais não são reais. A qualquer pessoa lutando, por favor lembre-se disso. Às vezes, tudo o que você precisa é ouvir que não está sozinho”, escreveu.

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Tendo essas reflexões em mente, podemos também lembrar que todos os dias surgem trends de maquiagem e beleza no TikTok, e muitas delas (para não dizer a maioria) acabam sendo esquecidas em pouco tempo. Isso, entretanto, não invalida a relevância dessa discussão e nem o impacto que pode ter nas pessoas, em especial na geração Z.

Embora não exista um consenso sobre a problemática por trás dessa maquiagem, uma vez que esse tipo de conteúdo pode impactar as pessoas de maneiras diferentes, é válido tentar entender a origem dessas tendências e como elas te afetam. Acima de qualquer febre das redes sociais, o cuidado com a nossa saúde mental deve vir em primeiro lugar! <3

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Quem colaborou nesta matéria: Dra. Danielle H. Admoni, psiquiatra geral, da Infância e Adolescência, preceptora na residência da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM) e especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria)

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