Demi Moore e Fernanda Torres mostram que você não precisa ser uma coisa só

Os papéis que as garantiram o Globo de Ouro mostram novas versões das atrizes e são um lembrete de que nenhum rótulo pode limitar seu talento

Por Mavi Faria Atualizado em 8 jan 2025, 16h32 - Publicado em 8 jan 2025, 16h19
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encedoras de dois dos principais prêmios da noite (Melhor Atriz de Filme de Drama e de Comédia, respectivamente),  Fernanda Torres e Demi Moore fizeram história na edição do Globo de Ouro deste ano – não só pela vitória vibrante e discursos emocionantes, mas também por provarem que, especialmente sendo uma mulher, elas não são somente uma coisa e que nenhuma idade é limite para se desafiar.

No caso da brasileira, agora a primeira a conquistar um Globo de Ouro, a atuação como Eunice Paiva em ‘Ainda Estou Aqui’ foi a possibilidade de mostrar ao público uma versão de Fernanda Torres ainda não muito explorada. Aos 59 anos, a atriz construiu o seu legado nas artes principalmente na comédia, com papéis icônicos nas minisséries ‘Os Normais’ e ‘Tapas e Beijos’.

O papel dramático e tenso desempenhado no filme de Walter Salles é diferente de qualquer imagem que o público brasileiro possa ter da atriz – um ‘meme ambulante’, como é chamada nas redes – e foi recebido como uma surpresa boa, sem questionamentos sobre o talento de Torres ou a capacidade de guiar um papel tão importante quanto esse.

Algumas pessoas podem argumentar que a carreira da atriz já havia a consagrado como talentosa, plural e potente, ou que o legado da mãe, Fernanda Montenegro, ajude a percepção de que Torres possui um talento natural, mas nenhum destes pontos diminui a conquista de conseguir se provar uma mulher que não deve ser enquadrada como uma coisa só sem receber revolta do público ou até do meio artístico.

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Especialmente por se tratar de uma mulher, nem sempre há acolhimento ou credibilidade para expor seu talento em diferentes facetas e papéis e, vindo da comédia, não é difícil ser ‘catalogada’ somente como uma atriz ‘rasa’, ‘simples’ e capaz de se manter apenas em papéis engraçados e longe da profundidade do drama.

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Essa é uma questão universal e machista que pode acometer atrizes do mundo todo e, neste Globo de Ouro, as circunstâncias uniram as duas principais premiadas nesta mesma questão. A norte-americana Demi Moore, condecorada pelo papel visceral em ‘A Substância’, trouxa esta discussão à tona em seu próprio discurso de vitória.

No palco, a atriz de 62 anos recorda uma conversa anos atrás quando uma produtora afirmou que ela era uma “atriz de pipoca” (uma expressão para filmes blockbusters que fazem sucesso no cinema) e que, apesar das bilheterias em alta, não seria reconhecida em papéis mais profundos e complexos – como se sua capacidade se limitasse a estes filmes mais ‘simples’ e ‘bobos’.

O comentário impactou tanto Moore que a levou a desacreditar em si mesma e a confiar que ela já havia feito tudo o que poderia com sua “capacidade limitante” em sua carreira como atriz.

Faço isso há 45 anos e esta é a primeira vez que ganho algo como atriz. 30 anos atrás, uma produtora disse pra mim que eu era uma atriz de filmes blockbusters, e naquela época isso significava que eu jamais poderia ganhar um troféu como esse. Poderia fazer filmes de sucesso nas bilheterias, mas achava que nunca seria reconhecida. Isso me corroeu até chegar ao ponto de aceitar: ‘Bem, talvez já tenha feito o que tinha que fazer’. Estava num momento bem pra baixo quando esse roteiro chegou, tão maravilhoso e fora da caixa. O universo disse que eu ainda não tinha terminado tudo por aqui”, afirma, em um dos momentos mais emocionantes da noite.

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Seu papel como Elizabeth em ‘A Substância’, uma atriz e apresentadora de um programa de TV que, ao chegar aos 50 anos de idade é mandada embora por não ter mais o “rosto ou o corpo desejado para as telas”, não só foi a prova de que a atriz consegue se desafiar no horror em uma atuação impecável, como também representou o próprio limite de idade imposto por Hollywood e pela própria sociedade em cima das mulheres, que sentem a pressão vital por tentar voltar no tempo e esconder qualquer sinal de idade.

O tempo, para Moore, antes do papel, parecia estagnado e a encaixava em um papel de uma atriz de uma coisa só, sem camadas ou complexidades. Entretanto, ela e Torres subiram ao palco e provaram que independente da sua atuação prévia na comédia, no romance ou na ação, o drama, o horror, a complexidade e a profundidade não estão fora do seu alcance – assim como qualquer outro gênero desejado -, e nenhum deles representa qualquer limitação em sua capacidade.

Traduzindo para a vida real: ninguém é uma coisa só e onde você está agora, seguindo um caminho nos estudos ou no trabalho, não é uma linha reta com um único final. Todos temos a capacidade de nos reinventar, explorar outros meios e de nos desafiar a ser diferente.

E você, já conferiu as atuações impactantes de Fernanda Torres e Demi Moore em seus respectivos filmes?

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