
Ser jovem parece fácil, mas não é
E eu digo isso como alguém que já foi jovem. Ou que ainda é jovem. Não sei ao certo.
xistem alguns momentos na vida que marcam a construção da nossa juventude. Primeiro salário, saída da casa dos pais, ingresso na faculdade, casamento, parentalidade… Os momentos são infinitos. E às vezes você passa por todos eles, às vezes você não passa por nenhum deles. Mas ninguém te prepara pra eles. Ou pelo menos, ninguém me preparou pra eles.
Encarar o meu primeiro emprego foi difícil. Eu morava na casa dos meus pais e estava no meio do meu segundo ano sabático (privilegiada sim, eu sei) e havia uma certa pressão para que eu entrasse no mercado de trabalho. Eu deixei currículos em alguns lugares mas nada rolou. E como nada rolou eu deixei que ficasse sem rolar mesmo. Mas o destino atendeu as preces do meus pais e um trabalho chegou até mim. Foi a primeira vez que a minha, agora aposentada, carteira de trabalho foi assinada. Eu fiquei nesse trabalho por cerca de um ano e eu aproveitei pra guardar grana e ir fazendo uma poupança. Essa poupança foi o que custeou o segundo marco da minha juventude.
E mesmo com o desejo profundo de colocar milhares de quilômetros de distância entre eu e a minha família, sair da casa dos meus pais foi horrível. Cheguei na minha nova cidade com uma poupança até digna pra começar a vida adulta. E 45 dias depois só havia me restado 10% dessa grana e eu não tinha nenhum emprego à vista. Então, trabalhei com o que vinha, desde ser estagiária em uma corretora de imóveis até distribuir panfletos de uma “casa de massagem” na rua. Foram muita$ lágrima$ até eu con$eguir começar a me manter por conta própria em outra cidade.
Mas só “me manter” em outra cidade não era o suficiente. Até porque eu tinha me mudado com um plano muito certo em mente: fazer faculdade. Só havia uma pequena falha no plano: eu não passei. E eu não tinha um plano B. Daí o desespero bateu forte. Mas como era pobre, eu tinha que engolir o desespero e dar um jeito nas coisas. Então, arranjei um emprego como digitadora (que foi uma das coisas mais sem sentido que eu já fiz na vida), passei a dividir apartamento com outras quatro pessoas e comecei a fazer um curso técnico no lugar da faculdade. Era o que eu queria? Nem de longe, mas era o que tinha.
A minha juventude inteira, e acho que a de todo mundo na real, foi marcada por perrengues. Perrengue financeiro, perrengue emocional, perrengue financeiro, perrengue estudantil, perrengue financeiro, perrengue profissional. Pera, já comentei que rolou perrengue financeiro também? Ser jovem é assim, é perrengue atrás de perrengue.
Mas, perdidas no meio deles, eu ainda consigo resgatar lembranças que equilibraram esse tanto de desgraças. Foi com o meu primeiro emprego que comprei o computador onde escrevi o meu primeiro roteiro. Foi no curso técnico que conheci alguns dos meus melhores amigos. E foi saindo da casa dos meus pais que aprendi a fazer um ótimo brisa, quer dizer, brigadeiro. Acho que no fim até que valeu a pena encarar a juventude.