O mês de junho no Brasil é conhecido pelas lindas festas juninas, bandeirolas, comidas típicas e danças coreografadas. Quem nunca ouviu alguém dizer que está contando os minutos para o São João? O Brasil, que é um dos países mais ricos em cultura e mistura de povos, tem também seu significado na Amazônia. Isso mesmo, aqui esperamos muito por essa época de festividade – que acontece entre os meses de junho a outubro. Mas como funciona? Oi! Sou a Zahyra Garrido, da Galera CH, e vou te explicar tudinho!
Geralmente, toda comunidade ribeirinha (eu moro em uma dos milhares que têm na floresta), tem seu padroeiro, que é o Santo escolhido para proteger a comunidade ou o responsável por algum milagre na família daquela comunidade. E quando um devoto faz uma promessa, ele normalmente pede por alguma benção, seja de ordem espiritual ou física. Diante disso, o fiel se compromete a pagar uma espécie de penitência caso sua súplica for atendida. Aqui, na minha comunidade do Tumbira, por exemplo, somos devotos de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.
Comunidade do Tumbira – Nossa Senhora do Perpétuo Socorro
Em Tumbira, a escolha ocorreu devido a um pedido de fé e confiança feito pela professora Maria Lucia Garrido a Nossa Senhora do Perpetuo Socorro. Uma de suas filhas estava com um grave problema nos olhos, o qual os médicos diziam não ter cura. Em um momento de grande aflição, a educadora pediu a cura de sua filha à Nossa Senhora e, por sua intercessão, alcançou a grande Graça. A garota ficou bem.
Em agradecimento ao milagre recebido, ela e seu falecido esposo decidiram construir uma capela para Nossa Senhora do Perpetuo Socorro. A notícia se espalhou e mais pessoas devotas da Santa se dispuseram a ajudar na construção e na limpeza do local aos finais de semana. Até então, não havia igreja na localidade: as novenas, rezas e ladainhas eram feitas nas próprias casas dos devotos.
Todos juntos colocaram de pé a primeira Capela de Nossa Senhora do Perpetuo Socorro na Comunidade Tumbira. A inauguração ocorreu no dia 13 de Dezembro de 1991, pelo Padre José Miguel Maslanka – primeiro Padre Palotino a viver no Amazonas. E assim, nesse dia festivo e com a benção da Capela, Nossa Senhora do Perpetuo Socorro tornou-se a Padroeira da Comunidade.
As festividades em honra da Santa Padroeira ocorrem sempre no terceiro final de semana do mês de Junho, devido a outras festas religiosas que acontecem nas comunidades vizinhas, visto que, o Dia de N.Sra. do Perpetuo Socorro é 27 de Junho, entre as festas de S. João e S. Pedro.
Comunidade Santa Helena Do Inglês – São Francisco de Assis
Na Comunidade do Inglês, localizada na RDS (Reserva de Desenvolvimento Sustentável) Rio Negro, Iranduba, o Padroeiro é São Francisco de Assis. Tudo começou com um pedido de fé feito pelo Sr. Pedro Vidal de Mendonça ao Santo. Ele estava com um problema seríssimo de saúde nas suas costas, que quase o deixava impossibilitado de andar. Pela intercessão de Francisco de Assis, alcançou a cura.
Vale ressaltar, que essa devoção a S. Francisco de Assis começou com a mãe do Sr. Pedro Vidal, dona Francisca Vidal, realizava ladainhas a São Francisco de Assis, todo dia 4 de outubro. Antes de morrer, dona Francisca pediu para que seus filhos seguissem seu legado em honra a Assis.
Vidal, juntamente com Sr. Nelson Brito (presidente da comunidade) e comunitários, trabalharam para fazer uma capela para São Francisco de Assis. A construção da igreja terminou, justamente, no dia 4 de outubro (de 2004).
As festividades em honra a São Francisco de Assis têm o início no dia 26 de setembro e vão até dia 04 de outubro, dia do Santo.
Comunidade Carão – Nossa Senhora da Saúde
O Carão é uma comunidade ribeirinha que fica na RDS do Rio Negro. Ela começou a ser habitada há cerca de 160 anos, pela família do Sr José Casimiro de Farias, que veio do Maranhão e era carpinteiro. A primeira ação para que esse lugar se transformasse em uma comunidade foi o início do festejo em Homenagem a N.S da Saúde, que acontece há 112 anos. No início, o festejo era realizado nos dias 15 de agosto, todo ano, e os moradores caçavam uma semana antes para oferecer um jantar aos convidados.
A organização dessa celebração vem passando de geração para geração. Primeiro passou para Clotilde Monteiro de Farias, filha de Casimiro e seu esposo Antônio Ramos, o típico português comerciante que esteve a explorar novas terras na Amazônia. Depois passou a ser organizado pela Isaura, filha mais velha do casal e primeira professora da Comunidade até 1985. Hoje, o festejo é organizado pelos filhos e netos dela.
Vale ressaltar que Sr José Casimiro de farias já era devoto de Nossa Senhora da Saúde.
Unir a festividade com a devoção só nos traz a reflexão de que é importante agradecer, seja para um santo casamenteiro, o santo da chuva, ou até mesmo para os santos que protegem e contribuem com as preces ribeirinhas. Uma forma de elevar às mãos para louvar e comemorar o que temos de mais diverso: a cultura.