5 anos após início da pandemia, jovens refletem o impacto dela até hoje
Saúde mental, educação e percepção do tempo foram os aspectos mais afetados pela pandemia, segundo a nossa galera

á cinco anos, nossas vidas mudaram completamente. Ruas ficaram vazias e hospitais cada vez mais cheios. Era o início da pandemia da Covid-19, que se estendeu por muito mais tempo do que esperávamos. A goiana Laura Matos, da Galera CAPRICHO, relembra que, quando começou o isolamento, ela estava na semana de provas e ficou até feliz quando a prova de Biologia foi adiada. “Mal sabia eu o que estava por vir”, conta. “Inicialmente, eram só 15 dias, então eu achei que eu ia descansar em casa e depois voltava ao normal”.
Isabela Cidrônio, que vive em Manaus, teve uma sensação parecida com a da Laura. Ela, que era muito army na época, lembra que a primeira vez que eu ouviu falar sobre a Covid foi em uma página de fofocas sobre o BTS. “Mas como começou na Ásia, eu nem cogitei a ideia de que chegaria até aqui ou que causaria tamanha devastação. Quando chegou a notícia de que não ia ter aula por conta do Covid, eu me alegrei e não tinha nenhuma noção da seriedade que era a situação”, relata.
Lembrar desse período hoje, depois que toda situação amenizou, é estranho para elas. Laura diz que consegue lembrar de poucas coisas que foram benéficas, principalmente no primeiro ano de pandemia. “Eu me sentia sempre muito cansada, triste e isolada (literalmente). A convivência em casa, às vezes, se desgastava e acaba ficando um clima ruim, e não tinha para onde fugir. Sentia muita falta dos meus amigos e das vivências da escola”, recorda.
A paulista Ana Beatriz, também da Galera CAPRICHO 2024, concorda com a amiga e diz que “é surreal pensar em como tudo aconteceu”. “Lembro desse período de forma compacta, sabe? Talvez porque os dias parecessem sempre iguais. Foi mentalmente exaustivo, com o aumento constante dos casos, as mortes, a falta do contato humano e o choque coletivo. Para muitas pessoas, foi um período de grande pânico”, reflete.
Ana Bia também desabafa que, quando olha para trás, também tem a sensação de que perdeu uma fase da adolescência importante. “Quando a pandemia começou eu estava no 9º ano e tinha muitas expectativas sobre esse ano, principalmente em fazer 15 anos, ir na minha viagem de formatura, poder ir em festas com meus amigos e aproveitar o último ano como ensino fundamental”, lamenta. Tudo teve que ser adiado ou não aconteceu realizado. “Além de tudo, sinto que foi um período perdido, ficava constantemente pensando em como as coisas eram no passado, como seria se não tivesse existido a pandemia e nesse tempo que não iria voltar”, completa.
A Isa concorda: “perder a vivência da minha pré-adolescência, que é fundamental para aprender a lidar com conflitos, desenvolver personalidade e até mesmo caráter, me faz sentir como se eu estivesse um pouco atrasada em relação a outras pessoas. Atrasada por não saber lidar com conflitos simples, justamente por que é a primeira vez que estou experienciando isso”, diz.
Um artigo bem interessante publicado no site gringo, The Cut, sobre a pandemia virou pauta no TikTok há um tempo e descreve um pouco a sensação das duas. Nele, a autora Katy Schneider, fala sobre o que ela chamou de “pandemic skip” (na tradução, salto da pandemia). Ela resume como a “estranha sensação de que nossos corpos podem estar um passo fora de sincronia com nossas mentes”. Isso porque a situação atípica ocasionada pela Covid mexeu com a nossa percepção de tempo.
E com a educação e saúde mental!
Além de não vivenciar as experiências e convivências na escola, é unânime entre as jovens que conversaram com a CAPRICHO que a educação foi uma das áreas mais afetadas – e elas sentem isso ainda. “A pandemia fez eu perder meu sétimo, oitavo e nono ano, que são os anos com os conteúdos fundamentais para s vestibulares”, diz Isa. Além disso, a garota conta que, no estudo online, ela usou muito a internet para encontrar respostas e isso fez com que ela desenvolvesse uma dificuldade enorme de fazer qualquer exercício sem TER que checar a resposta antes.
“Eu perdi a capacidade que eu tinha de aprender as matérias com muita facilidade, tanto pela falta de uma base conteudista, quanto pela dificuldade de segurança que eu tinha sobre minhas próprias respostas”, relata.
“Aula online era tenebrosa e meu aproveitamento era muito baixo. Praticamente não fiz meu 6° ano e fiz muito mal o 7°. E esse déficit de aprendizagem me traz consequências até hoje. Ainda tenho uma certa dificuldade com coisas básicas que eu deveria ter aprendido”, também lamenta Laura. Mas não só isso. “Meu psicológico ficou muito abalado e eu desenvolvi alguns gatilhos: tenho muita dificuldade em ficar sozinha e ser realmente independente. Também pirou meu quadro de ansiedade e eu desenvolvi depressão, tudo isso afeta a minha vida atual (mesmo que de forma mais branda)”, conta.
Mas ficam os aprendizados também…
De toda situação difícil, dá para tirar alguma lição, né? Para Ana Bia, a pandemia serviu como um lembrete para se preocupar mais com a higiene e a refletir mais sobre a vida. “Sinto que comecei a aproveitar mais as oportunidades, porque passei muito tempo sem poder viver a adolescência como queria, sem viajar, sem experiências que sonhava ter. Quando as coisas começaram a voltar ao normal, me foquei no que realmente queria e fui atrás disso”, diz.
Para Laura, o isolamento social fez com que ela passasse a valorizar muito mais as situações cotidianas. Poder ir para escola, abraçar e beijar todo mundo, ir para festas sem se preocupar… “Tudo isso me faz muito feliz e sempre me pego pensando que fosse há alguns anos atrás isso não seria possível”, comemora. E continua: “Mas, confesso, acho LOUCURA pensar que a gente viveu uma pandemia, algo que a gente só via nos livros de história e, de repente, estávamos vivendo a história”.
E você, o que mais lembra da pandemia e como ela te impacta até hoje? Já parou para pensar nisso?