No começo deste mês, uma publicação da bailarina brasileira Ingrid Silva viralizou nas redes sociais. Ela mostrava suas novas sapatilhas que haviam chegado, finalmente produzidas para sua cor de pele. A carioca, nascida e criada em comunidades do Rio de Janeiro, comemorava o fato de que, depois de 11 anos, não precisaria mais pintar suas fiéis companheiras, sempre muito claras, produzidas para meninas brancas ou amarelas. “É uma sensação de dever cumprido, de revolução feita. Viva a diversidade no mundo da dança! E que avanço, viu? Demorou, mas chegou. A vitória não é somente minha, mas também de muitas futuras bailarinas negras que virão por aí”, escreveu.
A sapatilha em questão é da marca Chacott, que a Ingrid contou em entrevista para a CAPRICHO que já usa há um bom tempo. Há 23 anos dançando ballet, só agora ela conseguiu aposentar as latas de tinta que comprava para pintar seus calçados de dança, e se sentir representada e parte de um todo. “O ballet é bem elitista. Por ter sido uma arte originada na Europa, é cara e de pouco acesso para todos. Está melhorando, mas ainda tem muita coisa pela frente, começando por mais representatividade nos palcos, que ainda pouco se vê”, conta a bailaria, que hoje, com 30 anos, faz parte da Dance Theatre of Harlem, em Nova York, nos Estados Unidos.
Há 11 anos morando na Big Apple, Ingrid confessa que já recebeu muitos olhares racistas, apesar de nunca ter sofrido racismo verbal. Ela acredita que o fato de agora existirem sapatilhas feitas para meninas negras, mesmo que ainda poucas, significa mais diversidade e inclusão. “As marcas estão muito atrasadas”, lamenta a brasileira, que explica que já existiam sapatilhas mais escuras, só que sempre com a variação de apenas três tonalidades. “O corpo negro tem muito mais que três tonalidades! Com certeza, mais meninas negras se sentirão incluídas”, afirma.
Fundadora da “EmpowHer New York”, uma plataforma online criada para dar voz a histórias femininas, Ingrid Silva esteve recentemente no Brasil, onde matou a saudade da família e cumpriu alguns compromissos de trabalho. Ela lembra que, quando foi morar nos EUA, não falava nadinha de inglês. “O frio e a cultura que fazia em Nova York também foram um choque para mim. Morar fora é sempre uma aventura”, diz.
Para as futuras bailarinas negras, que ainda pouco se sentem representadas no universo do ballet clássico, a carioca pede para terem coragem e nunca desistirem dos sonhos. “É possível, eu sou a prova disso”, empodera Ingrid, que começou a dançar aos 8 anos de idade, graças ao projeto social “Dançando Para Não Dançar”.
O ballet é arte e a arte é para todos – ou deveria ser. Viva!