Ser nerd ou geek significa ser conhecedor de algo específico e se aprofundar nessa área, seja ela a matemática, o universo medieval de Senhor dos Anéis, uma série de games ou histórias em quadrinhos. Esse é o caso da Gabriela Franco, jornalista especializada em cultura pop, feminista, apaixonada por HQ’s e idealizadora do MinasNerds, um coletivo que luta pela representatividade feminina no meio geek e nerd .
A ideia do coletivo surgiu logo após Gabi ser banida de um grupo misto de discussão na internet por ter questionado a postura machista de um usuário. “Sempre me questionavam se eu era realmente mulher e se eu realmente entendia do assunto. Cansei de ser atacada e pensei: ‘não posso ser a única que curte HQ, games, RPG, cosplay . Vou criar um grupo só de meninas, um local seguro, onde eu possa falar sobre meus hobbies e minhas paixões, sem sofrer assédio moral e violência'”, conta.
Em março, o MinasNerds foi lançado e logo a jornalista descobriu que não estava sozinha MESMO. Hoje, nove meses depois, o grupo do coletivo no Facebook já tem mais de 1.700 meninas nerds, de diferentes idades e estados, cheinhas de orgulho de serem quem são. ” Não sei de onde os caras tiraram a ideia de que meninas não podem gostar de super-heróis ou games. Eles acham que estamos encarnando uma personagem, fazendo tipo para conquistá-los . Não, queridos, o mundo não gira ao redor de vocês”, lacra – que verbo mais maravilhoso para se usar aqui – Gabi.
Recentemente, no dia 31 de outubro (sim, no Dia das Bruxas!), o coletivo teve mais uma conquista: o lançamento do site minasnerds.com.br . Algumas meninas do grupo se uniram, discutiram a ideia, organizaram conteúdos e, é claro, tiraram dinheiro do próprio bolso para que o projeto saísse do papel. “No pain, no gain”, brinca Gabi, que está mais orgulhosa do que nunca: ” se um boy me intimidasse: ‘ou eu ou os gibis’, pode ter certeza de que eu nunca mais olharia na cara dele . Ninguém mais vai me exigir carteirinha de nerd”, desabafa a jornalista.
O principal intuito de todo o projeto, seja do coletivo, seja do site, é dar voz às minas nerds de todo o mundo – mas principalmente do Brasil. “Queremos que as roteiristas, ilustradoras, programadoras, criadoras de RPG e jogos de tabuleiro, gamers, designers e jornalistas ganhem espaço nesse meio”, a Gabriela explica.
Além disso, as garotas do coletivo se apoiam umas nas outras, dão suporte e muito amor, coisas que nem toda adolescente geek encontra tão facilmente. A jornalista conta que, antigamente, o jovem nerd era ainda mais julgado e estereotipado! “Não éramos da turma do oba-oba, do fundão, do Carpe Diem, da Vida Loka. E, por isso, éramos zoados. Hoje, sinceramente, isso já não acontece muito. O que eu acho sensacional! Eu sonhava com um mundo em que qualquer pessoa pudesse entender minhas referências, onde eu pudesse citar algo como ‘Luke, I’m your father’ e todos caíssem na risada “.
A jornalista já escutou as mais horrorosas ofensas por ser nerd e gostar de quadrinhos. Ela já ouviu que isso era coisa de crianças e que uma mulher madura não perderia tempo com gibis. Já escutou também que era lésbica – como se isso fosse uma ofensa – , só porque curtia HQ’s de heróis . A verdade é que não importa o tipo de questionamento, vai ter sempre alguém prontinho para implicar com o fato de você ser adolescente e nerd, garota e nerd, bonita e nerd. Como se essas coisas, juntas, se anulassem. Não! Tais implicâncias devem entrar por um ouvido, fazer você sentir ainda mais orgulho dos seus gostos, e sair por outro. “Seja fiel a você mesma. Não tente se adequar ao que o mundo quer. O diferente não é ruim. Ele se destaca no meio de um oceano cinza de mesmice “, lacra – mais uma vez – Gabi, que tem um último recado para aqueles “minos” que acham que as minas só são nerds ou geeks para agradá-los ou para fazer sucesso nas redes sociais:
FATALITY !!!