Toda semana, a CAPRICHO recebe mensagens de meninas contando que acreditam estar apaixonadas pela melhor amiga, mas não têm a mínima ideia do que fazer. A opinião dos especialistas é sempre muito parecida. Eles dizem, basicamente, para você não tentar se boicotar nem sair ficando com vários meninos só para ver se esse sentimento passa. Além, é claro, de defender que uma boa conversa é sempre a melhor solução. Na prática, nós sabemos que nem sempre é tão simples. Quando você está vivendo o dilema, parece que as informações e conselhos vindos de terceiros nunca te atingem por inteiro. Por isso, decidimos conversar com alguém que realmente já tenha sentido na pele o que é gostar da melhor amiga e não saber como lidar com tal sentimento .
A C.S. *, de 22 anos, namora a melhor amiga há cinco anos. Ela preferiu não ser identificada, porque apesar de o relacionamento não ser segredo para ninguém, os pais não apoiam. “Eles ainda não aceitaram o fato de eu ser homessexual. Eles sabem, mas fingem que não”, afirma.
C.S. conheceu a namorada na escola, durante o Ensino Médio. A R.M. * foi apresentada, na época, pela mãe da C.S.: “estava na cantina e minha mãe me apresentou a R.M., mas, como estudávamos em salas separadas no 1º colegial, a conversa parou por aí”. Foi só no ano seguinte que as adolescentes se aproximaram, após caírem na mesma classe.
Antes de perceber que estava sentindo algo a mais pela bff, C.S. chegou a namorar um garoto do colégio. Contudo, ela sempre notou que não curtia o relacionamento pra valer, como as outras meninas da sua idade. ” Quando terminei com o meu namoradinho, já estava sentindo algo diferente pela R.M., mas era um sentimento que eu não queria sentir. Acho que por medo e timidez “, explica C.S., que chegou a cogitar mandar um correio elegante para a amiga durante a festa junina da escola, mas voltou atrás. “Na época, a música Amigo Apaixonado, do Victor & Leo, não saía do replay”, brinca.
No terceiro ano do colegial, a melhor amiga mudou para a noite e elas começaram a se ver menos. Mas, com o vestibular chegando, C.S. decidiu também assistir a algumas aulas no período noturno e foi justamente aí que ela teve certeza de seu sentimento. ” A R.M. virou para mim, no meio da aula, e colocou a cabeça sobre a minha carteira. Na mesma hora, encostei a minha cabeça na dela. Foi tudo tão natural… E de verdade? Escutei anjos cantando, sinos tocando…”, conta.
Apesar da certeza, C.S. continuou tentando se convencer de que o que estava sentindo era errado, passageiro e confuso. No meio do caminho, ela chegou a namorar um garoto e isso a afastou da amiga. “Nós brigamos. Ficamos uns cinco meses sem nos ver ou nos falar. Ela não gostava do meu namorado. Depois que terminei, corri que nem louca atrás dela, mas ela é orgulhosa e só foi me mandar uma mensagem só no Ano Novo”, lembra.
C.S. sempre soube que a melhor amiga gostava de garotas, mas ela tinha certeza que escondia muito bem a sua paixão “proibida”. Até que, um dia, descobriu que todas as amigas já sabiam que ela estava a fim da R.M.: “depois da festinha do meu aniversário de 17 anos, vi que estava louca. Não sabia mais o que fazer! Foi aí que resolvi jogar um verde e falei para a R.M. que tinha uma menina a fim de mim e que eu não sabia como falar com ela. É claro que, na hora, ela já se tocou. Um dia, estávamos conversando no MSN e ela me disse que já sabia de tudo. Nessa hora, quase desmaiei! (risos) Foi só então que tive coragem de me abrir e mandar um dos muitos textos que já havia escrito para ela”.
Conselho da C.S.:
“Se você acha que está a fim da sua amiga, dê indiretas para ver se ela também gosta de meninas. Pergunte, converse abertamente sobre o assunto e não pense duas vezes antes de falar tudo o que sente. Nunca, em hipótese alguma, deixe para lá a sua felicidade por medo do que as pessoas possam achar de você. Privei muito tempo da minha vida por medo de falar para meus amigos quem eu realmente era. Ficava me escondendo dos outros e de mim mesma, e esquecendo que o que levamos dessa vida são momentos e lembranças. Então, se você ama mesmo, corra atrás, lute. Agora, se a sua amiga não sentir a mesma coisa por você, tente encarar o ‘fora’ como outro fora qualquer. Ele não é pior, melhor nem diferente do fora que as suas amigas heterossexuais levam dos meninos. Só não tente forçar a barra, ok? Você vai sentir se o sentimento for recíproco e notar que você pode se abrir com a amiga (ou que não pode, no caso de ela não dar nenhuma brecha). Você não é diferente por gostar de meninas.”
(*: as siglas foram usadas para preservar a identidade das personagens da matéria.)