aúde mental é um tópico frequente no TikTok, mas, recentemente, uma trend gerou polêmica e discussão. Se você buscar “gravei minha terapia” na rede social, vai se deparar com vídeos de jovens que filmaram trechos de suas conversas com seus psicólogos. Nos comentários, um questionamento pertinente surgiu: essas gravações não ferem os princípios de sigilo estabelecidos na psicologia?
Para entender melhor os argumentos, conversamos com a Marina Poniwas, psicóloga e conselheira do Conselho Federal de Psicologia, além de presidente eleita do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda).
Ela explica que, segundo o Código de Ética da Psicologia, o profissional tem o o dever ético de proteger a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas atendidas. Essas regras não são direcionadas aos pacientes, mas trata-se de uma relação de prestação de serviços em que existem direitos e deveres estabelecido entre ambas partes. “O processo psicoterapêutico é construído em uma relação de confiança entre a pessoa atendida e o profissional”, defende a conselheira. Gravar a terapia sem permissão do psicólogo ou psicóloga pode quebrar esse vínculo de confiança.
Outro problema é que ter uma câmera “observando” toda a sessão de terapia pode atrapalhar a naturalidade da conversa. “O processo psicoterapêutico visa a promoção de saúde e qualidade de vida, não possui mecanização e padronização, não é roteirizado. A espontaneidade é fundamental para a construção do vínculo e para que a psicoterapia alcance seu objetivo”, diz Marina.
Vale mesmo a exposição?
A principal justificativa para a trend é que gravar a sessão de terapia pode ser uma ferramenta produtiva de reflexão, ou seja, você pode assistir depois para lembrar o que foi dito e refletir. Mas por isso vale postar algo que pode ser tão íntimo? “Estamos vivendo em uma sociedade em que a exposição, nas redes sociais, tem sido naturalizada. Na atualidade, a produção de perfis buscando engajamento tem ultrapassado os limites entre o público e o privado”, destaca a psicóloga.
Caso o paciente sinta a necessidade de ter registrado seu processo, separar um caderno ou diário para fazer anotações depois da sessão de terapia, destacando o que mais tocou e mexeu durante a conversa pode ser uma ótima saída. A escrita, inclusive, pode ajudar a clarear as ideias e desenvolver criatividade para lidar com os problemas.
Lembre-se sempre: a sessão de terapia deve ser um espaço acolhedor e de confiança para cuidar da saúde mental.