Suas dores são válidas e você pode compartilhá-las com seus pais
Criar uma relação legal dentro de casa também é sua responsabilidade

série Adolescência, fenômeno da Netflix, reforçou o que Carolina Delboni, educadora e especialista em comportamento adolescente, sempre alertou por meio do seu trabalho: a necessidade de encurtar a distância entre os pais e os filhos jovens. Muitas vezes, os mais velhos não conseguem dialogar com a nossa galera e parecem não entender as questões e dilemas da juventude – essa é um responsabilidade deles, sim. Mas aqui vai uma provocação para vocês, leitores da CAPRICHO: será que nós, os filhos, também estamos abertos para esse diálogo?
Carolina defende que, assim como os pais precisam compreender seus filhos, os adolescentes precisam compreender as ações e os comportamentos dos pais. “Eles já viveram muito mais tempo e são capazes de olhar algumas situações em que o adolescente está inserido e prever algumas coisas que ele ainda não é capaz”, diz. “É importante compreender que quando um pai, mãe, avó traz um contraponto ou diz ‘não’, eles estão fazendo isso porque amam e se preocupam”, completa.
É claro que vão existir divergências, muitas geracionais inclusive, mas isso não significa que existe uma batalha dentro de casa. Você pode expor sua opinião, discordar dos seus pais, não entender muitas coisas, assim como não há problema dos pais se mostrarem vulneráveis para seus filhos (fica a dica!). Para manter o vínculo e construir uma relação de confiança, ambas as partes precisam se comunicar, escutar e ter um olhar atento e sem julgamento.
Isso inclui pedir ajuda, viu? É verdade que a juventude é taxada, muitas vezes, como dramática e intensa demais, e isso desmotiva os jovens a desabafarem e pedirem ajuda. Por esse motivo também muitos acabam recorrendo à tecnologia: estudos mostrando um número grande de adolescentes que usam chatbots de inteligência artificial para conversar como se fosse um amigo ou um psicólogo.
“Existe um medo muito grande dessa geração das informações vazarem. Então, eles usam essas plataformas para dizer como estão se sentindo porque vão ser escutados sem julgamento e ainda não correm o risco daquela informação se espalhar para ninguém”, analisa a especialista. E alerta: “Mas não tem a preocupação de que ao fazer isso estão alimentando uma inteligência artificial com seu próprio conteúdo”.
Você não precisa passar por tudo sozinho!
Carolina orienta que, assim como pedimos ajuda para uma dor de cabeça ou para uma lesão no tornozelo, precisamos pedir auxílio em relação aos machucados do campo emocional. É importante conversar sobre os sentimentos e desabafar quando se sentir para baixo. “Como a alegria, a tristeza é eventual na nossa vida. O problema é quando ela se torna uma emoção constante e frequente, indicando que algo está errado”, ressalta.
Precisamos colocar o campo das emoções nesse lugar de naturalidade, assim como a fazemos com as questões relacionadas ao corpo físico. E pedir ajuda é uma forma de fazer isso.
Carolina Delboni, especialista em comportamento adolescente
No livro unca foi tão sofrido ser adolescente”. Além dos desafios comuns a essa fase ― os hormônios, o luto pela infância, a necessidade de se diferenciar dos pais e de pertencer a um grupo ―, a especialista e mãe de três jovens ressalta o contexto atual em que a tecnologia tem um papel central na juventude.
lançado neste mês, Carolina afirma que “n“Todas as décadas tem suas questões, seus problemas e suas dificuldades, só que nunca tivemos a complexidade de mundo que vivemos hoje”, analisa. “É possível abrir quantas abas a gente quiser na tela do computador – ele vai suportar. Isso é o cérebro de um adolescente hoje. Todas as janelinhas estão abertas e logadas o tempo todo”, completa.
O problema é que, muitas vezes, não temos as condições psicológicas e emocionais para lidar com essa amplitude de mundo, e acabamos adoecendo – principalmente se não tivermos o apoio e suporte necessário.
Então não é exagero dizer também que nunca foi tão necessário dialogar com os pais e pedir ajuda.
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