Vitiligo: especialista derruba estigmas sobre a doença da Natália do BBB22
A dermatologista Patrícia Mafra conta que muita gente ainda acredita que o vitiligo seja contagioso ou grave
Aos 9 anos, Natália Deodato, uma das participantes do BBB22, foi diagnosticada com vitiligo e começou a escutar coisas do tipo: “Ninguém nunca vai te amar, porque você é manchada”. Na mesma hora, ela passou a travar uma batalha contra um dos maiores vilões do ser humano: a baixa autoestima.
Em entrevista para a CAPRICHO, a Dra. Patrícia Mafra, dermatologista membro titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia e graduada em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, tira as principais dúvidas sobre a doença, fala de suas consequências para a autoimagem dos pacientes e quebra alguns estereótipos ligados a patologias dermatológicas.
1. Quais são as causas do vitiligo?
A ciência ainda não identificou causas específicas. Acredita-se que possa ser uma doença autoimune com origem na ação de fatores externos em pessoas com uma predisposição genética.
2. Quais são as principais diferenças entre o vitiligo segmentar ou unilateral e o não segmentar ou bilateral?
A grande maioria das pessoas portadoras de vitiligo apresenta o quadro não segmentar ou bilateral. Significa que a doença afeta ambos os lados do corpo. Geralmente, a área da pele afetada também vai aumentando com o tempo. A minoria, cerca de 10% dos casos, é diagnosticada com o tipo segmentar ou unilateral. Significa que a doença normalmente afeta apenas um lado do corpo e a área não costuma aumentar com o passar dos anos.
3. O vitiligo é comum entre adolescentes? Como identificá-lo?
O vitiligo é uma doença que afeta cerca de 1% da população mundial, ou seja , não é rara, mas também não é muito comum. Da parcela afetada, metade desenvolve a condição antes dos 20 anos de idade – e a maioria antes dos 40. Então, sim, é uma doença que surge em uma idade mais jovem.
O vitiligo se manifesta inicialmente com manchas hipocromicas, que são mais claras que a pele e que evoluem para manchas acromicas, ou seja, totalmente sem cor devido à ausência de melanina. O diagnóstico é clínico, dado pelo histórico e pelas manifestações da doença. A biópsia de pele é necessária para confirmação do quadro, evidenciando a ausência total de melanina nas células.
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4. O vitiligo tem cura?
Não, mas há tratamentos que podem funcionar muito bem!
5. Quais são os tratamentos?
Há diversas opções terapêuticas para o controle das manchas. A mais comum é o tratamento tópico ou oral a base de corticosteroides e imunomoduladores, aliada a uma terapia chamada PUVA. Nela, o paciente entra numa espécie de cabine e recebe raios UVA na pele, anteriormente já sensibilizada por uma substância chamada psoraleno, seja por uso tópico ou oral. O tratamento pode ser realizado de duas a três vezes por semana e inibe o crescimento das manchas.
Outras opções de procedimentos são o enxerto de pele e a remoção química de todo o pigmento dela, para que fique uniformemente branca. Porém, esses tratamentos, especialmente o segundo, apresentam riscos, uma vez que a melanina está lá para proteger nossa pele. As terapias psicológicas também têm mostrado bons resultados, já que o estresse pode ser um fator desencadeante ou de piora da doença.
6. No BBB, um participante insinuou que o vitiligo da Natália é emocional, quase como se ela pudesse controlá-lo com terapia, por exemplo. É perigoso fazer uma afirmação do tipo? Por quê?
Algumas doenças podem ser desencadeadas ou exacerbadas pelo estresse, e o vitiligo é uma delas. Porém, este não é o único fator associado e quem não tem a predisposição genética para desenvolver a doença pode apresentar graus acentuados de estresse, mas nunca vai se desenvolver a enfermidade. Sessões de terapia, ou seja, o controle psicológico, podem ajudar, sim – mas é difícil afirmar que apenas isso será o suficiente para tratar e/ou controlar a doença.
7. Quais são os impactos da doença para a autoestima do jovem?
Eles podem ser grandes, uma vez que as manchas podem diminuir a autoestima e estigmatizar as pessoas. Elas costumam aparecer em lugares expostos, e isso cria um impacto visual bastante significativo. Ainda existe também uma desinformação grande por parte da população, que muitas vezes não sabe que o vitiligo não é uma doença contagiosa nem grave. Mas, como interfere na estética, é importante fazer um acompanhamento psicológico até para que a pessoa afetada tenha menos impactos relacionados à autoimagem.