Em uma coletiva de imprensa realizada na última terça-feira, 12, o Instituto Butantan apresentou novos dados sobre a CoronaVac, vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac, e revelou que a vacina possui 50,38% de eficácia global, número considerado superior ao cobrado pela Organização Mundial da Saúde. Depois de tantos meses enfrentando a pandemia de coronavírus, a imunização dos brasileiros parece estar enfim cada vez mais próxima de acontecer – mesmo que com muitas ressalvas.
Uma delas, e talvez a mais perigosa, são os antivacinas. Isso porque, desde o começo da quarentena no Brasil, fake news e teorias da conspiração bizarras estão sendo compartilhadas em massa nas redes sociais. Em um cenário em que o número de casos só aumenta e o país bate novos recordes diários de mortes, com mais de 207 mil vidas perdidas para a COVID-19, lutar contra a desinformação e conscientizar a população sobre a importância da vacinação é fundamental para o combate da pandemia.
Pensando nisso, a CAPRICHO separou alguns fatos importantes sobre a CoronaVac, vacina que está mais próxima de ser aprovada pela Anvisa:
1. A CoronaVac garante a imunização através do vírus inativado, prática usada há mais de um século
Para ensinar o sistema imunológica a se defender da SARS-CoV-2, a CoronaVac age usando o vírus inativado. Segundo informações do Instituto Butantan, divulgadas no site do governo do estado de São Paulo, primeiro o vírus é isolado em laboratório e, em seguida, os cientistas infectam células com o ele para que se multiplique. Depois, eles são coletados e inativados. “Por ser um vírus morto, a vacina é muito segura e não apresenta nenhum risco de contágio. Uma vez que nosso sistema aprende a identificar o vírus, ele forma células de memória imunológica que vão atuar a cada vez que tivermos uma exposição“, explica o médico infectologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Evaldo Araújo para a CAPRICHO. A utilização do vírus inativado é usado em outras vacinas, como a da poliomelite, desenvolvida na década de 1950, a da hepatite A e a da raiva.
2. A CoronaVac é a única vacina em produção no Brasil
“No Brasil a única vacina já em produção é a CoronaVac. A vacina da AstraZeneca, de Oxford, deve entrar em produção em breve”, informa o infectologista. Até 14 de janeiro, o Butantan já havia produzido 4.800.000 doses, de acordo com a CNN, que se somam às mais de 6 milhões de doses vindas da China. Segundo previsão da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz), o Brasil deve ter 100% das doses produzidas até o fim de agosto.
3. A taxa de eficácia da vacina de 50,38% é boa
A taxa de eficácia global da CoronaVac, divulgada nesta semana, mostra que ela está acima da exigida pela OMS. Na prática, quem toma a vacina tem 50% de chance de não pegar a doença e 50% de pegar e ser assintomático ou desenvolver sintomas muito leves. Além disso, “quem toma a vacina do Butantan não tem nenhuma chance de evoluir para estado moderado ou grave, e de ser hospitalizado”, esclareceu o Instituto Butantan nas suas redes sociais. “Os estudos mostram que é uma vacina segura, com um rigor científico extremo. O impacto na população em casos graves e moderados de COVID-19 são estupendos”, disse Sérgio Cimerman, infectologista do Hospital Emílio Ribas e coordenador científico da Sociedade Brasileira de Imunização, durante coletiva de imprensa.
4. Não se deve tomar a 1ª dose da CoronaVac e a 2ª de outra vacina
As vacinas desenvolvidas contra o coronavírus possuem duas doses, a 1ª para criar a defesa e a 2ª para reforçá-la e torná-la mais duradoura. Mas e se o imunizante acabar e a pessoa ainda tiver que tomar a 2ª aplicação? Pode recorrer à outra droga desenvolvida? Quem responde é o infectologista Evaldo Araújo: “Nenhum estudo fez o que chamamos de intercambialidade, ou seja, usar marcas diferentes de vacina, então, devemos tomar sempre a mesma marca”, garante. Além disso, o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco, disse para o G1 que “há risco de reação adversa grave para quem tomar doses de vacinas diferentes”.
5. A vacinação está programada para começar em janeiro
O governador João Dória anunciou que a vacinação deve ser iniciada em 25 de janeiro no estado de São Paulo. Na 1º fase, o foco será vacinar trabalhadores da saúde, indígenas, quilombolas e pessoas com mais de 60 anos de idade. Já o governo federal pretende iniciar a vacinação entre o final de janeiro e o início de março. Segundo o ministro da saúde Eduardo Pazzuelo, 260 milhões de doses da Astrazeneca – que imunizaria 130 milhões de brasileiros – foram garantidas, além de 42 milhões de doses da vacina que for desenvolvida pelo consórcio global Covax Facility. Depois de meses em dúvida, o governo anunciou a compra de 100 milhões de doses da Coronavac do Instituto Butatan, sendo que 46 milhões serão entregues até abril.
Na última sexta-feira, 15, o Ministério da Saúde cobrou entrega imediata de todas as 6 milhões de doses que o Butantan importou “para iniciar a logística de distribuição para todos os estados da federação de maneira simultânea e equitativa”, segundo trecho do documento enviado a Dimas Covas, diretor do Instituto. O Governo de São Paulo deve recorrer ao STF e o Instituto Butantan emitiu uma nota oficial confirmando que recebeu o ofício e questiona quantas doses ficarão em São Paulo, estado mais populoso do país.
