
Internet pode ser maior aliada ou inimiga da educação financeira do jovem
Malu Lira aprendeu sobre finanças na internet e hoje ajuda outras crianças e jovens a se aproximarem do tema e não caírem em algumas armadilhas das redes
os 8 anos de idade, a amazonense Malu Lira usou a internet para pesquisar como poderia ficar rica em um mês. Ela tinha o desejo de viajar pelo mundo e realizar tantos outros sonhos. Mas logo no primeiro vídeo que viu sobre o tema percebeu que não ia construir riqueza em tão pouco tempo. “Descobri que não era só guardar dinheiro numa latinha, existem os investimentos, a taxa de liquidez, a inflação, o fato de que os outros países afetam nossa economia“, diz em papo com a CAPRICHO.
Ela também descobriu naquela época que muitos jovens não têm acesso a essa educação financeira. Não pela falta de conexão com a internet ou carência de conteúdo sobre o tema, mas pelo distanciamento que existe em relação ao tema. Hoje, aos 14 anos, Malu tem 15 livros publicados sobre educação financeira para crianças e jovens, além de ser idealizadora do Projeto ‘Malu Finanças na Escola’, que oferece soluções para a educação financeira para estudantes, pais, professores e gestores públicos.
Nas redes, ela cria conteúdos que gostaria de achar na época que começou a pesquisar sobre o assunto e chama a nossa galera para tomar consciência de que “o dinheiro não é o herói e nem o vilão da história, ele é um ajudante”.
Internet: aliada ou inimiga da educação financeira?
A internet foi, para Malu e para seus pais também, a porta para o conhecimento sobre finanças. “Meu pai era de uma comunidade no interior do Amazonas, minha mãe de uma comunidade ribeirinha lá no interior do Pará, e eles não tinham conhecimento sobre essa área dos investimentos. Começamos investir depois que eu comecei a estudar sobre isso e eles me acompanharam”, conta.
Ela reflete que se não tivesse sido a internet, eles não chegariam ao aprendizado, ao mesmo tempo, alerta para a falta de controle e fiscalização do que é tratado no ambiente digital. “É muito doido observar que a maioria das crianças de hoje, mesmo tendo acesso à ferramenta valiosa que é a internet, não têm o conhecimento de como usá-la de maneira sábia”, analisa Malu.
A jovem destaca como as redes sociais instigam o consumismo desenfreado e trazem uma visão distorcida sobre o dinheiro. “Com a tecnologia, tudo é muito rápido: modas vêm e vão, surgem novas trends, pessoas ficam famosas do dia para noite. A gente sente que tem que mudar toda hora o guarda-roupa e frequentar os mesmo lugares que todo mundo está indo”, analisa.
Ela continua: “As pessoas veem as vidas luxuosa de influenciadores, e querem enriquecer de forma rápida, aí acabam caindo em jogos de apostas, ou acreditando que não precisa de escola, é só virar influenciador para ganhar rios de dinheiro”.
Malu relembra uma frase presente no livro ‘Mentes consumistas’*, a médica psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, que diz que hoje valorizamos muito mais o ter do que o ser. “Isso define muito bem a nossa sociedade, não apenas a minha geração. Não gosto de colocar a culpa só em nós, jovens, é o momento de agora como um todo”, diz.
Para Malu, “o dinheiro é um pedaço de papel que nos dá poder aquisitivo para ter uma boa qualidade de vida, mas também o poder de doar e contribuir na vida de outras pessoas”. Ela alerta nossa galera para não tratar dinheiro como tabu ou colocar ele como o culpado pela ganância das pessoas. “Sim, as pessoas usam o poder aquisitivo para fazer coisas ruins também. Mas sempre o que define como você vai usar esse poder financeiro, que o dinheiro traz, é o seu próprio caráter”, afirma.
De olho no futuro, com os pés no presente
Aprender o que é o dinheiro e como lidar com ele é uma tarefa que começa na infância, defende a jovem. “Quando algum colega diz que o dinheiro não é tão importante assim, eu sempre rebato com exemplos práticos, como aquelas pessoas que estão pedindo dinheiro para comprar um remédio ou para alimentar a família. Não podemos ignorar essa situação”, conta.
Malu diz que, para ela, é triste ver amigos que não entendem nada sobre dinheiro e nem buscam aprender. “A pessoa não vai conseguir se sustentar de maneira saudável no futuro, se ela não souber sobre educação financeira”, lamenta. A jovem diz que se queremos um Brasil mais próspero, que sabe aproveitar as riquezas culturais e naturais que temos no nosso território, precisamos começar a plantar as sementes.
Ela desabafa: “É muito cansativo ver tantas pessoas dizendo que o futuro está nas crianças e nos jovens. Ok, mas o que vamos fazer agora no presente? “É aqui que começa”.
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