No verão, sempre surge uma tendência, seja um esporte, um sorvete diferentão ou até mesmo uma música chiclete. Mas, neste ano, uma ‘moda’ que já vinha acontecendo há um tempo ganhou força e movimentou as redes sociais: celebridades brancas se apropriando de características e elementos que fazem parte da etnia e cultura negra.
/Pele bem bronzeada, lábio mais carnudo e cabelo ou penteado afro. Essas foram algumas das apostas que modelos e influenciadoras usaram para deixar o feed com cara de verão. E olha que essa tendência tem até nome, viu? É o blackfishing, que acontece quando pessoas não-negras se apropriam de itens da cultura afro, utilizando as redes sociais para se auto beneficiarem e até fingirem que são miscigenadas.
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A ex-BBB Munik Nunes postou uma selfie do seu rosto com uma pintura étnica e escreveu: “bem africaninha”. Já a atriz Gabi Lopes e a blogueira Bianca Andrade resolveram fazer tranças no estilo braid box e, coincidências à parte, deram um up na saturação das fotos com o novo visual, deixando suas peles alguns tons mais escuros. Tanto a Gabi como a Boca Rosa já tinham usado penteados afros anteriormente e vários internautas, principalmente negros, avisaram em seus perfis que aquilo era apropriação cultural, que acontece quando um grupo dominante utiliza elementos de uma cultura diferente da sua e normalmente oprimida pela sociedade. Parece que não entenderam ou não fizeram questão de entender.
Bianca Andrade ainda postou uma foto do cabelo volumoso depois de retirar as tranças, com a legenda: “a liberdade de ser mil Biancas numa só”. A discussão nos comentários da publicação foi inevitável, já que várias pessoas, na maioria mulheres, se sentiram incomodadas com a nova tentativa da apropriação da blogueira. Por outro lado, alguns seguidores também saíram em defesa de Bianca e ainda questionaram o fato de algumas mulheres estarem atacando outra mulher. Mas vamos lá: o feminismo nos ensina sobre ter empatia e criar relações não violentas ou competitivas, porém, neste caso, não podemos esquecer que quem não se colocou no lugar das mulheres com vivências raciais diferentes foi a própria YouTuber, que ainda escreveu em um comentário: “o que eu sei é que nunca xinguei uma dessas pessoas na minha vida! O povo se irrita sozinho” – como se a única forma de ofender uma pessoa fosse por xingamento e não tomando uma atitude, por exemplo.
Agora, você pode estar se perguntando: “mas a Gabi e a Bianca não devem ter feito isso para se passarem como negras, né? Elas só podem achar bonito….” Realmente, não acredito que a ideia delas era a de se tornarem negras, até porque abrir mão da facilidade de ser uma pessoa branca e ser aceita com o cabelo que bem entender, ninguém quer. Então, vejo como uma apropriação conveniente. Ou seja, elas escolhem alguns itens da nossa etnia e cultura, como as tranças e o tom de pele mais bronzeado, que é mais desejado no verão, só que os esvaziam de significado e usam sem sofrer com a parte negativa, que é o preconceito. Afinal, elas estão protegidas pelos privilégios, diferentemente dos negros.
A trança, por exemplo, era usada pelas mulheres negras de diversos países da África para representar estado civil e até região de origem. Atualmente, esses penteados afros continuam servindo como fonte de identificação, resistência e conexão entre as pessoas negras e suas raízes. Só que, ao contrário dos brancos, mulheres e homens afrodescendentes ainda são discriminados por usarem algo que faz parte da sua história.
Por isso, a questão vai além de um não-negro usar trança, mas sim de ele entender a importância do elemento que está usando, além do simples fato de achar bonito. Vale lembrar que, quando estamos falando de uma figura pública, que influencia muita gente, a “cobrança” por atitudes de bom senso que não ofendam ninguém é muito maior e necessária. Afinal, eles precisam ter responsabilidade em relação ao impacto de suas publicações. Quantas meninas podem ter ficado com a autoestima abalada e se perguntando: “por que ela pode fazer trança e receber tanto elogios, enquanto outras mulheres negras são ofendidas usando o mesmo penteado?”. Ou será que o importante é só elas se sentirem bonitas, independente do que isso pode gerar em outras pessoas?
Se podemos tirar uma lição dessa história é que, quando alguém diz que se sentiu ofendido com algo que você fez, pare e pense o que precisa ser feito para não aumentar o desconforto do outro. Achar que o problema está em quem “reclama” e colocar seus interesses e desejos pessoais acima dos desdobramentos do racismo estrutural ou de outro problema social não é o melhor caminho.
E aí, qual a sua opinião sobre esse assunto? Conhece outros casos de apropriação cultural e blackfishing? Então, conta nos comentários ou se preferir pode mandar um e-mail para anacarolipa16@gmail.com ou enviar direct no Instagram, que vou adorar conversar.
Beijos,
@anacarolipa