Todo 1º de dezembro, o Dia Mundial de Combate à AIDS traz à tona discussões sobre prevenção, tratamentos e estudos sobre a doença e seu vírus causador, o HIV. Estima-se que hoje, no mundo todo, mais de 38 milhões de pessoas convivam com o HIV, sendo que cerca de 25 milhões de pacientes tenham acesso à terapia antirretroviral, de acordo com a UNAIDS. Ou seja, metade dos soropositivos não faz nenhum tipo de tratamento, na maioria das vezes, por uma dificuldade de acesso, geralmente motivada por questões socioeconômicas.
Em 2020, pelo terceiro ano consecutivo, os casos de HIV e AIDS caíram na cidade de São Paulo, segundo dados da Secretaria Municipal da Saúde da capital. É uma notícia otimista que, aliada a outras que tivemos nos últimos anos, mostra que a ciência está fazendo avanços significativos na busca de uma possível cura para uma doença ainda hoje carregada de estigmas e permeada de desserviços, a maioria deles gerado pela falta de informação. Confira a seguir as principais notícias divulgadas nos últimos tempos envolvendo avanços da medicina na luta contra o HIV:
1. Paciente brasileiro tem HIV eliminado do corpo após se submeter a novo tratamento
Em julho deste ano, durante a 23ª Conferência Internacional de AIDS, a Universidade Federal de São Paulo apresentou o caso do brasileiro de 34 anos, infectado com HIV em 2012, que teve o vírus eliminado do corpo após receber novas medicações em 2015, contendo o dolutegravir e o maraviroc, e uma forma de vitamina B3. As substâncias aumentam a capacidade do sistema imunológico de combater o vírus. O estudo foi comandado pelo infectologista Ricardo Diaz, diretor do Laboratório de Retrovirologia do Departamento de Medicina da Unifesp. O cientista diz que o vírus pode reaparecer no paciente e que outros voluntários podem não ter tanto sucesso com o tratamento, por isso precisa ser melhor desenvolvido. Contudo, o resultado já é histórico!
2. O “paciente de Berlim” foi a primeira pessoa a ser curada da AIDS no mundo
Em 2008, Timothy Ray Brown se tornou a primeira pessoa a se livrar do HIV e ser curada da AIDS, após dois procedimentos dolorosos e de alto risco envolvendo o transplante de células-tronco. Quem conduziu as cirurgias foi um médico da Universidade Livre de Berlim, que usou as células-tronco de um doador compatível que tinha uma condição rara que lhe dava uma resistência natural ao vírus da AIDS. “Sou a prova viva de que pode haver cura para a doença”, falou Timothy à AFP, em 2012. Por serem procedimentos complexos e de alto risco, eles ainda não são uma opção viável em grande escala e só foi usado no “paciente de Berlim” pois ele também tinha sido diagnosticado com leucemia. Timothy Ray Brown faleceu em setembro deste ano, nos EUA, vítima de câncer.
3. Em março deste ano, o segundo paciente curado do HIV foi anunciado
Adam Castillejo, de 40 anos, conhecido como o “paciente de Londres”, se tornou em março deste ano a segunda pessoa a ser curada do vírus HIV no mundo. Os resultados do estudo, que também envolveu o transplante de células-tronco, foi publicado na revista científica The Lancet HIV. O termo remissão do vírus só foi trocado pelo termo cura após o paciente ficar sem demonstrar sinais do HIV no corpo por um período de 30 meses – e assim ele segue até hoje. Mais uma vez, o procedimento de alto risco só foi realizado porque o venezuelano também havia sido diagnosticado com câncer. “Quero ser um embaixador da esperança”, disse Adam em entrevista ao jornal The New York Times.
4. Novo PrEP, que reduz o risco de contaminação pelo HIV, foi aprovado em 2019
No ano passado, a FDA, agência que regula medicamentos nos EUA, aprovou a droga Descovy, do laboratório Gilead Sciences. Ela se tornou, então, a segunda pílula que pode ser administrada por adultos e adolescentes expostos a altos riscos de contaminação. A PrEP, ou profilaxia pré-exposição, foi testada por 5.387 homens e mulheres trans HIV negativos, que tinham muitos parceiros sexuais e corriam o risco de infecção pelo vírus. Anteriormente, em 2016, o Descovy já havia recebido uma aprovação norte-americana, mas para ser usado em adultos e crianças.
