O ciclo menstrual é idêntico aqui na Terra, na Lua ou em qualquer canto do espaço sideral. Para participar de uma missão, estima-se que sejam utilizados, em média, 3.600 absorventes ou o uso contínuo de pílulas contraceptivas para controlar o fluxo, o que, com o tempo, se torna prejudicial à saúde feminina. Como é possível melhorar esse cenário?
Ao fazerem essa pergunta, um grupo de estudantes do Colégio Liceu Franco-Brasileiro, no Rio de Janeiro, encontraram a resposta criando algo novo: o CosmoCup, um coletor menstrual pensado para facilitar a vida das mulheres no espaço.
O projeto foi apresentado em 2019 durante o Torneio SESI de Robótica FIRST LEGO League, que teve como tema “Em Órbita”. De lá para cá, a equipe conquistou o prêmio Global Innovation, da organização norte-americana FIRST – que reconhece as principais inovações desenvolvidas por estudantes de robótica em todo o mundo – e, em 2022, iniciou o pedido de patente. O grupo aguarda o resultado do INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) sobre o processo, que pode demorar alguns anos.
“Descobrimos um coletor menstrual que já está no mercado há algum tempo e várias mulheres usam e gostam. Só que teria problema, no espaço, por conta da falta de gravidade. Então, quando a mulher fosse fazer sua higiene, esse sangue se dissiparia dentro da aeronave. Então, a gente criou uma película protetora. Quando o sangue entra, não consegue sair”, explica a professora e instrutora da equipe, Rosângela Nezi.
Entre os benefícios da solução apresentada estão a praticidade, a inexistência de possíveis efeitos colaterais hormonais pelo uso de pílulas que impedem o ciclo menstrual e o fato de ser mais higiênico que absorventes. E um número impressionante: em uma missão de três anos, seriam necessários apenas 150 coletores, estimam os estudantes.
Durante a pesquisa e elaboração do projeto, a equipe composta por 11 estudantes do ensino médio, percebeu que não havia uma outra solução para as mulheres no espaço, que não o uso do absorvente ou da pílula.
“Hoje elas levam 1.100 pílulas anticoncepcionais”, conta Mariana Araújo, 18 anos, e membro da equipe, batizada de “FrancoDroid”. “Mas muita mulher não pode tomá-las ou utilizar qualquer outro método, então elas ficam impossibilitadas de se tornarem astronautas.”
Foi aí que surgiu a ideia do CosmoCup, um coletor menstrual espacial, ou seja, um reservatório pessoal de coleta de sangue menstrual. Considerando a gravidade, o coletor impede que o sangue se espalhe pela aeronave.
Para Daniel Gudin, 18, também membro da equipe, o projeto ajuda a quebrar tabus. “A gente teve que explicar para diversas pessoas e muitas não sabiam nem o que era menstruação ou a relevância disso. Homens, principalmente”, recorda o adolescente.
A iniciativa foi considerada de extrema relevância para o maior engajamento das mulheres dentro da área de ciência e tecnologia, principalmente na astronomia. Além de ser algo que facilite a participação delas em missões espaciais, o produto também tem conexão com o meio ambiente: não gera lixo e representa menos risco para a saúde das mulheres, já que neutraliza a liberação de toxinas presentes nos absorventes regulares.
Pode parecer distante, mas não é: a ciência está presente em todos os lugares e a todo momento, seja no trânsito, no supermercado, na sua casa ou nas escolas. Ela ganha forma nas pesquisas e experiências de laboratório, mas nasce, principalmente, da curiosidade humana. A cultura da Propriedade Intelectual (PI), um dos importantes pilares da economia, pode ser levada para a escola para despertar nas crianças e nos jovens o poder da invenção e inovação, pois ensina e estimula a criatividade, a pesquisa e a descoberta.
Esse é o conceito relacionado com a proteção legal e o reconhecimento de autoria de obra de produção intelectual, que garante ao autor o direito, por um determinado período, de explorar economicamente sua própria criação. A propriedade intelectual, portanto, protege a informação e o conhecimento contido em um objeto. Ideias como a do CosmoCup deram tão certo, que agora está passando pelo processo de depósito de patente para proteger e valorizar, ainda mais, suas criações.