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I choose myself: a Cinderella de Camila Cabello (e da Amazon) é icônica

É uma adaptação de um conto de fadas pra assistir sem pretensão, cantar as músicas famosas e se divertir - mas também está longe de ser só isso

Por Isabella Otto 11 set 2021, 10h05

Desde os anos 50, adaptações de Cinderella são feitas, algumas mais clássicas, outras mais modernas. Talvez seja unanimidade que a melhor até hoje seja A Nova Cinderela, com a Hilary Duff, clássico das comédias românticas teen de 2004, mas ouso dizer que a Cinderella de Camila Cabello é a melhor adaptação dos últimos tempo da história encantada da Disney!

Camila Cabello, no papel de Cinderella, caminhando por uma gramado, segurando um saco de tecidos e com um sorisso no rosto. Atrás dela, aparece o castelo do Príncipe
Amazon Prime Video/Divulgação

O filme é recheado de músicas do começo ao fim, e até alguns diálogos foram musicalizados em forma de rap, o que pode ser cansativo para alguns. Contudo, as canções escolhidas, músicas já famosas, de Ed Sheeran a Madonna, têm tudo a ver com a trama e foram muito bem adaptadas. As coreografias e os figurinos são lindos, o Fado Madrinho de Billy Porter é preciso, a participação especial de James Corden é divertidíssima, o remake traz diversidade, não ignora as raízes latinas de Cabello e é empoderado sem ficar forçado. Ah! E a química da cantora com Nicholas Galitzine, que dá vida ao Príncipe Robert, está bem legal de ver.

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Críticos ao redor do mundo não curtiram, é preciso admitir. Teve até jornalista dizendo que a maior falha do musical são justamente as mulheres. Explico: na adaptação da Amazon Prime Video, as meias-irmãs da Ella não são ruins como na história original e até a madrasta, interpretada pela Idina Menzel, tem o seu arco de vilã suavizado, fazendo ela parecer uma vítima da sociedade. E ela é. Pra mim, a narrativa das personagens femininas do filme é um dos grandes pontos altos! Se ainda hoje mulheres têm seus sonhos interrompidos simplesmente por serem mulheres (vide, por exemplo, o que está acontecendo hoje com as esportistas, e não apenas elas, do Afeganistão), imagina o que não acontecia nas pequenas vilas do século XIX? Ser bad ass é bem diferente de ser uma pessoa ruim.

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“I choose myself”

Uma das falas mais marcantes da Ella de Camila Cabello é dita quando a jovem precisa escolher entre ela – e seu sonho de ser uma grande estilista – e o príncipe; e ela não pensa duas vezes! A princesa da adaptação, que definitivamente não tem nenhuma aspiração em entrar para a realeza, deseja seguir o seu caminho e vai contra o que os contos de fadas clássicos pregam: que a mulher precisa de um príncipe encantado para ser feliz. A gente só precisa da gente mesmo e de pessoas que esteja dispostas a acreditar e apostar em nossos sonhos, mesmo que o mundo diga que aquilo não é para nós.

Billy Porter, no papel de Fado Madrinho da Cinderella, segurando uma varinha de condão e olhando para ela com cara de concentração
Amazon Prime Video/Divulgação

“Sapatos femininos são assim. Até a magia tem limites”

Quando o Fado Madrinho presenteia Ella com um sapatinho de cristal, em um passe de mágica ela reclama que eles são desconfortáveis, ao que o Fado responde que calçados femininos são assim mesmo. Apesar de até a magia ter limites, o Fado consegue tornar o salto um pouco mais “usável”. Parece uma cena besta e engraçadinha, mas a fala da personagem de Billy Porter é um cutucão nos padrões estéticos, que, por inúmeras vezes, faz a gente acreditar na ideia de que é preciso sofrer para alcançar um certo tipo de beleza e que ser mulher é isso: ter que se submeter a esses pequenos sofrimentos diários em busca de uma aparência que nos dizem ser a perfeita. Plot twist: nada a ver.

Imagem de Camila Cabello, no papel de Cinderella, olhando para o céu, com as mãos em posição de prece, com feições esperançosas
Amazon Prime Video/Divulgação

“O mundo não precisa de mais uma sonhadora”

É com esse trecho da canção Dream Girl, de Idina Menzel, com remix do icônico Nile Rodgers, que a madrasta é humanizada, o que incomodou tantas pessoas por aí. Contudo, a música traz uma mensagem positiva sobre como deixarmos de viver nossos sonhos para atender às expectativas alheias, normalmente estipuladas por uma sociedade patriarcal, podem causar traumas e frustações permanentes. Ninguém para de ser vilã do dia para a noite, ou no tempo de uma canção, mas como questiona o filósofo Jean-Jacques Rousseau, será que o homem não nasce bom e a sociedade é quem o corrompe?

“Só quero fazer a minha parte para corrigir um sistema falho”

Pra mim, um dos maiores vilões da Cinderella da Amazon é o Rei Rowan, interpretado pelo ma-ra-vi-lho-so Pierce Brosnan. Só que, ainda assim, ele não é uma pessoa realmente malvada, ele também só se deixou consumir por expectativas alheias ligadas ao trabalho. No caso, servir à Coroa. E o filho dele, o Príncipe Robert, é a personificação do que um dia ele foi e deixou de ser. Robert não quer se casar por dinheiro ou poder, ele quer se casar por amor. Mas ele não quer um amor que diminua a mulher. Ao ir atrás de Ella, por quem se apaixonou à primeira vista (oops! Clichê), ele compra o vestido que ela estava tentando vender no centro da vila mas ninguém estava querendo comprar, primeiro porque ela era uma mulher, e mulher não pode ser comerciante ou empreendedora, e porque ela é uma mulher pobre, e todos duvidam de sua capacidade e acham que ela roubou o vestido que estava vendendo. Ao dizer que queria comprá-lo, Ella questiona sobre ele só estar fazendo aquilo por dó, ao que Robert responde: “Não, só quero fazer a minha parte para corrigir um sistema falho”. E olha que muitos príncipes encantados compactuaram com esse sistema, então não faz mais do que a obrigação mesmo, viu?

“Não vai me deixar ter um lugar à mesa?”

Gwen (Tallulah Greive), a irmã do príncipe, tem o sonho de governar e é cheia de ideias revolucionárias e positivas para a comunidade, mas que são podadas pela Coroa. Afinal, ela é uma mulher e ~os homens sabem o que é melhor para ela e para o mundo~. Enquanto Robert se vê pressionado por um futuro que ele não deseja, Gwen só quer uma chance de ser Rainha e colocar suas ideias em prática. Ela só quer ter seu lugar numa meia cheia de homens. E ter voz, assim como sua mãe: “É exaustivo sentar ao seu lado e ficar sorrindo, como se eu fosse um enfeite, sem poder falar nada”, diz finalmente a Rainha Beatrice (Minnie Driver) para o marido no final do filme.

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