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Moradoras denunciam estupros durante intervenção militar no Rio de Janeiro

Sobre revista ilegal de homens em mulheres, garota revela: 'se não deixar, leva tapa na cara'.

Por Isabella Otto Atualizado em 6 out 2018, 10h01 - Publicado em 6 out 2018, 10h01

No início do ano, foi anunciada a intervenção militar em comunidades do Rio de Janeiro. Vila Kennedy, Vila Vintém e Rocinha são alguns dos lugares que receberam e continuam recebendo a atuação das Forças Aramadas. O intuito da ação de segurança, assinada pelo Presidente Michel Temer, em fevereiro de 2018, é minimizar o preocupante quadro de violência na “Cidade Maravilhosa”. Um relatório divulgado recentemente, contudo, mostra que outro tipo de violência anda ocorrendo durante as intervenções.

NurPhoto/Getty Images

De acordo com o Circuito de Favelas por Direitos, realizado pela Ouvidoria Externa da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, assédios e estupros por parte de policiais vem ocorrendo durante as ocupações aramadas. Foram visitadas 15 comunidades e moradores denunciaram os casos. “Eles entraram numa casa que era ocupada pelo tráfico. Lá tinha dois garotos e três meninas. As meninas eram namoradas de traficantes. Era pra ser todo mundo preso, mas o que aconteceu é que os policiais ficaram horas na casa, estupraram as três meninas e espancaram os garotos. Isso não pode estar certo“, informa relato publicado no jornal El País.

Outra garota ainda revelou que, apesar de saber que apenas policiais mulheres podem revistar outras mulheres, não é uma opção dizer não à abordagem de um homem. “Se não deixar, leva tapa na cara”, disse. A jovem ainda contou que as meninas são constantemente chamadas de “piranhas” e “vagabundas” pelas autoridades. “Conversamos com meninas de 8, 10 anos e elas narram as situações de tortura, de feridos, das mortes, onde se escondem em tiroteios com uma naturalidade”, revelou Pedro Strozenberg, ouvidor-geral da Ouvidoria Externa da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, ao El País.

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Não é de hoje que autoridades abusam do poder para humilhar e violar o espaço do outro. Nos conflitos do Oriente Médio, há relatos de soldados que invadem casas e estupram jovens mulheres e crianças. Em 2016, uma síria chamada Abdullateef Khaled postou um vídeo nas redes sociais alertando as pessoas que garotas sírias estariam se matando por medo do estupro em massa que poderia estar perto de acontecer, já que, naquela época, o Exército do País estava prestes a invadir Aleppo. A relação de dependência-poder vai além! Em agosto deste ano, chegou ao conhecimento de todos que meninas são exploradas sexualmente no Pará em troca de alimento. Donos de balsas detentores do poder, que, no caso, é a comida, abusam de jovens meninas que passam fome e se submetem a essa realidade por uma mistura de fatores, como necessidade e falta de conhecimento sobre a terrível situação a qual são submetidas.

Em março, Marielle Franco foi assassinada no Rio de Janeiro. A socióloga, negra, vereadora e moradora da Favela da Maré era conhecida por seu posicionamento pessoal e político contra a intervenção militar. Sete meses após sua morte e a morte do motorista Anderson Pedro Gomes, o crime ainda não foi solucionado. Segundo relatório divulgado pela Anistia Internacional, Comissão Interamericana de Direitos Humanos e ONG Front Line, o Brasil é o país que mais mata ativistas no mundo.

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