Abraham Weintraub sai do MEC com legado considerado segregacionista

Nada surpreendente, já que, nos 14 meses que esteve no cargo, o então ministro colecionou acusações de ter uma política segregacionista

Por Isabella Otto Atualizado em 19 jun 2020, 18h36 - Publicado em 19 jun 2020, 12h01
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CAPRICHO/Divulgação

Na última quinta-feira (18/6), o presidente Jair Bolsonaro confirmou que Abraham Weintraub havia sido demitido do Ministério da Educação (o Brasil também se encontra sem ministros da Saúde e Segurança). Antes de deixar o cargo, o economista teve como última medida revogar a portaria que estabelecia a inclusão de negros, indígenas e pessoas com deficiência em programas afirmativos de pós-graduação. Sem nenhuma justificativa, a decisão não impede que instituições continuem com seus programas já vigentes ou criem outros, mas o incentivo por parte do governo não existe mais.

Abraham Weintraub
Weintraub antes da demissão, usando uma máscara com a frase “Meu Ministro Favorito”, em que seu rosto aparece no lugar do rosto do personagem Gru, de “Meu Malvado Favorito” Andre Borges/NurPhoto/Getty Images

Em 2018, nossa então colunista Ana Carolina Pinheiro fez uma matéria explicando que as cotas vão além da entrada em universidades: elas interferem positivamente nas famílias, no mercado de trabalho e na confiança das pessoas negras. Em um mês em que a luta antirracista tomou as ruas e as redes sociais, a revoga de tal portaria se torna ainda mais significativa – ainda mais quando essa é sua última decisão em um cargo tão importante, do qual milhares de vidas dependem.

Abraham Weintraub ficou 14 meses como ministro da Educação e colecionou acusações de ter uma política segregacionista. Em abril, no início da pandemia de coronavírus no Brasil, o economista postou um tuíte, que foi apagado na sequência, trocando todas letras “R” das palavras por “L”, como o Cebolinha, personagem da Turma da Mônica, numa clara alusão estereotipada à fala dos chineses. “Geopoliticamente, quem podeLá saiL foLtalecido, em teLmos Lelativos, dessa cLise mundial?”, dizia um trecho da postagem, que não foi bem recebida por diplomatas da China. Na Justiça, foi aberto um inquérito por acusação de racismo. Em recado oficial, a Embaixada Chinesa no Brasil disse: “[As declarações são de] cunho fortemente racista e objetivos indizíveis, tendo causado influências negativas no desenvolvimento saudável das relações bilaterais China-Brasil”. Em junho, o até então ministro depôs à Polícia Federal e negou que havia cometido racismo.

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Weintraub ainda sugeriu que há evidências científicas de que o coronavírus foi propositalmente criado em laboratório. Na época, André Damiani, criminalista e sócio fundador do Damiani Sociedade de Advogados, defendeu que “o STF tem o dever de investigar, especialmente quando o preconceito emana de um ministro de Estado. A Constituição Federal repele qualquer tipo de ideal segregacionista“.

Estudantes protestando no dia 15 de maio, em São Paulo, contra cortes na educação propostos pelo governo Bolsonaro Fabio Vieira/FotoRua/NurPhoto/Getty Images

Um mês após o polêmico post que despertou a ira dos chineses, foi a vez de Weintraub insultar os judeus. No final de maio, o então ministro tuitou que a decisão judicial do STF de busca e apreensão de quem faz e compartilha fake news se assemelhava à Noite dos Cristais, que aconteceu na Alemanha nazista. Na época, empresários, políticos e blogueiros aliados ao governo Bolsonaro foram apreendidos pela PF. “Profanaram nossos lares e estão nos sufocando. (…) Sieg Heil!”, escreveu, dizendo ainda que “a grande imprensa socialista” celebraria o que estava acontecendo usando a saudação que faziam ao Hitler, representante máximo do Nazismo, movimento ideológico pautado na segregação racial.

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Em nota, a Confederação Israelita do Brasil disse que “não há comparação possível entre a Noite dos Cristais, perpetradas pelos nazistas em 1938, e as ações decorrentes de decisão judicial no inquérito do STF”. Nas redes sociais, numa tentativa de defender o então ministro da Educação, usuários disseram que ele não foi segregacionista, porque tem inclusive ascendência judaica, como Weintraub fez questão de deixar claro no tuíte a seguir. Já ouvimos “justificativa” parecida antes, não?

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Outro membro da família Weintraub, Arthur, irmão de Abraham, também já foi pego comparando uma situação atual, ligada à cloroquina, ao nazismo, falando do surgimento de um novo “tribunal de Nuremberg”, atacando novamente a imprensa e todos aqueles que não compartilham da mesma opinião que ele:

Como de costume, em seu Twitter pessoal, cuja biografia é “meu Twitter, minhas regras”, Abraham fez um último posicionamento sobre sua saída do ministério e do país: “Estou saindo do Brasil o mais rápido possível (poucos dias). NÃO QUERO BRIGAR! Quero ficar quieto, me deixem em paz, porém, não me provoquem!”, escreveu em tom de ameaça. Enquanto isso, milhares de estudantes brasileiros seguem à espera de respostas envolvendo o Enem, políticas afirmativas e a nomeação de um novo ministro da Educação, que pode demorar, visto que, em plena pandemia, o Brasil está há mais de um mês sem ministro da Saúde.

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