Do quintal para o Cirque du Soleil: Itsa conquistou o mundo dançando

"O breaking e o hip hop me acolheram", conta Itsa, que se descobriu uma pessoa não binária na adolescência e com o apoio da dança

Por Gabriela Junqueira Atualizado em 18 fev 2021, 15h48 - Publicado em 15 fev 2021, 10h25
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CAPRICHO/Sestini/Reprodução

“Acho que a coisa que o hip hop mais me ensinou foi isso: todo mundo é igual, todo mundo está no mesmo barco, todo mundo está no mesmo tablado”, conta Isabela Rocha, mais conhecide como Itsa, vencedore da etapa nacional do Red Bull BC One, maior campeonato de breaking do mundo. Natural de Minas Gerais, hoje com 22 anos, elu teve seu primeiro contato com a dança aos 11, quando seu primo, que já dançava, se mudou para Belo Horizonte e passou a ser seu vizinho. “Tinha um muro bem baixinho que dividia nossas casas, então comecei a encher o saco para ir nos treinos com ele. No começo, era tudo uma brincadeira, porque o break é muito desafiador, e isso sempre me atraiu muito, só que um tempo depois começou a ficar sério”, lembra.

Itsa conta que o breaking ajudou elu a encontrar sua melhor versão de si e passar pelo processo de descoberta como pessoa não binária, questão que aborda em um episódio da série Until 18, da Red Bull. “Nessa mesma época, eu estava descobrindo minha sexualidade, minha identidade de gênero, e minha família não aceitou de primeira, a escola não me aceitou… Então o break e o hip hop me acolheram”, confessa.  Inclusive, o nome Itsa vem dos termos “It’s a Boy” e “It’s a Girl”.

Do quintal de casa ao Cirque du Soleil: Itsa conquistou o mundo dançando
Fábio Piva/Reprodução

Antes de todas essas conquistas, Isabela teve momentos de dúvidas e incertezas comuns na adolescência. Aos 18 anos, elu estava dando aulas de dança contemporânea em uma escola e, apesar de gostar da atividade, sentia falta de estar no palco se apresentando e sendo artista. Nesse momento, viu que uma ex-professora de balé havia postado o link de uma seletiva para fazer parte do Cirque du Soleil, uma das maiores companhia de entretenimento do mundo, e decidiu se inscrever.

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A surpresa veio quando recebeu um e-mail de convocação para a audição: “Foi um ponto de exclamação na minha vida, do tipo: ‘Você tem certeza que deseja seguir outra profissão que não seja a de artista?’. Foi um momento de decisão”. Foram dois dias de audição e Itsa passou, ficando no banco de artistas do grupo, o que significa que poderia ser chamada a qualquer momento, fosse no dia seguinte, fosse dali dez anos. Foram cinco meses aguardando, em que deixou o cursinho pré-vestibular e se dedicou totalmente a diferentes tipos de treinos, até que foi chamada no final de 2017.

“A primeira viagem que fiz foi para o Canadá, para um show que tivemos que fazer do zero. Começamos pela criação dele, que durou três meses, e depois iniciamos a turnê em países em que o Cirque nunca havia ido ou em que esteve pouquíssimas vezes”, conta. Índia, Emirados Árabe, Egito, Turquia e Líbano foram alguns dos destinos em que Itsa se apresentou entre 2018 e 2022.  Por causa da pandemia de COVID-19, elu não está se apresentando no momento, mas deve retomar a agenda de shows até o começo de 2022.

Sobre o cenário do breaking, Itsa fala que ele ainda é muito sexista, mas que existem pessoas tentando transformar essa realidade. “O que eu venho dizendo é que, no ano passado, por causa da pandemia e das conexões onlines que surgiram, criamos a rede de B-Girls do Brasil, em que minas começaram a se conectar. Fizemos até um guia anti-assédio do break“, conta. Itsa diz ainda que através dessa união surgem discussões importantes, como a necessidade da criação de fraldários e espaço para a amamentação nos locais de treinos e competições. “É preciso pensar nos elementos, na comunidade, estar em diálogo, porque tudo isso faz parte da raiz do hip hop“, garante.

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