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O caso dos torcedores brasileiros que assediaram uma russa durante a Copa

Também conhecido como o caso dos 'zoados' que usaram termos machistas para 'zoar' uma mulher que não entendia nada do que eles estavam falando.

Por Isabella Otto Atualizado em 19 jun 2018, 13h06 - Publicado em 18 jun 2018, 16h04

No último sábado, 16, um vídeo desconfortante começou a circular nas redes sociais. Ele mostra alguns torcedores brasileiros se aproveitando do fato de uma mulher russa não entender o idioma falado por eles para entoar gritos de “buc%t@ rosa” para a câmera do celular. A moça, apenas baseando-se na entonação dos rapazes, entrou no clima “de festa”, pois, aparentemente, achou que eles estavam falando alguma coisa divertida – mas nem deve ter passado pela cabeça dela que fosse, na realidade, bastante e somente ofensiva.

Reprodução/Reprodução

Um dos homens que aparece no vídeo foi identificado por alguns internautas como sendo Diego Valença Jatobáex-secretário de Turismo de Ipojuca (PE), condenado pelo TCE por ilegalidades durante o mandato. O advogado bloqueou sua conta no Instagram depois da polêmica, mas era possível ver nela altas fotos de ele ostentando e se divertindo na Rússia.

Abaixo, é possível conferir o vídeo que está viralizando na internet. Que bom, porque machistas precisam ser expostos. Que ruim, porque uma situação de assédio como essa continua a ser vista por várias pessoas como uma “brincadeirinha”.

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Nesse outro vídeo, é possível ver a filmagem de outro ângulo. A mulher está visivelmente desconfortável no início da gravação, mas entra aos poucos na onda dos rapazes, que opressivamente a encurralam e a assediam. Ela, que não estava entendendo nada, tenta repetir as expressões ditas pelo grupo. É claro que essa não é a melhor reação que ela poderia ter tido, mas quando você se vê no meio de uma rodinha de caras que falam um idioma que você não entende e te encurralam para um vídeo, fica difícil agir de forma contrária, por mais constrangida e envergonha que você esteja.

É possível perceber também que alguns homens que estavam perto, mas que não necessariamente faziam parte do grupinho de amigos, entra na onda dos outros e se expõe ao ridículo também. Por que eles fazem isso? Na verdade, é um comportamento comum. Você já deve ter reparado que, quando estão em bando, os homens podem se comportar de maneira bastante diferente do que quando estão sozinhos. É natural, todos nós mudamos dependendo da situação. Mas os homens tendem a fazer comentários preconceituosos e misóginos por conta da herança cultural machista da nossa sociedade. Não significa que isso seja uma espécie de defesa, até porque o que esses caras fizeram é, além de indefensável, vergonhoso. Vergonhoso para eles, para a família deles, para os amigos, para os contatinhos do WhatsApp… Se é vergonhoso para a mulher russa? Jamais. Ela é mais uma vítima do machismo que insiste em culpar a pessoa do sexo feminino pelo ocorrido. É vergonha para os homens, é vergonhoso para o Brasil, é vergonhoso para os torcedores brasileiros, mas não é vergonhoso para a mulher.

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No Instagram, mulheres já se pronunciaram sobre o caso. “Não é engraçado. É machismo. Misoginia”, escreveu a atriz Bruna Linzmeyer. A professora Ayla Viçosa também opinou: “uma destilação de racismo, machismo, misoginia, assédio e cultura do estupro. A vitória que o Brasil precisa ter com urgência nessa copa é contra o machismo”. Talvez o mais assustador mesmo seja o fato de os rapazes em questão filmarem o que estavam fazendo e depois compartilharem a filmagem como se fosse a coisa mais natural e divertida do mundo! Mas será que é tão assustador assim, vide novamente a sociedade em que vivemos? O machismo não é só velado como reproduzido, inclusive, por mulheres. É só dar uma bela olhada no print abaixo, tirado do Twitter, para ter certeza de que a discussão ainda é longa e necessária:

Reprodução/Reprodução

Por que os homens, quando em bando, têm essa fixação por falar sobre os órgão sexuais femininos? Por que algumas mulheres ainda acham isso engraçado? Há diversas explicações para isso, mas todas partem de um mesmo ponto: a cultura patriarcal de nossa sociedade, que estimula desde cedo e sempre os meninos a serem conquistadores, sem pudores, “másculos”, e as meninas a aceitaram comentários do tipo “buc%t@ rosa”. Não mais!

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Segundo fontes, a Embaixada Russa no Brasil já teria recebido o pedido de deportação dos assediadores, mas isso só pode realmente acontecer se a moça do vídeo der queixa na polícia. Que todos os assediadores, não apenas o que já foi identificado, sejam punidos e que não mais compactuemos com a cultura do estupro.

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