6. A CoronaVac não será obrigatória
Nenhum cidadão será forçado a tomar a vacina contra a COVID-19, entretanto, ele pode estar suscetível a medidas restritivas, caso não se imunize, para não colocar a saúde coletiva em risco. Entre essas medidas, estão a “restrição ao exercício de certas atividades ou à frequência de determinados lugares, desde que previstas em lei, ou dela decorrentes”. Esse tipo de obrigatoriedade não é uma novidade e já existe para uma série de vacinas, como a contra a febre amarelam que é exigida em mais de 120 países do mundo.
7. A CoronaVac não transforma ninguém em jacaré
A vacina chinesa não provocou efeito adverso em mais de 94,7% das 50.000 pessoas que participaram do estudo realizado na China. Entre os efeitos registrados em 5,4% dos participantes, estiveram dores no local de aplicação, fadiga e febre moderada, reações tidas como leves. “Os efeitos colaterais mais comuns da CoronaVac são os habituais de qualquer vacina: um leve desconforto no local da injeção foi o mais comum. Nada excepcional, nada grave e… E ninguém virou jacaré [como disse o presidente Jair Bolsonaro]“, garante o médio Evaldo Araújo.
Outra teoria da conspiração envolvendo os imunizantes contra a COVID-19 diz que o bilionário Bill Gates estaria planejando colocar microchip nas vacina, após ele dizer que, futuramente, “teremos alguns certificados digitais” de quem desenvolveu o coronavírus e foi vacinado. A fala de Gates, contudo, foi tirada de contexto e rapidamente a afirmação de que ele planejava desenvolver um microchip e inseri-lo nas vacinas viralizou. Não passa de uma notícia falsa.
8. Mais de um milhão de pessoas já foram vacinadas com a CoronaVac no mundo
Ao redor do mundo, mais de um milhão de pessoas já foram imunizadas com a droga chinesa e estão em segurança. “É importante dizer que a CoronaVac já está registrada e em uso na Indonésia, onde o presidente foi o primeiro a se vacinar, na Turquia e na China”, aponta o infectologista Evaldo Araújo. “Para a proteção total contra a infecção [reduzindo a circulação viral na sociedade], temos que atingir a chamada imunidade de rebanho. E, para isso, praticamente 100% da população brasileira tem que receber a vacina [70% dela já é um bom número]. Então, o que peço a todos é que tomem a vacina, e digam que é eficaz e segura”, aconselha o médico.
9. Não se deve parar de tomar os cuidados necessários após a vacinação
Muitas pessoas acreditam que após serem vacinadas poderão voltar a viver normalmente e não precisarão tomar mais nenhum cuidado. Entretanto, Michael Ryan, diretor de emergências da OMS, explicou que as vacinas não são um sinônimo de que a pandemia acabou, reforçando o a importância do distanciamento social e o uso de álcool em gel e máscara.
A realização de festas e eventos com aglomerações não devem voltar de imediato também. O vice-presidente regional da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), o infectologista Jose Geraldo Leite, explicou para o G1 que o recomendado é que esses eventos aconteçam apenas após metade da população estar imunizada.
10. Quem já teve COVID-19 também pode tomar a CoronaVac
“Pelos conhecimentos atuais, acredita-se que mesmo que quem já teve a COVID-19 possa se beneficiar da vacinação”, disse o infectologista Leonardo Weissmann, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia e médico do Instituto de Infectologia Emílio Ribas para o Canal Tech. Isso porque a vacina pode ofecer uma imunização mais forte e duradoura, garantindo mais segurança mesmo para quem já desenvolveu a enfermidade. Assim, a recomendação é que todos se vacinem, mesmo aqueles que já tiveram a COVID-19, porque pouco se sabe sobre a imunidade desenvolvida após a doença e ela pode ser variável de acordo com cada caso.
11. A CoronaVac não é recomendada apenas para pessoas que fazem terapias imunossupressoras
Segundo o Instituto Butantan, a vacina não é recomenda apenas para pessoas que realizam terapias imunossupressoras – ou seja, que reduzem a eficiência do sistema imunológico -, como a radioterapia, a quimioterapia antineoplásica, imunossupressores para induzir tolerância a transplantes, corticoides por uso prolongado e outras, já que esses podem afetar a resposta da vacina.
12. De imediato, a CoronaVac não deve ficar disponível em clínicas particulares
Segundo a ABCVAC (Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas), a vacina só deve estar disponível na rede particular no fim de 2021 ou começo de 2022. “Não existe qualquer previsão de abastecimento de vacinas contra a COVID-19 para o mercado privado, pois toda a produção mundial está dedicada ao pleno atendimento dos governos”, disse a associação através de uma nota. De acordo com Gustavo Mendes, gerente de medicamentos da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), vacina emergenciais contra a doença não devem ser comercializadas e apenas usadas institucionalmente, sendo “destinadas a programas de governo, programas específicos para que se possa ter um controle e que fique muito claro que é uma autorização de uso emergencial”, explica.