Saudade. Talvez uma das palavras mais pesadas do nosso vocabulário. Sete letras capazes de nos fazer sentir coisas que nem sempre queremos. Mas também uma das palavras mais gostosas, que desperta sentimentos de ânsia, nostalgia, desejo, paz e gratitude.
A ciência separa a saudade em quatro tipos: a presente, a nostálgica, a magoada e a insana. Vanessa Gebrim, especialista em Psicologia Clínica pela PUC de SP, explica mais sobre elas: “A saudade presente é a saudade do hoje. Por exemplo, se hoje estou com pessoas que gosto e sei que amanhã não estarei mais, já começo a sentir saudade delas. Já a nostálgica está ligada ao passado e a momentos que não voltarão. Situações que aconteceram na infância, na escola, na faculdade, com alguma pessoa especial, que você fica revivendo na cabeça”, conta.
A saudade magoada é aquela que normalmente é deixada por um fim sofrido de relacionamento. “É uma saudade ressentida, daquilo que não deu certo e que não vai acontecer de novo”. A insana é aquela “saudade daquilo que a gente não viveu”, como diria o Neymar. “Uma casa que sonhamos, uma viagem, um amor que não chegou… Qualquer coisa que ainda não aconteceu”, esclarece a Dra. Gebrim.
SE NENHUMA SAUDADE É IGUAL, COMO LIDAR COM ELA?
Apesar de ser um sentimento que todo mundo sente, e das semelhanças entre ele, os quatro tipos de saudade são sentidos de maneiras e intensidades diferentes pelas pessoas. Ou seja, a saudade é particular e relativa.
Contudo, existem algumas formas de suavizar esse sentimento. As principais são:
- ressignificar o processo, entendendo que a saudade não precisa ser necessariamente ruim, mesmo que, por ora, remeta a lembranças doídas;
- entender que finais de ciclos representam sempre um recomeço;
- desapegar-se do desejo de viver sempre as mesmas coisas, principalmente nos relacionamentos;
- fazer um tratamento psicológico, quando a saudade machucar demais e por muito tempo.
“Na vida, as coisas abrem e fecham. Não é necessário viver a mesma coisa sempre. Para cada final existe um recomeço e é saudável sentir saudade, mas como uma memória das coisas boas“, aconselha a psicóloga.
SAUDADE X LUTO
Vanessa Gebrim explica que a saudade faz parte do processo de luto e que, assim como ele, a tendência é que a dor diminua e se transforme com o tempo. “Se isso não acontecer, a saudade pode indicar um luto patológico, que deve ser trabalhado em um consultório médico. Por isso, é importante se lembrar das boas recordações, que servem como um combustível em um processo de luto e ressignificação”, alerta a especialista.
Por isso, tudo bem se proteger de memórias por um período de tempo, seja evitando pensar em determina coisa ou pessoa, seja guardando fotos e objetos, seja deixando de escutar certas músicas… Depois de um tempo, e da ressignificação, muito provavelmente todas essas memórias vão ser naturalmente retomadas de um modo mais saudável, com menos sofrimento e mais sensação de: “Poxa, que legal que eu vivi isso!”.
É interessante – e reconfortante – também saber que é comprovado cientificamente que se lembrar de memórias boas estimula o cérebro a reagir. Quando só focamos nas lembranças ruins ou que nos fazem sofrer, a melancolia pode prender a gente em um ciclo de dor e angústia. Nem toda saudade é doída, nem toda saudade dói para sempre. Ela pode (e, provavelmente, ainda vai) eventualmente acabar trazendo uma sensação de acolhimento.