Varíola dos macacos: entenda por que surto da doença não deve criar pânico
Casos novos da infecção erradicada preocupam, mas não apresentam altos riscos. Saiba mais sobre a varíola dos macacos, seus sintomas e tratamentos
No dia 8 de junho, o primeiro caso de varíola dos macacos foi confirmado no Brasil, em São Paulo. O Ministério da Saúde não deu mais informações sobre o paciente, só informou que ele é um homem branco, de 41 anos, que voltou recentemente de uma viagem internacional.
Por ora, são sete os casos suspeitos em observação. Segundo a pasta, os pacientes “seguem isolados e em recuperação, sendo monitorados pelas equipes de vigilância em saúde. A investigação dos casos está em andamento e será feita coleta para análise laboratorial”.
Em 1958, a varíola dos macacos foi descoberta por cientistas, mas o primeiro caso registrado em humanos ocorreu apenas em 1970, na República Democrática do Congo.
Por se tratar de um vírus que é mais transmissível entre animais, e menos entre humanos, ele ficou silencioso por cerca de 40 anos, até que, em 2017, na Nigéria, um novo caso de infecção humana foi relatado.
Recentemente, a OMS (Organização Mundial da Saúde) alertou sobre um surto que está ocorrendo fora do continente africano. Onze países da Europa, além de Canadá, Estados Unidos, Austrália e Israel, já registraram casos, sendo que um deles acometeu um brasileiro que mora na Alemanha.
Mas o que causa a tal varíola? Ela é perigosa? Estamos prestes a vivenciar uma nova pandemia? Respondemos estas e outras dúvidas a seguir.
O que é a varíola dos macacos?
É uma doença rara autolimitada causada por um vírus do gênero ortopoxvírus, que possui um dos DNAs mais resistentes da história. A diferença é que a varíola humana é mais transmissível entre seres humanos, enquanto a dos macacos e a bovina são mais transmissíveis entre animais – mas há casos de infecções no homem, como estamos acompanhando atualmente.
A varíola humana é também mais perigosa – ou já foi um dia, uma vez que ela é considerada erradicada pela OMS desde 1980, devido ao sucesso da vacina. A taxa de morte é de 30%. Já o índice de mortalidade da varíola dos macacos fica entre 3% e 6%.
O fato da doença ser autolimitada indica que o paciente normalmente sara sozinho, mas que medicamentos antivirais podem ser administrados para aliviar os sintomas.
Como ela é transmitida?
A principal forma de contágio é através de gotículas contaminadas de saliva e pelo contato com as lesões de pessoas ou bichos infectados, como explica o Instituto Butantan.
Como o período de incubação do vírus pode variar de 6 a 21 dias, o indicado é que o paciente fique de quarentena durante três semanas, acompanhando a evolução do quadro.
Há relatos de pessoas que foram contaminadas durante esse surto atual fazendo sexo desprotegido. Ou seja, através do contato com fluídos contaminados. A OMS, contudo, não classifica a doença como uma IST (Infecção Sexualmente Transmissível).
Quais são os sintomas?
Como a maioria das infecções virais, os primeiros sintomas são febre alta, dor de cabeça e no corpo, especialmente nas costas, e inflamações nos nódulos linfáticos.
Assim como a humana, a varíola dos macacos causa erupções na pele, que se assemelham a pequenas bolhas que explodem e formam casquinhas depois. Antes delas aparecerem, o paciente sente muita coceira, que tende a vir acompanhada de dor.
Qual é o tratamento?
Não existe um tratamento universal e específico para a varíola, sendo que antivirais são administrados para suavizar os principais sintomas.
Entretanto, é interessante contar que, em 2018, a FDA (Food and Drug Administration), agência reguladora norte-americana, aprovou o primeiro medicamento contra o vírus da varíola.
Chamado Tecovirimat, no início deste ano, ele foi autorizado também em Portugal, pela EMA (Agência Europeia do Medicamento), embora ainda não seja comercializado.
Até hoje, apenas uma pessoa fez uso do medicamento – uma vez que ele foi testado apenas em animais na fase laboratorial. O caso ocorreu em 2018, em San Diego, na Califórnia, e foi divulgado pelo jornal Morbidity and Mortality Weekly Report.
Na ocasião, uma funcionária laboratorial de 26 anos acabou injetando sem querer o vírus em si mesma enquanto realizava testes em camundongos. Como ela havia se recusado a tomar a vacina contra a varíola antes de começar os estudos, foi submetida ao uso do Tecovirimat pela gravidade do quadro.
O medicamento foi combinado a outros antivirais e apresentou bons resultados. O caso, contudo, reforça a importância de campanhas de vacinação.
Hoje, a vacina contra a varíola é a principal forma de prevenção da doença.
O surto de varíola dos macacos é preocupante?
Não deixa de ser, afinal é o maior surto da zoonose silvestre fora do continente africano já registrado. Contudo, especialistas garantem que não há motivo para pânico.
Além da varíola dos macacos ter baixa transmissibilidade entre humanos, a taxa de mortalidade da doença é baixo – ainda mais quando a vacinação está em dia.
“Não há motivo para pânico, tem vacina, remédio e pode ser contida(…) A vacina da varíola humana protege contra a varíola de macaco. Mas vale lembrar que as pessoas nascidas depois de 1979 no Brasil não foram vacinadas porque este foi o último ano antes da declaração de erradicação. A varíola é a única doença humana erradicada no mundo e a OMS a classificou dessa forma globalmente em 1980. Alguns países pararam de vacinar até antes”, explica Clarissa Damaso, médica virologista e membro do comitê da OMS, ao jornal O GLOBO.
Mas, calma, não é necessário se desesperar e correr para o posto de saúde, tá? Por ora, a vacinação contra a varíola é aconselhada para pessoas que vão aumentar seu risco de exposição ao vírus, seja fazendo uma viagem, seja trabalhando em um laboratório ou hospital.