Representatividade negra na mídia: estamos evoluindo ou andando para trás?

Ana Carol Pinheiro, nossa colunista em 'O Nosso Lado da História', reflete sobre a polêmica em torno da novela Segundo Sol, da Globo

Por Ana Carolina Pinheiro Atualizado em 5 Maio 2018, 11h19 - Publicado em 5 Maio 2018, 11h19

A combinação de fama, sucesso e diversão vivida pelos protagonistas, Lázaro Ramos e Taís Araújo, da série Mister Brau, da Rede Globo, foi uma aposta necessária para a televisão brasileira. A série veio na contramão de todos os estereótipos de personagens representados por atores negros: o bandido, a funkeira, a empregada doméstica, o segurança… Antes, era como se nós, negros, só pudéssemos interpretar esses papéis.

Taís Araújo e Lázaro Ramos na série ‘Mister Brau’. Cesar Alves/Divulgação

Além de colocar os negros em uma posição de destaque, Mister Brau ainda consegue passar mensagens importantes sobre racismo e empoderamento feminino, por exemplo, sem deixar de lado o tom leve da série. Uma prova de que é possível tratar desses assuntos fortes independente do estilo do seriado, novela, filme ou propaganda.

É verdade que outras produções mais representativas também estão aparecendo, como Malhação – Vidas Brasileiras, Pantera Negra, How to Get Away With Murder e Dear White People. Porém, uma polêmica recente envolvendo a próxima novela das 21h da Rede Globo, Segundo Sol, do autor João Emanuel Carneiro, nos mostrou como ainda falta muito para que a inclusão seja algo comum na televisão brasileira.

Ambientada em Salvador, cidade com a maior população negra fora da África, a novela tem pouquíssimos atores negros no elenco. Ou seja, a conta não bate, já que, segundo dados do IBGE do ano de 2013, 76% dos habitantes da capital baiana se declararam pretos ou pardos. A falta de representatividade foi tão absurda que os comentários de indignação não tiveram como passar batido.

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Emílio Dantas e Giovanna Antonelli em cena da novela ‘Segundo Sol’. João Cotta/Globo

Segundo nota divulgada pelo site HuffPost Brasil, a emissora explicou que usa critérios técnicos e artísticos para escolher o elenco. “A Globo não pauta as escalações de suas obras por cor de pele, mas pela adequação ao perfil do personagem, talento e disponibilidade do elenco. E acredita que esta é a forma mais correta de fazer isso”.

A ausência de representatividade negra na mídia é um problema que vai além da falta de oportunidade para os profissionais negros. A psicóloga Marlene Oliveira explica: “Quando uma etnia ou cultura é desvalorizada, desconsiderada ou mesmo oculta, fica muito difícil para a pessoa se reconhecer como ser desejante”. Por isso, o fato de não se enxergar na mídia pode trazer problemas como baixa autoestima, insegurança e outros transtornos psicológicos.

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Para driblar essa falta de pertencimento, uma dica para nós, negros, é acompanhar produções que buscam mais diversidade racial. A sensação de se enxergar na TV, no cinema e na internet é inspiradora e emocionante.

Vamos torcer para que a discussão incentive outras produções a terem mais profissionais negros. E que essa mudança não seja apenas para cumprir uma cota, mas, sim, por uma questão de consciência e empatia, promovendo mais oportunidade e representatividade.

Em nota enviada à nossa equipe, a comunicação da empresa reconheceu a falta de representatividade da produção: “Uma história como a de Segundo Sol, também pelo fato de se passar na Bahia, nos traz muitas oportunidades e, sem dúvida, reflexões sobre diversidade na sociedade, que serão abordadas ao longo da novela, que está estruturada em duas fases. As manifestações críticas que vimos até agora estão baseadas sobretudo na divulgação da primeira fase da novela, que se concentra na trama que vai desencadear as demais. Estamos atentos, ouvindo e acompanhando esses comentários, seguros de que ainda temos muita história pela frente. De fato, ainda temos uma representatividade menor do que gostaríamos e vamos trabalhar para evoluir com essa questão”.

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@anacarolipa

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