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Por que a Ana Maria Braga não deveria ter usado uma peruca black power?

'A peruca só reforça estereótipos da nossa raça que foram ridicularizados ao longo da história', opina nossa colunista Ana Carolina Pinheiro.

Por Ana Carolina Pinheiro Atualizado em 28 Maio 2018, 11h26 - Publicado em 26 Maio 2018, 16h30

O programa Mais Você, da Rede Globo, mostrou uma matéria sobre cabelos afro na última quarta-feira, 23, mas a Ana Maria Braga e o Louro José, definitivamente, prestaram um desserviço ao aparecerem de peruca black power durante a abertura com a tradicional frase: “acorda, menina!”. Na sequência, a apresentadora falou que achava lindo o penteado e que não entendia o porquê de “as moças e os rapazes negros alisarem o cabelo”. Em seguida, o programa colocou no ar uma matéria explicando a história de luta, resistência e identidade que o black representa para nós, negros.

Reprodução/Reprodução

Na década de 20, o ativista jamaicano Marcus Garvey falava aos negros sobre a importância da nossa conexão com as raízes africanas e da quebra do padrão de beleza europeu ao usarmos nosso cabelo natural. Os ideais de Marcus foram essenciais para que ainda mais cabelos afro começassem a circular por aí, mas não dá pra fechar os olhos e desconsiderar a pressão que os negros já sofreram (e ainda sofrem) por conta disso. Mesmo com uma aceitação cada vez maior dos cabelos crespos e cacheados, sabemos que não vai ser do dia para a noite que todos vão se libertar dos padrões que já nos foram tanto impostos.

Podemos e usamos o cabelo da maneira que achamos mais confortável, e isso não quer dizer que você é mais ou menos negro ao alisar o cabelo, por exemplo. É claro que é essencial entender a maneira como isso impacta na sua vida e, principalmente na sua autoestima. Lembre-se, porém, que essa é e sempre será uma decisão apenas sua.

Conversei com a estudante Sophia Mattos, que usa o cabelo black power, para saber o que ela achou da polêmica. “Eu não vejo problema de ter matérias desse tipo e trazer negros para falar sobre a vivência, mas me incomoda uma apresentadora branca usando uma peruca black power. O cabelo loiro e liso nunca foi visto como algo pejorativo como o cabelo afro”, diz Sophia.

Ver um tema como esse na televisão é superimportante! O fato de usar um acessório para tentar reforçar que “acha bonito o cabelo afro”, entretanto, não funciona. Pelo contrário! A peruca só reforça estereótipos da nossa raça que foram ridicularizados ao longo da história. Se a ideia era valorizar o cabelo afro, a melhor opção seria levar uma pessoa negra ao programa para mostrar as técnicas de penteado, por exemplo.

A representatividade negra na mídia é um assunto que está sempre presente aqui na coluna O Nosso Lado da História. Além de reforçar que a cultura negra e as questões raciais devem ser mais discutidas, espero que esses temas sejam abordados com respeito. Perguntar por que não existe um funcionário com cabelo afro na produção e dar risada, como a apresentadora fez no programa, não é um bom jeito de lidar com o assunto.

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Vale lembrar que estamos em um processo, que já era para ter começado há muito tempo, de desconstrução e quebras de alguns estereótipos. Por isso, a busca por informação e opinião de um grupo de pessoas que vai ser retratado em uma matéria é tão importante! E podemos levar isso para várias situações, como no trabalho da escola ou até durante uma conversa com os amigos. É o tal lugar de fala, sabe?

Aliás, você tem alguma dúvida sobre lugar de fala, conceito que busca dar espaço e visibilidade às pessoas que sofrem preconceito? Se sim, envia um e-mail para anacarolipa16@gmail.com ou deixa sua pergunta nos comentários para eu responder aqui na coluna, combinado?

Beijos
@anacarolipa

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