Esperamos que ninguém mais ache que roupas possam interferir em crimes de estupro. Esperamos também que ninguém mais culpe a vítima dizendo que “ela pediu, pois estava usando uma saia muito curta”. Esperamos, mas sabemos que comentários machistas do tipo ainda acontecem. Muitos, inclusive, vem de mulheres, que foram criadas em um ambienta extremamente misógino e ainda não perceberam que a culpa do estupro é, na realidade, apenas do estuprador.
Uma exposição idealizada pela Universidade do Kansas foi criada justamente para quebrar esse tabu errôneo de que roupas e mulheres são culpadas pelos assédios que sofrem diariamente. O intuito da instalação itinerante, intitulada What were you wearing? (“O que você estava vestindo?”), é mostrar que, na maioria dos casos, as mulheres estavam vestindo roupas “normais”, como calça jeans, camiseta e até mesmo pijama. Porque, sim, estupros também acontecem dentro de casa, e os maridos/pais podem ser os agressores. Na verdade, pesquisas realizadas pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), desde 2011, mostram que quem mais comete o crime são homens próximos às vítimas, e 70% dessas vítimas são crianças e adolescentes.
Por mais nojento que possa ser, a exposição traz roupas de crianças, como um vestidinho rosa muito fofo. A dona da roupa tinha seis anos de idade quando foi estuprada. A What were you wearing? já passou por algumas cidades dos Estados Unidos e está atualmente na cidade de Bruxelas, na Bélgica. O intiuito principal é estimular os visitantes a se perguntarem se a roupa tem mesmo alguma parcela de culpa nos casos de estupro e se as mulheres “estavam pedindo” alguma coisa.
Durante exibição nos EUA, o jornal 41 Action News fez uma reportagem bem bacana sobre a intervenção. Apesar de estar toda em inglês e não ter legendas, dá para ter uma noção de como a What were you wearing? funciona.