Desperdício de água aumentou pelo terceiro ano no Brasil, diz estudo
Análise feita pelo Instituto Trata Brasil e Water.org mostrou que a cada 100 litros tratados, quase 40 são desperdiçados no país
Na Semana Mundial do Meio Ambiente, um dado preocupante sobre o Brasil foi divulgado. Em um estudo feito pelo Instituto Trata Brasil e Water.org, foi concluído que o desperdício de água potável no país aumentou pelo terceiro ano consecutivo. A pesquisa mostrou que em 2018, último ano analisado, a perda chegou a 38,5% do total, que equivale a uma quantidade de mais de 7 mil piscinas olímpicas desperdiçadas por dia. No ano de 2015, o índice foi de 36,7%.
Os dados da pesquisa apontam ainda que, entre 2015 e 2018, o país aumentou em 5% a produção de água, retirando mais recursos da natureza, ao mesmo tempo em que o nível de desperdício também cresceu. Grande parte da perda acontece durante a distribuição, devido à vazamentos, erros de leituras dos hidrômetros, equipamentos de baixa qualidade e até “gatos”.
Em entrevista ao G1, Édison Carlos, do Trata Brasil, apontou que que esse descaso prejudica diretamente os mais necessitados. “Além dos problemas ambiental e econômico, ainda tem o problema social. Quando tem muita perda de água no sistema, a pressão das redes não é suficiente para atender os moradores que estão em áreas mais distantes da cidades. E essas pessoas geralmente são mais pobres“, disse.
O Instituto Trata Brasil também divulgou em março deste ano o Ranking do Saneamento, análise feita desde 2009 sobre os indicadores de água e esgoto nas maiores cidades do país com base nos dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS). Observando o ano de 2018, o relatório demonstrou que 16,38% da população brasileira ainda não tem acesso ao abastecimento de água, o que representa quase 35 milhões de pessoas. Em um cenário como esse, o desperdício de recursos potáveis é ainda mais preocupante.
No momento atual, em que enfrentamos o novo coronavírus e lavar as mãos com frequência é uma das recomendações das autoridades de saúde para se proteger da doença, a desigualdade social fica ainda mais evidente com a má gestão dos recursos. “Quando chega uma pandemia como essa, as orientações são ficar em casa e lavar as mãos. Mas tem 35 milhões de brasileiros que não têm água. Como lavar a mão assim? Não tem como cumprir as medidas na plenitude”, completa Édison.
Segundo o profissional, controlar os desperdícios é essencial para que o país melhore a distruibuição do saneamento básico para a sociedade. O estudo aponta que, se o Brasil diminuir a perda de água potável para 20% em 2033, prazo considerado para cumprir as metas do Plano Nacional de Saneamento Básico, seria economizado um volume suficiente para abastecer 30 milhões de brasileiros por um ano.
Além das perdas ambientais, o desperdício também significa um grande prejuízo econômico, pois são empregados recursos no tratamento da água, que, no final, não chega à população. Em 2018, a perda financeira foi de R$ 12,3 bilhões, enquanto em 2015 foi de R$ 9,8 bilhões.
Vale dizer que o índice de desperdício do Brasil está no mesmo patamar de nações como Peru (que tem 35%) e Congo (com 41,3%). Enquanto isso, países desenvolvidos possuem taxa menor de 20%, como Estados Unidos (que tem 12,8%) e Dinamarca (com 6,9%). Dentro do Brasil, os estados de Amazonas e Roraima apresentam os piores números, com 48% e 32% respectivamente. O cenário em Roraima é alarmante, com 73% da água tratada sendo perdida.
De acordo com Édison, para reverter essa situação, é necessário que empresas e poder público invistam na manutenção dos equipamentos, combatam fraudes e também tenham mais empenho na implementação do saneamento básico.
Precisamos cuidar cada vez melhor dos recursos naturais e cobrar o mesmo zelo de autoridades e empresas responsáveis!