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Bárbara Poerner

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Bárbara Poerner é jornalista, repórter e roteirista de direitos humanos, sociedade e cultura, e clima e meio ambiente. É consultora do Instituto Febre, gestora de projetos na EmpoderaClima e diretora do documentário Monocultura da Energia.
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Eleições municipais mostraram que não basta votar, é preciso cobrar

Nós, mulheres, somos a maioria do eleitorado, mas representamos apenas 18% das pessoas eleitas, em 2024, para cargos de vereanças.

Por Barbara Poerner, especial para a CAPRICHO 30 out 2024, 06h00
É

difícil acreditar na política. Falando a partir da experiência de quem trabalha diretamente com isso, muitas vezes somos confrontadas com casos de corrupção, falta de compromisso, falta de diversidade real, promessas falsas e zero participação social. Só que desacreditar não é uma opção. As respostas para esses problemas todos são, de alguma forma, mais política ainda.

Essa desconexão com o que chamamos de “política” tem a ver, em minha visão, com dois grandes problemas: a falta de diversidade real e o imaginário social colonial, racista, machista e classista. Ok, peraí que eu já te explico melhor – continue comigo neste texto.

Após o primeiro turno das eleições municipais, que ocorreu no último dia 6 de outubro e encerrou-se neste domingo, 27, comecei a compilar alguns dados. Li uma manchete que dizia que o “número de mulheres eleitas havia crescido neste ano”. Entrei na reportagem e, de fato, cresceu. Mas ainda é pouquíssimo comparado ao que deveríamos representar. 

Nós, mulheres, somos a maioria do eleitorado, mas representamos apenas 18% das pessoas eleitas, em 2024, para cargos de vereanças. Quando olhamos para a questão racial, é ainda mais gritante: apenas 1 a cada 26 candidatas negras foi eleita em 2024, conforme apuração do Alma Preta Jornalismo, com dados do Supremo Tribunal Eleitoral (TSE).

A real é que, para muitas pessoas, a imagem de um “bom político” é uma só: um homem branco, de meia-idade, com alta escolaridade e possivelmente de classes sociais abastadas.

Para muita gente, é quase impossível assumir que mulheres, pessoas negras, indígenas, LGBTQIA+, pobres e jovens podem (e são) ótimas gestoras públicas. Estamos enraizadas em imagens e representações simbólicas de que competência está diretamente associada à raça, gênero, classe e território, e que quem cumpre a normalidade branca, machista e classista será eficaz e habilidoso – sendo que isso não é verdade.

Um dos grandes problemas da nossa política, de suas elaborações e execuções, é que elas são feitas de forma unilateral. Ou seja, não participamos do processo. Não raro, uma meia dúzia de homens brancos ricos decidem por nós, sem nenhum mecanismo de escuta, nenhum mapeamento de demandas das comunidades e tampouco considerando os interesses da população.

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Junto a isso, o discurso de que “nada na política presta” é despolitizante e, acima de tudo, planejado. Ele afasta nós, cidadãs comuns e jovens, de refletir, cobrar e se engajar na luta por justiça social e climática. Quando compramos essa ideia, somos ainda mais afastadas de espaços que deveríamos participar. É uma estratégia para que nossas demandas sejam, aos poucos, apagadas, e que não se criem comunidades e coalizões em torno de diferentes agendas. 

Não sou ingênua em achar que todas as soluções para nossos problemas estão ou virão da política institucional (aquela feita nas casas legislativas e executivas do Brasil – Câmara dos Deputados, Senado e Governo Federal). O sistema político brasileiro tem muitos desafios e problemas, e continua dominado por interesses particulares de setores como o agronegócio e de grandes empresas, que representam a velha política. Entendo e defendo que esse tipo de política tem diversas limitações e precisa, em algum momento, ser superada, dando espaço para outros sistemas de organização social.

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As casas legislativas e executivas devem expressar a diversidade de pessoas e territórios do Brasil, e se isso está longe de ser uma realidade, precisamos continuar cobrando.

Barbara Poerner, especial para a CAPRICHO

Contudo, isso só me faz reconhecer ainda mais a importância atual de atuar com essas agendas, cobrar, demandar e engajar mudanças. Nada disso virá por boa vontade de quem está no poder. Opressões e problemas do nosso cotidiano – violência de gênero, racismo, pobreza, desigualdade, falta de moradia digna, fome, educação ruim, trabalho precário, mudanças climáticas, eventos climáticos extremos, ineficiência dos sistemas de saúde – não serão reformados sem que tenhamos leis, monitoramento, participação social, políticas públicas eficientes e comprometimento, diversidade e honestidade de quem nos representa institucionalmente. 

Sei que muitas cidades não tiveram boas opções de candidatos alinhados com estas pautas prioritárias que cito aqui. Então, o convite que fica é para continuar cobrando, engajando, monitorando e participando da política – da forma que você quiser e se identificar. 

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Algumas dicas são:

As casas legislativas e executivas devem expressar a diversidade de pessoas e territórios do Brasil, e se isso está longe de ser uma realidade, precisamos continuar cobrando.

Com isso, teremos não só mais representatividade, mas uma ampla gama de soluções para lidarmos com a desigualdade e crise climática, que estão nos saberes de jovens, mulheres, pessoas negras, indígenas, comunidades tradicionais e LGBTQIA+. Diversidade na política significa diversidade de soluções e estratégias, com mais vozes ativas na construção de propostas, leis, orçamentos e espaços públicos.

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Podem dizer que isso seja sonhar demais, se iludir com a política institucional ou até que nada mais é possível. Mas não adianta: irei continuar acreditando em um Brasil com ‘s’, feito por e para as brasileiras.

🌳 Ronda climática 🌳

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