om o fim das eleições, surgem algumas dúvidas. O que um vereador ou uma vereadora faz, afinal? Muita coisa, mas provavelmente nada do que muitos dos principais eleitos nas grandes cidades prometeram. Mas é bom ficar atenta ao que eles defendem ou ofendem, porque nossos direitos sempre são os primeiros a serem atacados.
Por exemplo: o vereador mais votado de uma grande cidade prometeu combater a ideologia de gênero, mas a ideologia de gênero como um monstro a ser combatido não existe – é uma criação religiosa, aliás. Isso não significa que precisamos ignorar o que o tal vereador fala, afinal mais de 160 mil pessoas votaram nele – também – por isso.
Cabe a nós perguntarmos: qual o “inimigo” dele, de fato? Como dissemos na última edição desta coluna, o inimigo de pessoas assim são aquelas que não fazem coro aos delírios que ele acredita. Tipo você e eu.
Pessoas que não concordam com a existência do que é diferente de si já são inimigas daquelas que têm pensamento homogêneo. Sabe? Pensamento homogêneo é aquele que só reconhece verdade, profundidade e humanidade no que é igual, tudo igual. Mesma forma de se relacionar, vestir, se expressar, se identificar… Tudo que se choca contra com isso, é visto como mau.
Ainda bem que sabemos que não é. Por isso é importante ficarmos atentas ao discurso. Não é uma ideologia, algo inatingível e distante que discursos como esse combatem: somos nós, aquelas que não acreditam que todos devam ser iguais (porque isso é impossível). Esse discurso do tal vereador implica nas nossas vidas, porque fortalece quem pensa como ele e pode nos fazer recuar. Não recuemos.
A cada vereador com esse pensamento eleito, também há alguém que acredita, defende e vive a pluralidade de vivências que tanto queremos. Uma pluralidade que consiga ser plena, sem ser agredida, expulsa, adoecida, escanteada. Vidas que não sejam abreviadas, desprezadas, combatidas.
Passados os trinta segundos de urna, temos quatro anos pela frente. Neles, podemos e devemos engajar e acreditar em quem trabalha pautado no real.
Lola Ferreira, colunista da CAPRICHO
Pleno viver, bem-estar e felicidade: isso também não está em planos de governo, mas é o que podemos alcançar se fortalecermos. Passados os trinta segundos de urna, temos quatro anos pela frente. Neles, podemos e devemos engajar e acreditar em quem trabalha pautado no real; quem não cria monstros imaginários, que no fim das contas sabemos ser pessoas LGBTQIA+, negras, pobres. Pessoas que estão bem longe do que o tal vereador e seus apoiadores veem no espelho, mas que são o que vemos nas ruas, nas nossas casas, nos nossos círculos de amizade.
A realidade no início, no meio e no caminho é bem melhor do que o inexistente, que é perigoso. Vamos ficar com o real, mesmo que isso siga incomodando.