Na primeira vez em que Juli Hirata optou pela bicicleta como meio de transporte para viajar, começou seu percurso saindo de Itanhaém, litoral de São Paulo, seguindo para Antonina, no Paraná, e terminando nas Ilhas do Lagamar, divisa do Paraná com São Paulo. “Queria ir para um lugar que não tivesse acesso via carro. Daria até para fazer a pé, mas a distância é muito longa”, contou a viajante em entrevista à CAPRICHO. Hoje, Juli vive uma aventura e atravessa as Américas acompanhada de sua melhor amiga e fiel escudeira: sua bike!
Para a bióloga e ciclista, o mais importante das viagens é o que está no caminho: “Então, se você o pula usando um avião, um carro ou um ônibus, você perde o melhor”, opina. Para percorrer o continente americano, Hirata criou o projeto Extremos das Américas, que foi dividido em 13 trechos e quatro etapas: Alasca, Estados Unidos, Canadá e México. Juli já pedalou nos quatro países e todas as suas viagens estão documentadas no seu canal no YouTube! Desde 2016, a ciclista já percorreu mais de 20 mil quilômetros em cima da sua bicicleta! Mas é claro que alguns trechos precisam ser feitos com o auxílio de um avião, por exemplo.
Hirata retornou a São Paulo em em março, para participar de algumas palestras e eventos, entre eles o II Encontro Mulheres Viajantes, onde essa entrevista aconteceu. Antes disso, a aventureira estava em Latacunga, no Equador, descendo para o Sul. Em relação às distâncias que percorre, Juli afirma: “Nunca sei quantos quilômetros eu vou rodar em um dia. Eu pedalo e, quando canso, eu paro.”
Por viajar sozinha e de bike, a bióloga criou mecanismos para se proteger e manter sua família tranquila. Afinal, a América Latina é um dos lugares mais perigosos para ser mulher – e viajar solo -, de acordo com dados da ONU. “Aviso para onde planejo ir e sempre que tenho a oportunidade falo onde estou. Isso transmite segurança. Quando eu fico muito tempo sem mandar notícia, tem alguma coisa errada. Mas eu nunca deixo de dar notícias”, alerta.
Além disso, Juli é a própria mecânica de sua bike e sempre deixa suas coisas limpas e arrumadas. “Estava em um trecho bem exigente, nos Andes, e pretendo começar a subi-lo daqui um tempo. Passarei pelo túnel da Punta Olímpica, o mais alto do mundo, localizado na Cordilheira Branca, no Peru”, conta toda animada. Por isso, ela precisa estar atenta ao seu equipamento para não enfrentar nenhum problema, principalmente nessas partes mais complicadas do caminho.
Em razão da pandemia do coronavírus, a viajante está no Brasil, em situação de distanciamento social. Sua próxima aventura seria em abril, mas ela acredita que as fronteiras do Peru e Equador vão seguir fechadas, o que adiará os seus planos.
Vivendo na estrada, a brasileira já recebeu a ajuda de muitas pessoas, em maioria mulheres. “Cada pessoa é um universo que está conectado com o lugar em que você está. Recebo a ajuda de muitas mulheres. Quando uma mulher vê outra viajando sozinha, ela ajuda. Eu ganho irmãs em segundos!“, relata a ciclista, que explica sobre a vulnerabilidade de estar viajando sozinha em uma bicicleta. É mágico, mas nem sempre é fácil.
“Entra, você vai dormir aqui em casa”, “vamos comer” e “você precisa de um banho hoje, fica uns dias aqui” são algumas das frases carregadas de empatia que ela mais escuta em suas jornadas. “O cicloturismo tem isso: ele te presenteia com casas e famílias ao longo do caminho, não só com destinos de viagem“, completa.
É importante ressaltar que qualquer viagem precisa de planejamento, mas, quando você é uma mulher e pretende viajar solo, seguindo os passos de Juli Hirata, as coisas precisam ser ainda mais estudadas por questões de segurança pessoal. O mundo é seu! Não deixem que a impeçam de vivê-lo.