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Precisamos falar sobre exclusão amorosa de garotas negras e ‘palmitagem’

O amor realmente não tem cor? Nossa colunista Ana Carolina Pinheiro conversou com meninas negras sobre a questão racial nos relacionamentos amorosos.

Por Ana Carolina Pinheiro Atualizado em 29 set 2018, 10h01 - Publicado em 29 set 2018, 10h01

Redes sociais, canto da festa ou um lugar que não tenha conhecido por perto. Essas opções parecem boas escolhas para ficar à vontade com aquela pessoa que rola uma troca de interesses, né? Às vezes, a pressão dos amigos e a curiosidade de quem está por perto podem dar uma intimidada e os espaços mais reservados dão aquele empurrãozinho pra conversa fluir – e terminar até em uns beijos. Mas e quando já estamos há um tempo com a pessoa e ela só quer ficar com você escondido?

iStock/Drazen_/Reprodução

Não por coincidência, é comum encontrar garotas negras, principalmente as que se relacionam com meninos, que já viveram esse tipo de situação. Os motivos que levam algumas pessoas a não assumirem um relacionamento sério com a gente são diversos. Um exemplo é a “palmitagem”, expressão usada para homens negros cis hetéro que se relacionam com mulheres brancas. Em certos momentos, esses homens negros até querem se relacionar com negras, mas desde que seja “sem compromisso” ou longe dos olhares dos outros. Ah! Vale lembrar que, mesmo com seu privilégio em relação ao gênero, o homem negro também é vitima do racismo, só que reproduz esse comportamento que é reflexo do padrão de beleza imposto na sociedade.

Para Mel Nascimento, produtora de moda, a cor da pele não interfere na hora de se atrair por alguém, mas ela sabe que nem todos pensam assim. “O mundo sempre mostra que a loira do olho azul é mais bonita e atraente do que a negra. Acho que isso faz com que muita gente pense isso de fato, sabe? Além disso, tem o preconceito com a própria pele mesmo. Eu já ouvi comentário do tipo: ‘não quero ter filho preto, o cabelo vai nascer daquele jeito‘. Foi em tom de brincadeira, mas é aquilo, tava na cabeça dela, né?”, comenta Mel.

Outro ponto que afasta as garotas negras de um relacionamento sério, principalmente com garotos brancos, é a sexualização do nosso corpo. A origem desse pensamento vem do período da escravidão, época em que as mulheres negras escravizadas eram assediadas e até estupradas pelos homens brancos livres. Ou seja, com essa “ideia” de objetificação, alguns caras se aproximam no intuito de “matar a curiosidade” de ficar com uma garota negra e depois se desfazem, como se fossemos um brinquedo. É péssimo!

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iStock/Stígur Már Karlsson /Heimsmyndir/Reprodução

A Dayane Natale, estudante, conta como conseguiu superar esse tipo de relacionamento. “Eu já fiquei com um menino que só ficava comigo escondido. Na época, eu não via tanto problema, mas depois percebi que não precisava disso. Ele foi escroto comigo quando disse que não queria continuar assim e ainda repetiu com outras meninas também. Agora sou bem mais resolvida. Meus gostos mudaram e não dou nem oportunidade para fazerem isso comigo de novo. Tem muita menina que não percebe ou acha normal, só que não temos que passar por isso, já que tem gente, sim, que nos valoriza do jeito que somos“, comenta Day.

Vale lembrar que nada disso é uma regra. Não são todas as meninas negras que passam por esse tipo de situação nem são todos os caras que nos tratam desse jeito. Relacionamento amoroso não é sinônimo de felicidade, mas amor-próprio é. Por isso, falar sobre esse assunto pode ajudar quem já passou ou está passando por experiências parecidas a superar essa exclusão, assim como a Day conseguiu. Não esquece que você merece uma relação que tenha respeito. Às vezes, no desejo de não estar só, aceitamos migalhas e perdemos a melhor oportunidade de todas que é conviver bem com a gente mesmo. E, consequentemente, escolher quem pode estar do nosso lado.

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Se você quer contar a sua experiência sobre relacionamentos ou sugerir um tema para a coluna O Nosso Lado da História, é só escrever aqui nos comentários ou mandar um e-mail para anacarolipa16@gmail.com.

Beijos e até a próxima,
@anacarolipa

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