Anedonia é um sintoma central de depressão, mas passa desapercebido
Perder a vontade e o prazer de fazer o que você mais gosta não é normal, viu?

influenciador Gustavo Foganoli, de 23 anos, fez um forte relato sobre sua luta contra a depressão e a recente internação em uma clínica de reabilitação. No vídeo compartilhado com seus seguidores, o jovem conta que está ansioso para voltar a fazer o que ama, já que, por muito tempo, ele perdeu o prazer em fazer tudo – até as suas atividades preferidas, como cozinhar, que era uma de suas grandes paixões.
Esse desencantamento descrito por Foganoli é um dos principais sintomas da depressão e tem nome: anedonia. Como explica Marcelo Heyde, médico psiquiatra e professor da Escola de Medicina e Ciências da Vida, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), trata-se de uma alteração de humor, caracterizada pela redução da capacidade em sentir prazer.
Ela acontece principalmente por uma desregulação dos circuitos do sistema límbico (que controla as emoções) e os circuitos de recompensa, ambos mediados pelos neurotransmissores serotonina, noradrenalina, dopamina e sistema opioide. “Esses mecanismos são importantes para nos gerar motivação, para nos sentirmos bem tanto durante como após uma atividade, e na capacidade de antecipar que aquela atividade será prazerosa”, explica o médico.
Marcelo esclarece que existem diferentes aspectos e intensidades da anedonia. O sintoma pode aparecer em situações simples do dia a dia, como não apreciar um hobby ou sua refeição preferida, ou em situações mais eventuais ou complexas, como encontro de amigos ou um show de seu artista favorito.
“Muitas vezes, pessoas com anedonia conseguem, sim, realizar as tarefas, mas sem o mesmo brilho nos olhos ou satisfação que tinha antes, motivadas por um senso de responsabilidade ou necessidade”, diz o psiquiatra.
Anedonia está sempre ligada à depressão?
Marcelo explica que a anedonia é um dos critérios centrais para o diagnóstico da depressão, junto com o sentimento de tristeza. “Inclusive pode existir depressão sem tristeza, somente anedonia, apesar de ser incomum”, diz o médico. No entanto, ela pode aparecer em outros diagnósticos psiquiátricos como Transtornos de Ansiedade, Transtornos de Estresse Pós Traumático e Esquizofrenia – mesmo que nesses casos ela não seja um critério diagnóstico central.
O psiquiatra acrescenta que alguns diagnósticos neurológicos como Parkinsonismo, demências e demais quadros neurodegenerativos também podem causar anedonia.
“Fora dos contextos dos diagnósticos, pode surgir em cenários em que a pessoa está exposta ao estresse crônico, situações de luto por perda. Assim como alguns déficits nutricionais, principalmente de vitamina B12”, completa.
Como tratar a anedonia?
Primeiro, como a anedonia está ligada à transtornos e outros diagnósticos, é importante buscar a avaliação para o o diagnóstico e tratamento correto, certo? Mas Marcelo acrescenta que, em situações cotidianas, existem diversas técnicas que podem ser utilizadas.
“Uma é a ativação comportamental, em que a pessoa aprende a fazer a atividade mesmo com baixa motivação, entendendo que após essa atividade ela tende a se sentir melhor. Outra é uma técnica de mindfulness e aceitação em que a pessoa acaba se frustrando menos com os sentimentos negativos”, aconselha.