5. Número de mortes relacionadas ao vírus da AIDS registrou queda de 33% nos últimos anos
A ONU divulgou em 2019 um relatório informando que as mortes relacionadas ao vírus da AIDS no mundo haviam tido uma queda de 33% nos últimos oito anos. Em 2010, por exemplo, foram registradas 1,2 milhão de mortes. Em 2018, 770 mil. Apesar do número positivo, Gunilla Carlsson, diretora interina da UNAIDS, alertou que alguns países, como o Brasil, tiveram aumento de casos de infecção e que tratamentos com a profilaxia pré-exposição (PrEP) ainda são privilégios de poucos, tendo sua distribuição não igualitária. “As populações-chave ainda estão sendo marginalizadas e deixadas para trás na resposta ao HIV”, foi informado no relatório da ONU.
6. Em 2018, houve uma queda de 16% no número de mortes relacionadas ao vírus da AIDS no Brasil
Apesar de a taxa de infecções por HIV ter crescido no Brasil, como informou documento da ONU em 2019, o número de mortes relacionados ao vírus da AIDS registrou uma queda de 16% no país em 2018, levando em conta os quatro anos anteriores. O dado foi divulgado pelo Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, que informou que a queda se deu pela ampliação do acesso à testagem e pela diminuição do tempo entre o diagnóstico e o início do tratamento com antirretrovirais.
7. O SUS começou a distribuir um novo tipo de teste de HIV gratuitamente para a população brasileira em 2015
Faz cinco anos que o Sistema Único de Saúde começou a oferecer gratuitamente para a população, além dos testes anteriormente já oferecidos (que envolvem a coleta de sangue, seja por uma picadinha no dedo ou pela retirada convencional), um teste oral, que possibilita um novo tipo de diagnóstico para a AIDS. “Esse teste é muito importante porque temos hoje em torno de 150 mil pessoas no Brasil que vivem com o HIV e não sabem. Portanto, ter um teste rápido que produz o diagnóstico em cerca de 30 minutos de maneira extremamente simples porque é extraído da boca e não exige infraestrutura laboratorial. Se der positivo, a pessoa tem a possibilidade de procurar o serviço de referencia e iniciar o tratamento imediatamente”, explicou na época o então ministro da Saúde, Arthur Chioro.
8. Cura para a AIDS pode estar ligada aos “controladores de elite”
Neste ano, o jornal The New York Times publicou uma reportagem sobre a norte-americana Loreen Willenberg, de 66 anos, que por várias décadas suprimiu sozinha o vírus HIV, após ter sido infectada. Famosa entre os cientistas por seu organismo poderoso, Loreen desencadeou um estudo para avaliar esses “controladores de elite”, que suprimem o vírus sem usar medicamentos antirretrovirais. Cientistas sequenciaram bilhões de células de 64 infectados que não faziam nenhum tipo de tratamento e outras bilhões de células de 41 infectados que usavam antirretrovirais. Um número menor de cópias do genoma do HIV foi identificado nos “controladores de elite”, o que pode indicar um caminho de novos estudos envolvendo a remissão do HIV e a cura da doença.
9. Vorinostat se torna destaque entre as drogas de combate ao HIV
A droga Vorinostat começou a ganhar destaque nos estudos de combate ao HIV em 2014, com o pesquisador Luiz Francisco Pianowski, presidente do laboratório Kyolab e membro do Conselho Científico da Amazônia. Ela atua expulsando o vírus da AIDS das células inativas, que são justamente aquelas que dificultam a possível cura da doença, jogando-as na corrente sanguínea, onde podem enfim ser combatidas pelos antirretrovirais. David Margolis, da Universidade da Carolina do Norte, foi o primeiro médico a usar o Vorinostat e os resultados dos testes foram positivos. Contudo, por ser um tratamento arriscado, que pode acabar ativando a mutação e multiplicação do HIV, caso os antirretrovirais não atuem como o esperado, ele ainda é uma promessa futura.
As notícias positivas envolvendo o HIV e a AIDS não devem ser usadas como desculpas para a não utilização de métodos de proteção durante o sexo, por exemplo. Foi comprovado pela OMS que 72% dos pacientes soropositivos que utilizam PrEP há pelo menos um ano são diagnosticado com algum outro tipo de IST, como a sífilis, por se protegerem menos durante as relações. O preservativo não é apenas um método contraceptivo que protege contra gestações indesejadas. Ele é um método acessível a todos, já que é distribuído gratuitamente no Brasil, que protege contra infecções sexualmente transmissíveis. É por isso que #CamisinhaTemQueUsar s-e-m-p-r-e!