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BBB20: atitudes de Daniel na casa podem ser mesmo justificadas pelo TDAH?

Após ser julgado nas redes, irmão de participante diz que ele é desligado por ter déficit de atenção; confira a opinião de especialistas sobre o assunto!

Por Isabella Otto Atualizado em 14 mar 2020, 10h02 - Publicado em 14 mar 2020, 10h02
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CAPRICHO/Divulgação

Daniel Lenhardt, de 22 anos, passou de um dos participantes mais queridos da Casa de Vidro para um dos mais polêmicos do BBB20, muito disso por causa de seus repetidos erros dentro do reality show, que resultam em punições para ele e os brothers. Daniel já perdeu muitas estalecas, na maioria das vezes, por desobedecer alguma regra, como se esquecer de colocar o microfone. Esses episódios têm irritado muitos confinados e muita gente fora da casa que, nas redes sociais, criticam o rapaz pela falta de atenção, que é vista como imaturidade por muitos. Daniel tirou tantas pessoas do sério que alguns usuários do Twitter começaram a pegar pesado nos comentários e até jurar o participante de morte. Foi aí que o irmão, Tomás Lenhardt, decidiu intervir. Em entrevista para o UOL, ele justificou essas falhas do brother como sendo culpa do TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade). “Com certeza, [os erros de Daniel] têm relação [com o TDAH], pois vemos claramente que ele fica muito mal quando acontece isso, mesmo ele não querendo que aconteça. Ele pede desculpas, diz que vai se esforçar ao máximo para não acontecer e, por mais que diminua, às vezes, acontece, é inevitável(…) Não imaginamos que seria um problema tão grave”, disse o irmão com relação ao transtorno crônico.

Reprodução/Reprodução

Em contrapartida, há quem garanta que usar o TDAH para justificar os atos do participante do BBB20 seja errado e injusto, uma passada de pano. Para esclarecer a situação, vide que aproximadamente 2 milhões de brasileiros conviva com o transtorno que não tem cura, mas tratamento, conversamos com o Romanni Souza, psicólogo criador da hipnose transformacional e professor de hipnose, e a Andréa Chaves, psicóloga especialista em saúde mental. O especialista conta que a maior dificuldade na hora de diagnosticar o problema seja diferenciar a doença crônica de uma simples falta de concentração. “Ter desatenção é diferente de ter hiperatividade. A pessoa tem dificuldade de ficar muito tempo focada em tarefas? Ou só em tarefas específicas? A impulsividade e imperatividade são disfuncionais, ou seja, atrapalham a vida da pessoa no geral?”, questiona Romanni.

 

O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade tem duas linhas de tratamento: a psicológica e a neurobiológica. Na França, por exemplo, acredita-se que o TDAH tenha questões mais ligadas ao psicológico do paciente, que podem ser tratadas com terapia. No Brasil, o transtorno é tido como neurobiológico, muito mais ligado às condições do sistema nervoso da pessoa. “Na França, tem muito mais a ver com criação. No Brasil, é encarado como algo genético”, esclarece o psicólogo. A Dra. Andréa completa: “trata-se de um transtorno multifatorial de base neurobiológica e que há uma disfunção da neurotransmissão dopaminérgica na área frontal, regiões subcorticais e região límbica cerebral, evidenciada através de estudos científicos. Na vida cotidiana, o déficit causa complicações nas relações pessoais e de trabalho, podendo dificultar o ajuste social e trazer inúmeros prejuízos. Muitas vezes são considerados ‘egoístas’, pois tem dificuldade de avaliar o seu próprio comportamento e isso afeta os demais à sua volta“.

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O diagnóstico é feito geralmente na infância e tende a se acentuar na adolescência, quando não tratado. Contudo, não basta ser desatento somente na escola para ter o déficit. Nem toda pessoa desconcentrada, esquecida e/ou hiperativa tem o transtorno. No Brasil, o diagnóstico é feito tendo como base o DSM-IV, um manual diagnóstico e estatístico feito pela Associação America de Psiquiatria para definir como é feito o reconhecimento de transtornos mentais. Romanni explica que é preciso apresentar seis ou mais sintomas estabelecidos por esse manual para ter o TDAH clinicamente comprovado. “Os seis sintomas ou mais devem persistir por pelo menos seis meses, em um grau que é inconsciente com o nível de desenvolvimento, e tem um impacto negativo diretamente sobre as atividades sociais e acadêmica/profissionais”, estabelece relatório. Desatenção e hiperatividade-impulsividade em várias esferas da vida são os sintomas mais comuns e relevantes, aliados à “perda frequente de objetos, ao esquecimento de compromissos e prazos, à dificuldade em manter atenção em atividades lúdicas ou demoradas, à falta de atenção em detalhes, à distração fácil por estímulos alheios e à dificuldade para organizar tarefas e atividades“, detalha Andréa.

Tomás Lenhardt, irmão de Daniel, disse que o brother foi diagnosticado clinicamente com o transtorno na adolescência. Por morar no Brasil, ele deve ser tratado com medicamentos, como estimulantes ou antidepressivos, e acompanhamento psicológico. Romanni, entretanto, diz que interromper os medicamentos durante o programa não é problema – salientando que os participantes podem pedir apoio psicológico no reality. “O acompanhamento terapêutico, sim, deve ser recorrente”, afirma o especialista. Ele também salienta que é importante que a pessoa diagnosticada crie estratégias para lidar com a desatenção, chegando ao ponto de se forçar mesmo a fazer certas coisas para criar uma rotina que a faça lembrar de ser menos esquecida. No caso de Daniel, ele deveria criar uma estratégia para não se esquecer mais de colocar o microfone, sabendo que tem o costume de fazer isso. A tendência à quebrar regras também pode ter relação ao TDAH. “A pessoa parece desobediente, tem dificuldade de seguir instruções, fala quando não pode falar, tem impaciência de ficar focado… Mas isso tem que ser com frequência, para se tornar disfuncional”, esclarece Romanni, que ressalta que não pode ser uma desobediência seletiva.

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A identificação do déficit é breve e pode ser dada por um psicólogo ou psiquiatra após cerca de três consultas. “Está ficando cada vez mais comum dar o diagnóstico de TDAH. Tudo é TDAH. E não tem uma prova de que é algo só biológico. Até que ponto não pode ser social? Outros dois problemas graves são: pessoas que precisam tomar remédio não tomam e pessoas que nem tem TDAH tomam“, diz o especialista, que ainda conta que os sintomas do transtorno tendem a diminuir na vida adulta em um terço dos diagnosticados. Romanni, curiosamente, usa a hipnose, um tipo de terapia breve, que dura de um a seis encontros, para tratar pacientes. “Trabalho com hipnose para tratar qualquer questão emocional. A metodologia dela ajuda a ressignificar rótulos e realidades, alterando percepções. A hipnose ajuda com técnicas para encontrar momentos de desafio na história do indivíduo e ressignificá-los. A questão da hiperatividade pode vir de um trauma da infância, por exemplo”, esclarece o psicólogo e professor.

Seria então Pyong a resposta para os esquecimentos e as infrações de Daniel na casa mais vigiada do Brasil?! O participante, sabendo do diagnóstico clínico, mesmo que não queira expô-lo, não deveria ter ainda mais atenção para evitar os deslizes? Seria a falta de esforço em si muito mais uma questão de imaturidade que o próprio comportamento desligado do participante no reality? São questões para se refletir. Afinal, nem o TDAH tem respostas concretas… “Um diagnóstico não é uma sentença, é uma possibilidade de viver melhor”, tranquiliza Andréa Chaves.

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