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Mari Ferrer volta às redes com depoimento forte: ‘viver morta por dentro’

Após seis anos do caso, Mari Ferrer relata como lida com o trauma e a busca incessante por justiça em vídeo publicado no Instagram

Por Juliana Morales Atualizado em 29 out 2024, 15h20 - Publicado em 16 set 2024, 17h00
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caso Mari Ferrer ficou amplamente conhecido em 2018, após a jovem denunciar ter sido vítima de estupro em uma balada em Florianópolis, e também pela forma que o crime foi tratado posteriormente pela Justiça. Depois de um tempo afastada das redes sociais, Mariana publicou, no último domingo (15), um depoimento tocante em vídeo na sua conta do Instagram.

No post em formato de carta aberta para si mesmo, a jovem mineira conta que, mesmo após seis anos do crime, as memórias ainda geram sofrimento e dor. “Ainda assim eu a senti. Eu mesma, aquela garota anos atrás, senti sua dor, solidão, desespero, sua tristeza poderosa”, declara sobre como o trauma ainda é presente na sua vida. Ela diz que o gatilho pode vir por meio de um tema, um cheiro, ou certas palavras que lhe fazem voltar no tempo. “As escadas escuras, a amnésia temporária, os meus pedidos de ajuda em vão”, descreve algumas das lembranças doloridas.

O caso Mari Ferrer

Em dezembro de 2018, quando o crime ocorreu, Mari Ferrer, que era modelo e influenciadora digital, tinha 21 anos e era moradora de Florianópolis. Ela relatou à Polícia Civil que havia sido estuprada em um famoso beach club de Santa Catarina, chamado Cafe de La Musique. Ela era embaixadora da casa e estava no local a trabalho, para “gravação da propaganda de Verão”.  Investigações policiais apontaram André de Camargo Aranha, comerciante, na época com 41 anos, como autor do crime.

Além da denúncia oficial, Mari também relatou a violência nas redes sociais na época e disse que chegou a pedir ajuda para as pessoas que estavam com ela naquela noite, mas ninguém a ajudou. A jovem chegou até a publicar conversas com duas pessoas que estavam com ela na noite da violência. Após o desabafo, Mariana recebeu o apoio de influenciadores e artistas, além de comentários de advogadas dispostas a ajudar no processo de investigação. Na ocasião, ela falou sobre a dificuldade de ser ainda mais exposta, mas disse que precisava dessa repercussão para conseguir a justiça.

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O julgamento em 1ª Instância ocorreu em setembro de 2020 e quem bateu o martelo foi Rudson Marcos, que hoje não atua mais na na Vara Criminal. Meses depois, Henrique Ávila, integrante do Conselho Nacional de Justiça abriu uma reclamação multidisciplinar contra Rudson. Segundo ele, a atitude do juiz durante audiência foi chocante e contribuiu para a humilhação a vítima.

Na audiência, que viralizou na internet na época, Cláudio Gastão da Rosa Filho, advogado de André de Camargo Aranha, tem falas questionáveis e machistas em diferentes momentos, e chega a dizer que “graças a Deus, não tinha uma filha como Mariana”. O juiz Rudson Marcos demora para intervir, dando voz de poder ao homem. Em setembro de 2021, a absolvição foi mantida pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC) em segunda instância.

Após a repercussão do caso, em 2021, foi sancionada a Lei Mariana Ferrer, contra a humilhação de vítimas de violência sexual em audiências. Nós, da CAPRICHO, noticiamos todo o caso. Você pode ler mais a respeito aqui.

Seis anos depois, Mariana diz, no vídeo recente, que ainda está caminhando para essa justiça, “apesar de estar custando tudo: a juventude, o tempo, amizades, relacionamentos e sonhos”. O processo criminal (de estupro de vulnerável) aberto por ela está em fase de recurso nos Tribunais Superiores.

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Hoje, aos 27 anos, Mariana cursa graduação em Direito e faz estágio no Ministério Público de Minas Gerais. Em uma artigo publicado pelo órgão público, onde ela trabalha, a mãe da jovem conta que existem uma Mari antes do delito e outra depois.

“Ela era uma menina sonhadora, alegre e sociável mas, isso tudo, muda depois de ser dopada e violentada em 2018. Ferrer se fecha para o mundo e mesmo quase 6 anos depois do crime vive reclusa dentro de casa, estudando e estagiando de forma integralmente virtual”, conta a mãe, que acrescenta que a garota foi diagnosticada com síndrome do pânico, estresse pós-traumático, fobia social, terror noturno e depressão.

O texto ainda revela que Mariana convive somente com familiares mais próximos, “enquanto se empenha passo a passo para superar efeitos traumáticos da violência sexual e dos inúmeras outros crimes que sofreu durante a busca pela condenação de seu algoz e assim, conseguir recuperar, aos poucos, a sua vida perdida”.

“Sonha que, com a sua futura profissão, possa proporcionar a todas as vítimas de crimes contra a dignidade sexual, o acolhimento e proteção que não teve antes, mas que pontua que agora tem tido”, finaliza.

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